Para a gente relaxar um pouco e esquecer as pressões internas e externas exacerbadas pela quarentena (já noventena), vamos lembrar as peraltices de nossos aluninhos em tempo de escola e que agora, no confinamento do lar, estão deixando os pais de cabelo em pé.

A história que vou contar é um pouco antiga, inclusive nosso personagem já cresceu, fez faculdade e acrescentou um “Dr” na frente do nome.

Ele se chamava Pedrinho.  Nascido de cinco meses, recebeu todos os cuidados e dengos possíveis e imaginários. Resultado: o baixinho, que não conhecia limites – nem os das grades – virou um problema para as escolas. Ainda na educação infantil, foi convidado a sair por várias vezes. No primeiro aninho e já na quarta instituição de ensino, o aluno acabou numa turma da pesada – além dele, mais sete capetinhas completavam a sala de quase trinta crianças.

Mas aí a escola recebeu nova pedagoga, de voz meiga e largo sorriso. Sendo a última a chegar, foi premiada com a turma que requeria tratamento especial. Recém-saída da Universidade, com Paulo Freire na ponta da língua, ela se propunha a construir um trabalho baseado na educação aberta, sem fronteiras.  Antes de transformar a teoria em prática, ela recebeu uma estagiária.

Logo a realidade se mostrou sem compaixão para a mestra que agia com paixão. O sonho virou pesadelo, e a sala de aula, uma baderna. Mas o problema foi resolvido com criatividade. Enquanto a titular cuidava da disciplina, pegando no colo a gurizadinha se necessário, a aprendiz ensinava o “be-a-bá”.

Um dia, Pedrinho superou a própria marca no livro dos recordes. Intimado a sentar na frente, ele ficou desassossegado: como é que manteria os pés no chão com tanto muro pra escalar? Para desafogar o trânsito de ideias, ele passou a rabiscar no caderno amassado. Com o canto do olho, a professora observava. De repente, uma gargalhada. Todos os olhares fitaram a mestra, que continuava a rir.  E, sabe como é isso: riso provoca riso, e logo se formou um coro. Alegria geral. O motivo? Até hoje, eles não sabem por que se estrebucharam de tanta risada, nem mesmo Pedrinho, que fora o estopim do evento.

-Aquilo foi bárbaro! – me garantiu a professora – Como xingar uma criança que, no segundo mês de aula, consegue formar uma frase completa?

Ah! A frase de Pedrinho:

“Profe cu de leite”.