Quando eu tinha lá meus 8 anos, no Barracão era de costume plantar trigo e milho. Aí vinha a trilhadeira para preparar o trigo, o milho era debulhado. O produto disso, vez por outra era eu quem levava nas costas para o Moinho do Mário Bertarello, em São Pedro. Eu tinha hora para sair e hora para voltar, com a farinha de trigo, ou com a farinha de milho, nas costas. Num desses dias, enquanto a farinha não ficava pronta eu fui brincar no rio, debaixo da ponte, ao lado do moinho. O que aconteceu? Cai dentro do rio. Todo ensopado, fui recolhido pela família Bertarello, fui desnudado, e minha roupa pendurada, para secar, ao lado do fogão a lenha. Roupa seca, farinha pronta, lá fui eu de volta ao lar. Ao invés de chegar às 17:00 horas cheguei às 19:00 horas. E explicar para meu pai e meu avô o porque da demora? Expliquei mas não convenci, ninguém acreditou até ouvir da boca do próprio Mário o que tinha acontecido. Mário era uma pessoa especial, falante, articulado, transparente, um líder do interior como poucos. Não foi difícil ele se eleger Vereador, chegou até a ser prefeito interino. Brizolista, Getulista, cansado de “guerra” retirou-se da política, lugar ocupado pelo filho Ailor na Câmara de Vereadores. Os Bertarello, na esquerda e, os Cavalet, na direita, deixaram sua marca indelével em São Pedro que, depois de um período de ostracismo, ressurgiu plenamente com o projeto Caminhos de Pedra. Vai deixar saudades a ressonante voz, o sorriso largo do Mário, assim como ficará marcada sua ascensão de líder rural ao cargo de prefeito interino. Este registro foi escrito na manhã do dia em que foi publicada a lista dos políticos envolvidos no escândalo da Petrobrás, outra mancha na história política do país. E é um preito de homenagem a um homem simples, falecido aos 99 anos, que fez da política um instrumento para servir a comunidade, com honra e dignidade. Ailor e Leda, seus filhos, saíram, em muitas coisas, “igualzitos ao pai”.

O PROTESTO

Os caminhoneiros incendiaram o país com seu protesto à beira das estradas. Todos perderam com o movimento: os caminhoneiros, porque “barco parado não ganha frete”, dizia meu avô quando olhava pra mim parado “olhando as estrelas durante o dia”. O povo, que viu as coisas ficarem escassas e caras, mas muitos com ar de satisfação diante do protesto. As transportadoras, cujos caminhões ficaram bloqueados nas estradas. E o Governo que sofreu um desgaste terrível, sendo obrigado a ceder naquilo que não tinha lá muita intenção de ceder, que era a regulamentação da profissão de motorista, projeto que Dilma assinou na íntegra, sem vetos, e também concedendo benefícios no financiamento de caminhões. Foi muito estranho que a marcha dos caminhoneiros para Brasília tenha sido esvaziada, inclusive pela imprensa. O que deve ter mais influenciado no esvaziamento foi certamente, a influência familiar, principalmente das mulheres dos motoristas. É fácil imaginar o diálogo: “ma vá Bepi, tu já tá parado há muito tempo, vai te meter lá em Brasília pra apanhar da policia, olha teus filhos, vamo, pega esse caminhão e vai trabalhar, vamo votá contra na próxima eleição e deu”. O buzinaço foi mais forte das mulheres dos motoristas do que o buzinaço em Brasília. Vamos aguardar o dia 15, dia do protesto. Quem vai ir?