O padroeiro da igreja é o Santo Antão de Abade, que recebeu esse nome porque a estrada, em frente ao templo, era passagem dos tropeiros que encontraram uma imagem do santo no toco de uma árvore

O padre Gilmar Marchesini conta que o bairro nasceu da ligação entre a igreja e as primeiras famílias que habitavam o local. “O primeiro pároco, Antônio Lorenzi, visitava o bairro e rezava as missas na pequena igreja, que na época era considerada do interior, além de ir na casa das famílias almoçar. Assim, fazia a parte religiosa e social, que eram os encontros com os familiares”, explica. Ele destaca que a igreja é considerada ainda hoje uma referência pelos moradores. “Toda essa espiritualidade se deve ao fato de que a igreja católica é o centro do bairro. Apesar de termos uma transformação grande no número de famílias e uma diversidade de religiões e igrejas, é um bairro onde as pessoas ainda têm como referência a igreja Santo Antão”, explica.

Com ajuda da comunidade, a Igreja Santo Antão passou por obras de restauração no ano passado

Ano passado a igreja passou por uma restauração, que só foi possível graças a união entre a paróquia Cristo Rei e a comunidade para captar os recursos necessários. “Foi feito um belo restauro na parte externa, interna, na estrutura inferior e na parte superior”, destaca. O trabalho, de acordo com Marchesini, proporcionou a participação dos moradores, deixando um marco positivo. “Muitas pessoas se sentiram envolvidas, a gente sente que houve participação, pelas doações econômicas de pessoas ligadas à comunidade”, conclui.

Uma das moradoras, engajada à comunidade, é Valdecira Carraro Pegoraro, 79 anos. Ela há muito tempo como coordenadora da zeladora. “Tudo que a capela precisa, minha equipe colabora, então se torna mais fácil. A gente ajuda em tudo, em campanhas, em festas, enfim, o que precisar a gente faz”, orgulha-se.

Sobre a restauração, Valdecira afirma que “todas as famílias antigas colaboraram, algumas com janela, com porta ou piso. Foi muito bom. O pessoal daqui é unido e ajuda. Ficamos muito contentes”, finaliza.

Os Copat, de geração em geração

Entre os primeiros imigrantes italianos que chegaram em Bento Gonçalves, estava Leonardo Copat, que recebeu a colônia de número um, no bairro Santo Antão, quando o município iniciou a divisão de terras em colônias. De geração em geração a família Copat foi criando raízes no lugar. Depois de Leonardo, que chegou em meados de 1875, veio o filho, Caetano Leonardo Copat, que casou com Assunta Zanata Copat. Dessa união nasceram 10 filhos e um deles, o aposentado Ineri Copat, 70 anos, que também optou por seguir os mesmos passos dos antepassados.

Ele conta que no bairro há vínculos familiares muito fortes. Prova disso é que a rua em que reside recebeu o nome do pai, Caetano Leonardo, falecido em 1964, como forma de homenageá-lo. “Tentei junto aos órgãos municipais para que fosse dado esse nome e conseguimos”, comemora.

Ineri Copat é neto de um dos primeiros imigrantes italianos a chegar no bairro

Entre as lembranças da infância, Copat destaca que naquela época a religiosidade era muito forte e que ir às missas de domingo, na Igreja Cristo Rei, era quase uma obrigação. “A gente levantava as quatro horas da manhã para ir na missa das seis. Quem não ia, não podia sair para brincar depois”, lembra.

Uma das recordações faz Copat dar muitas gargalhadas. A diversão dele e dos demais irmãos estava no retorno da missa. “Parávamos em um bananeiro e como prêmio a gente ganhava bananas. Era incrível”, afirma.

Contudo, Copat afirma que naquela época a vida não era tão fácil. O pai, Caetano, trabalhava como agricultor, também fazia fretes com um pequeno caminhão. Além disso, com outro vizinho, possuía uma olaria, onde fabricavam tijolos. “Inclusive, sei que eles forneceram para a construção da Igreja Cristo Rei”, conta.

Como bom conhecedor do bairro, Copat aponta que entre as necessidades de melhorias, está o calçamento. “A rua Nelson Carraro está asfaltada até o fim, ficou bom, só tem um problema, está faltando calçamento dos dois lados, no final”, afirma. E acrescenta que “tem alguma falta de passeio ou mal feito, e aí temos que pisar na brita. Tem um passeio interrompido por mato há anos, e não tiram, mesmo ligando para o telefone de reclamações”, completa.

Ainda assim garante que o bairro é bem estruturado. “Os moradores são tranquilos, cada um cuida da sua casa e é ótimo para morar pela estrutura dos loteamentos”, comenta.

Famiglia Trentina di Santo Antão

O bairro conta com a entidade Famiglia Trentina di Santo Antão, que embora tenha a sede na comunidade, abrange todo município de Bento Gonçalves e região. A instituição tem cunho sociocultural e atua na preservação dos usos e costumes dos imigrantes italianos que vieram da região do Trento no século XIX.

O presidente da entidade, Ineri Copat, diz que já foram realizadas encenações sobre os primeiros imigrantes na Casa da Cultura e na Igreja Cristo Rei. Outro trabalho de destaque é o Coral Trentino que trabalha com músicas da época. “Nós vamos nos festivais de corais, nas igrejas, em eventos da prefeitura. Também já cantamos na Câmara de Vereadores em sessões festivas, para manter viva a memória”, conta.

Além disso, por ser integrante da Unione delle Famiglie Trentine All’Estero, considerada entidade-mãe, filiada à província de Trento, são realizados intercâmbios com a Itália. “Eles dão possibilidade de os jovens com até 35 anos realizarem intercambio, aqueles que são do Trentino, no caso. Nós já mandamos três para lá, e quando eles vêm a gente faz a recepção também”, explica.

Rótula para controlar o trânsito

O aposentado Cláudio Ivanez João Pegoraro, 80 anos, também nasceu no Santo Antão. Como antigo morador, afirma que serviços que dependem da prefeitura geralmente não acontecem. “O bairro precisa de uma rótula onde tem os trilhos. Ali tem seis, sete ruas que chegam no mesmo ponto, então tem que disciplinar a circulação”, afirma. Ele conta que houve um projeto para a rótula, que está ultrapassado. “Esse cruzamento vai acabar resultado em mortes”, alerta.

Morador antigo do Santo Antão, Cláudio Ivanez João Pegoraro alerta que a Prefeitura deve dar atenção à necessidade de uma rótula para disciplinar o trânsito e evitar acidentes

Moradores pedem limpeza das ruas

Morando há mais de seis décadas no bairro, o técnico em máquinas de fabricação de móveis, Gilberto Gava, 62 anos, afirma que a limpeza das ruas é feita de modo esporádico, permitindo que o mato cresça demais. “É vergonhoso”, afirma.

Gava revela que, casualmente, na semana do dia 18 de janeiro foi realizada uma limpeza, mas não ficou de acordo com o que os moradores esperavam. “Não limparam toda a grama e o mato do calçamento”, critica.

A moradora Valdecira concorda que a manutenção das ruas do bairro não é boa. “A prefeitura vem quando o capim está alto. Tem muitas famílias no bairro que limpam as ruas, varrem, porque não adianta esperar”, afirma.

Mais atenção para o cemitério

Outra necessidade do bairro, considerada urgente pelo aposentado Pegoraro, diz respeito ao cemitério. Ele sustenta que quando era administrado pela comunidade, estava em melhores condições que atualmente. “Está deixando muito a desejar, o poder público está esquecendo do cemitério”, lamenta.

Pegoraro aponta melhorias que julga essenciais. “Esse cemitério precisa de muro de arrimo, de portões novos e de calçamento interno, porque lá dentro é grama. Quando cortam, suja os túmulos e, se chove, a gente caminha no meio da água”, reclama.

Entre as reivindicações está o calçamento dentro do cemitério porque, quando chove, moradores contam que caminham na água

Além disso, ele fala que não há um ponto para que familiares de quem está sepultado no lugar, possam acender velas. “O queimador é na rua, e isso é anti-higiênico. A prefeitura teria que ver isso”, pede.

A esposa Valdecira também pede para que sejam melhoradas as condições do cemitério. “Gostaria que ajeitassem. O que é aquilo? Está ruim. Tinham que arrumar, fazer muro, um portão, uma capela para rezar missa. No Dia dos Finados, se chove, não rezam a missa no cemitério, mas sim no salão”, conta.