Os leitores de minhas colunas e artigos devem estar lembrados das muitas vezes em que manifestei preocupação pela forma com que estavam – e ainda estão – sendo conduzidas as coisas no Brasil. As diferenças começaram a tomar um rumo complexo já em meados de 2010, quando as eleições presidenciais começavam a ser discutidas e os candidatos se apresentando. Dilma Rousseff foi indicado por Lula como candidata do PT à sucessão dele próprio. Começaram aí a serem lançadas na terra fértil da intolerância as sementes do ódio. Lula, que só venceu as eleições em 2002 por ter assumido o compromisso com os “donos do Brasil” (banqueiros, empreiteiros, grande empresários, usineiros e ruralistas) de que não mexeria no “status quo” em que o País sempre manteve, gestado, imposto, sustentado e mantido por essa gente, com o aval dos políticos que eles elegiam e da grande imprensa que cresceu muito a partir da ditadura militar-civil-midiática de 1964 a 1985, graças a essas alianças espúrias. As sementes do ódio, regadas diuturnamente por essa imprensa comprometida, ainda tiveram o potente “adubo” da internet, conhecido como “redes sociais”. O PT e o ANTIPT (que, insisto, são os únicos dois partidos hoje existentes) se valeram dessa ferramenta, a internet, e do ódio, com militantes regiamente remunerados para fazer com que grande parte da população que, reconhecidamente, não é muito afeita a leitura, a busca da informação e da conferência da veracidade dela, assumissem um dos lados, não com o sentimento da política como uma necessidade social, mas como trincheira para debates acalorados e ofensivos de suas errôneas ideias e palpites. Essas sementes do ódio, irracional, inconsequente, sem o menor sentido, germinaram e se multiplicaram nas eleições de 2014. O maniqueísmo, a dicotomia ficou escancarada e as eleições não terminaram no segundo turno. Aliás, não terminaram até hoje. Retomo, também, uma de minhas afirmações iniciadas em 1999, quando Olívio Dutra assumiu o governo do Estado. Na época passei a afirmar que o Brasil seria dividido inexoravelmente entre APT e DPT, ou seja, Antes do PT e Depois do PT, já que ficou claro, a partir de então, que os governantes eleitos passariam a ser cobrados pelas suas promessas de campanha. Sim, sei que as promessas não foram todas cobradas. Dilma fez promessas durante a campanha de 2014, em rede nacional de televisão, as quais não cumpriu. Sartori fez promessas que também não cumpriu, da mesma forma que tantos outros. As recentes manifestações nas ruas deixaram claro – a quem quisesse ver, obviamente – que há uma parte da população que quer acabar com a corrupção do PT e outra parte que insiste no “não vai ter golpe” e sequer menciona a corrupção. Quando, afinal, esse ódio todo dará lugar a manifestações da população que quer, realmente, acabar com TODA a corrupção, de todos os partidos, de todos os setores da administração pública e da sociedade como um todo? Somente quando isso acontecer poderemos esperar um Brasil melhor. Utopia? Penso que sim, mas é melhor ter esperanças, senão…