Às vezes, falta-nos o amor-próprio suficiente para não nos importarmos com o desprezo dos outros. Talvez essa seja a essência de o que tem ocorrido na área central de Bento Gonçalves. Após uma onda de frequentes assaltos em um dos pontos de ônibus da cidade, agora o alvo dos criminosos passou a ser o Santuário de Santo Antônio, no coração da cidade. Com vítimas fáceis, em sua maioria senhoras na terceira idade, as ações tem ocorrido dentro das paredes de um dos locais mais sagrados para boa parte dos munícipes. O fato, além do ineditismo, reacende o alerta para os pequenos delitos na área central, assim como já ocorre há bom tempo no bairro Cidade Alta, e deixa novamente em evidência o problema social da drogadição juvenil e do constante descaso público com quem padece desta enfermidade.

A solução para o problema, ao menos na parte física, veio por meio do investimento tecnológico. A Paróquia precisou investir uma boa quantia em câmeras de videomonitoramento, deixando a igreja mais próxima de um cenário de reality show do que da casa de Deus. Sem dúvida, agora, os oportunistas devem pensar duas vezes antes de “meter a mão” no compartimento de doações ou nas bolsas alheias. Da mesma forma, a missa de domingo deverá ter uma atmosfera de pura absorção, afinal, agora, qualquer deslize estará eternizado em imagens.

Sem dúvida, agora, os oportunistas devem pensar duas vezes antes de “meter a mão” no compartimento de doações ou nas bolsas alheias

Embora o contexto remeta a uma peça tragicômica, é imperativo reiterar que estas atitudes demonstram o desespero humano em busca de alento ou mesmo sobrevivência. Afinal, cá entre nós, ninguém acorda pela manhã e pensa “que belo dia para assaltar uma vovó dentro da igreja”. Infelizmente, este dinheiro será utilizado, muito provavelmente, para compra de entorpecentes, que, por sua vez, alimentam o tráfico e, por consequência, dão força às facções que há anos aterrorizam nossa comunidade.

A Paróquia tem toda a razão em se proteger, assim como prover segurança aos que frequentam o santuário. Mas nós, como sociedade pensante, temos que ir além. Entender o contexto que leva um jovem ao limiar de invadir um território sacro e usurpar quantias módicas é o mínimo para elaborar ações que possam aproximar esta pessoa de uma reabilitação e não de uma cova rasa em algum matagal. Precisamos ver o ser humano, não simplesmente a conduta. Caso contrário, a cidade de Bento Gonçalves, que já conta com cercamento eletrônico nas entradas e ruas do município, poderá ir pensando em implantar o “cercamento obrigatório residencial”.