Um piloto experiente e multicampeão. Assim é possível definir Marciano Santin, que possui conquistas estaduais e nacionais. O mais recente deles foi conquistado na categoria Yamaha R3, com prova final disputada no tradicional circuito de Interlagos, em São Paulo. O quinto troféu brasileiro junta-se aos outros quatro títulos gaúchos conquistados por ele. O piloto da Capital do Vinho chegou à última corrida precisando apenas de um sétimo lugar para conquistar o campeonato. Com experiência, e assistindo à queda de uma das rivais ao título, Santin administrou a prova e chegou na quarta colocação.
No entanto, a carreira do veterano que leva o nome de Bento Gonçalves pelas pistas do país é marcada por dificuldades ao longo da jornada. Ex-usuário de drogas, Santin encontrou no esporte e na motovelocidade uma nova alternativa de vida. De acordo com ele, os resultados apareceram após muito esforço dentro e fora das pistas. Em entrevista ao Semanário, Santin avaliou a carreira e contou os percalços.

Jornal Semanário: Como foi o início da carreira na motovelocidade?
Marciano Santin: Comecei na motovelocidade em 1996, com um grupo de amigos na cidade. Eu andava de moto nas ruas da cidade, aí algumas pessoas viram e me ajudaram a comprar uma moto. Só que era a mesma que eu usava para trabalhar durante a semana, fazendo cobranças e serviços de banco. No fim de semana, desmontava a moto e ia correr. Minha primeira etapa foi em Tarumã, em 97. Nas primeiras provas, consegui chegar em quinto lugar. Na minha primeira corrida em Campeonato Brasileiro, levei tudo em um carro, a moto em um reboque, e fui até São Paulo sozinho. Na primeira volta caí e a moto quebrou. Juntei tudo e voltei pra casa. Mas não desisti. E em 2000 parou a motovelocidade no Rio Grande do Sul. E eu era usuário de drogas, mas sempre tive o sonho de correr. Fui pra igreja e, por meio da religião e do esporte, passei a me dedicar mais. Comecei a treinar mesmo. Comprei uma moto só para isso, e fui disputar a primeira etapa do Brasileiro, em Curitiba. Em 2007, fui campeão brasileiro pela primeira vez, o primeiro gaúcho a conquistar um título nacional. Daí pra frente conquistei outros títulos, até chegar ao tetracampeonato brasileiro em 2015, e troquei de categoria para essa temporada.

JS: Como foi a adaptação à nova categoria?
Santin: A Yamaha R3 tem menos gastos, e pede menos preparo físico. Não entrei pensando em ganhar. Mas começou a dar certo, me dediquei, e veio esse título. A adaptação foi boa, porque é parecida com as que eu competia anteriormente. É mais barato pra treinar, gasta menos pneu, então ajuda também. As vitórias e os resultados apareceram. Na última etapa, em São Paulo, precisava chegar em sétimo para conquistar o título. Cheguei em quarto, administrando. A minha concorrente (Sarah Conessa de Moura, de Brasília) caiu na segunda volta, aí vi que o título era meu. Aí só administrei.

JS: A experiência conta muito nessas horas?
Santin: A experiência conta sim. Mas ao mesmo tempo, a gente fica com um pouco de receio, porque a gurizada mais nova não tem medo de cair. Outro ponto que pesa contra é o preparo físico.

JS: É possível afirmar que essa é a principal dificuldade que você enfrenta atualmente?
Santin: Sim. A idade e o peso. A experiência ajuda, mas o preparo físico é complicado, estou um pouco velho para o esporte. É difícil acompanhar a molecada. Eu não estou mais no mesmo ritmo, não quero me machucar. Tem que acelerar quando precisa.

JS: Além dessa, quais outras dificuldades existem?
Santin: Está bem difícil para conseguir patrocínio para competir. Mesmo sendo conhecido, e conquistando os resultados, não é fácil. Sempre consegui, mas é difícil administrar. Então, sempre agradeço ao apoio dos patrocinadores que já me ajudam, da minha família, e da minha esposa principalmente. Tenho vontade de parar, falo isso há vários anos, mas sempre volto a competir. Mas não é fácil. Se eu arrumar patrocínio, vou continuar. O que vier daqui pra frente é lucro.

JS: Pretende continuar na motovelocidade em 2017?
Santin: Se tiver patrocínio, sim. A gente sabe que o momento é difícil no país, especialmente em função da crise. Mas eu estou contente, independente da situação. A minha parte eu fiz. O que vier daqui pra frente é lucro, competindo ou não no próximo ano.

JS: Qual avaliação é possível fazer não apenas dessa temporada, mas da carreira como um todo?
Santin: A conquista de mais um campeonato é importante. Pra ter cinco títulos brasileiros, não é fácil. Eu fui um dos primeiros pilotos da geração aqui da cidade. Com várias dificuldades, e muitas coisas erradas no esporte, eu fico contente, me sinto satisfeito. Com 40 anos tenho nove títulos. Pra mim está bom. Só tenho que agradecer a Deus, à minha família e aos meus patrocinadores que me ajudaram. Sem eles, não fazemos nada. Mas temos que fazer a nossa parte, correr atrás. Eu ganhei o campeonato sem disputar uma etapa. De uma hora pra outra, decidi comprar a moto, e montei para competir. Mas sempre existem as dificuldades. Ano passado eu quase morri. Em uma corrida na etapa de Curitiba, caí da moto. Quebrei três costelas e perfurei o pulmão. Imagina tudo isso acontecer longe de casa, da família. É difícil. Esse ano também contei com a sorte em algumas etapas. Eu não gosto de correr com chuva, ando mais devagar, mas em uma prova consegui pontuar bem, mesmo nessas condições. Então só tenho a agradecer.

JS: Como tu percebes a evolução da motovelocidade no Rio Grande do Sul e no Brasil?
Santin: Quando os pilotos de fora vêm correr no Brasil, é difícil acompanhar eles. A gente evolui com eles, porque no exterior a cultura da motovelocidade é outra, é outro mundo. Por isso de lá saem os melhores pilotos, como o Valentino Rossi (piloto italiano seis vezes campeão mundial de MotoGP, principal categoria da modalidade), por exemplo. Aqui é a mesma coisa: quem corre no campeonato gaúcho e começa a correr no Brasileiro, vai notar uma evolução. Só que hoje as coisas estão bem melhores, basta comparar os tempos de antigamente com os de hoje, as motos estão bem mais rápidas que há cinco ou dez anos atrás. Mas eu aprendi a andar mesmo no Campeonato Brasileiro.

JS: O que você diria para essa nova geração da cidade, que pretende começar na motovelocidade?
Santin: Acho que essa nova geração tem que usar a cabeça nas corridas. E em primeiro lugar, é preciso ter humildade para aprender e ganhar. Com o tempo, a gente aprende. Quando era novo, caí muito. Mas o principal é continuar no esporte. Temos vários pilotos bons na cidade, então é preciso levar adiante e investir. O que não se pode fazer é desistir sem tentar, como muitos fazem.

Leia mais na edição impressa do Jornal Semanário de sábado, 31 de dezembro de 2016.