“Ela acordou dormindo, como de costume para uma segunda-feira. Se nega a sair da cama e enfrentar CINCO dias de pura decepção (ou seriam sete?). Um absurdo ver que já são seis da manhã dentro da escuridão tão quentinha do seu quarto. Naquele breve instante, enquanto levanta seu tronco, desengonçada, sente vontade de mergulhar na cama e não sair mais de lá. Sente isso só o tempo suficiente para se atrasar e não seguir a rotina o dia inteiro. Assim, as segundas começam como se fosse um dia off, uma folga para se recuperar. Do quê? Ela não sabe.


Apesar de todo esse drama, ultimamente as segundas-feiras têm lhe dado esperança. Depois que a cama praticamente a regurgita para esse mundo cruel, é obrigada a viver em sociedade. Tal qual uma engrenagem simples dessa máquina capitalista, por um momento, ela se compara a um robô. Do nada, se sente invencível e, como se tivesse absorvido uma dose de adrenalina, sonha alto, faz planos, bota a mão naquele projeto parado, responde os e-mails que ignorou no final de semana, e se pergunta por que simplesmente não está com a melhor roupa e se quer penteou o cabelo direito, COMO VAI CONQUISTAR O MUNDO ASSIM?


Se acalma, e promete que amanhã será diferente. Mas continua tentando fazer com que aquele dia, que começou meio torto, valha a pena.


Fica zonza com tantos pensamentos. Faz cálculos. Passa o resto do dia planejando seu império, elaborando testes de personalidade para o primeiro CEO da sua empresa e colocando no carrinho virtual passagens aéreas, uma bolsa térmica, uma sandália Schutz da promo e dois WheyProtein pelo preço de um.


Enfim chega o fim do dia. Os planos ainda são tantos, e tão bem arquitetados. Tem faxina, aula, leitura, tem job atrasado, hidratação no cabelo. Mas chega bem na hora da aula, cheia de sacolas, celular sem bateria, computador atualizando, marmita da mãe quentinha e cheirando e, tenta fazer seu máximo. Ela só queria ter um piso menos frio para poder andar de meias com seu iPad até a poltrona confortável na sacada e…de novo…
…pensa em desistir. Mesmo sem iPad e poltrona, seria menos doloroso só ficar em estado vegetativo a noite toda. Mas com um esforço sobre-humano, continua. Depois de algumas horas, ela ainda está presente na sala on-line, mas aproveita para ser multi tarefa, como sempre. Algo chama a sua atenção na aula. Um estudo de caso demonstra a facilidade de desistência como um detalhe importante a ser considerado quando se estuda personalidade.


Um soco na boca do estômago, mas finge que não é com ela. Ela escuta um “só continue remando, continue remando”.


Vai deitar com sentimento de dever cumprido e uma solidão que não cabe. Sente-se incapaz de aceitar que podem acontecer coisas boas. Está com a faca na mão. Sua cabeça arquiteta paranoias, inundadas de detalhes na vestimenta e diálogos estruturados, meu Deus como é criativa em tragédias e cenas fantasiosas para se autoinfligir.


Ela joga a faca fora na terça. Porque sente-se incapaz de ir atrás do seu queijo. Já teve muitos conceitos para as segundas-feiras. Mas para ela, sempre serão segundas chances. Para pensar em algo grande, nem que seja uma grande bobagem.”