A morte do comerciante Reginaldo Gobatto, conhecido na comunidade bento-gonçalvense como Regi, nos leva há vários questionamentos: porque ele foi atrás dos assaltantes se estava desarmado? porque não ligou para a polícia e monitorou os ladrões até onde eles iriam estar? porque não se resignou e foi até o plantão registrar uma ocorrência policial? Verdade seja dita: estamos chegando ao ponto que a sensação da impunidade nos leva a momentos de loucura, de ficarmos fora de si.
Regi já tinha assistido sem reagir sua lancheria ser assaltada outras três vezes. Como mandam os órgãos de segurança pública, entregou todos os pertences e o dinheiro de um dia inteiro de trabalho. Quem o conhecia sabe de sua luta para manter o seu negócio, iniciado com uma van de cachorro-quente. Neste ano, pensava em ampliar a lancheria onde tantas pessoas iam assistir jogos da dupla Gre-Nal. Estava preocupado em dar mais conforto a sua clientela.
Enquanto isso, do outro lado, homens com várias passagens pelo presídio, capazes de qualquer coisa por um trocado. O cidadão que efetuou o disparo, por sinal, recentemente havia saído do regime semiaberto, passando para prisão domiciliar. Não pensou duas vezes e foi resolver a vida da maneira mais fácil (para ele é claro).
Muitos não entendem os motivos que levaram o comerciante a perseguir os ladrões com seu automóvel. Mas é fácil de entender esta indignação toda quando percebemos que estamos em um país onde a polícia prende e, horas depois, o ladrão já está na rua, impune, rindo da cara dos policiais. E as vítimas do seu roubo novamente serão atacadas, pois ele sabe que o tempo de prisão será curto e logo mais adiante ele estará livre de novo.
Regi cansou de tudo isso. Esta é a impressão. Para quem era incansável por alcançar seus objetivos, ser alguém na vida e ter sucesso em seu empreendimento, é inadmissível alguém chegar do nada gritando “isso é um assalto” e levar aquilo que foi conquistado. Não vai faltar quem diga: pô, mas eram apenas R$ 1,6 mil.
Porém, pela atitude do comerciante, é nítido que não foi pelos pertences roubados ou pelo dinheiro levado. Foi um ato de quem estava cansado de ser atacado e não ver nada acontecer com os ladrões. A sensação de impunidade e indignação crescem de forma extrema e faz com que queiramos fazer a tal “justiça com as próprias mãos”. Claro que Regi não fez o certo, e acabou morrendo por isso. Mas para os amigos que o conheciam melhor é fácil entender que, se fosse possível voltar no tempo, ele faria a mesma coisa novamente.