Desde que me afastei do meio rádio no final do ano passado, e por ali transitei durante dois anos e meio, havia deixado de manifestar opiniões ou informações desta maneira mais direta, através de comentário e/ou coluna. Pois agora retomo a atividade com a sede de quem atravessou o Saara só com um cantil. Então, direto ao que interessa. As coisas da cidade, da política, da economia, aquilo que preocupa ou deveria preocupar os cidadãos.

* A UPA vai ser inicialmente não mais do que um Pronto Atendimento 24 horas. Esta é uma notícia triste e que deve ser entendida como parte de um contexto maior. O fim da bonança, do dinheiro fácil. São cortes e mais cortes, indicando uma volta de 180 graus no que o Governo Federal propunha até então. O que o ministro Levy está fazendo é exatamente o oposto dos programas de aceleração do crescimento, os famosos PAC I e II, que nos fizeram viver numa espécie de ilha da prosperidade, na contramão daquilo que a economia internacional vivia. Está sendo duro e tudo indica continuará sendo difícil por pelo menos mais um ou dois anos.

E onde é que sentimos mais esta intervenção tão doída? No emprego (ou falta dele), na saúde, no acesso ao financiamento à casa própria, na volta da inflação. Não há recursos sequer para pagar o funcionalismo público em dia aqui no RS. A indústria retraiu seus indicadores. Há queda no faturamento; há demissões e pedidos de recuperação judicial para não fechar as portas. Tudo isto acaba refletindo também na queda de arrecadação por parte da municipalidade. Na saúde, assistimos à novela sobre o fechamento e depois não fechamento da UTI Pediátrica. O Estado não repassou as verbas previamente combinadas. Aí foi preciso este movimento quase que de terrorismo para sensibilizar sobre a necessidade de cumprir o acordado e mandar os recursos. Ora, quando é preciso ameaçar paralisar o atendimento para que se consiga apenas aquilo que estava ajustado – e não estamos falando em dinheiro para o lazer ou para o esporte, mas para a saúde – isto é sinal de que os tempos são mesmo difíceis.

Sobre a UPA, que já era para ter sido o Hospital do Trabalhador e que agora deve ser nada mais do que um posto 24 horas – também necessário para o atendimento do cidadão – talvez estejamos falando de um retrato 3 x 4 de uma das piores chagas brasileiras. Aqui as coisas são feitas pensando no hoje. Políticos querem frutos para colher na safra eleitoral que se aproxima. Programas são implantados sem que se saiba quanto tempo perdurarão.

É fácil construir um prédio. Mas e quem vai pagar as contas dos funcionários? Bento está erguendo e ergueu vários postos de saúde em bairros. Levando a saúde para perto de onde o cidadão está. Ótimo que a dona de casa não tenha que se deslocar para socorrer um filho doente. Mas o prédio é apenas o custo inicial. Caro mesmo é manter o atendimento com profissionais qualificados como o são médicos e enfermeiros. Não seria mais lógico e racional concentrar em três ou quatro postos maiores e abertos 24 horas? Hoje, se faltam um ou dois médicos num posto é preciso praticar a arte do cobertor curto.

A situação da UTI Pediátrica também é retrato desta realidade de descompromisso com o amanhã. O Hospital Tacchini foi estimulado a montar a ala. Contratou nada menos do que 39 profissionais para atendimento 24h sete dias por semana. Para quê? Para que o Estado e União não honrassem o compromisso de mandar as verbas.

* E por falar em saúde, preocupa-me o Secretário Municipal da Saúde, Roberto Miele. É a segunda vez, em quatro meses que, justo no dia de comparecer à Câmara de Vereadores para ajudar a explicar as ações da Secretaria no quadrimestre findo, ele não comparece alegando razões de indisposição física. Na segunda-feira Marco Ebert esteve na Câmara mas foi embora sem se pronunciar.