Assim como muita gente, não gosto de eventos com muita frescura. Protocolos cansam, especialmente quando incluem discursos. A maioria é tolerável, mas não aproveitável.

Há oradores de todos os tipos, sendo piores os que adoram púlpitos. Os caras não têm noção e só concluem depois de muito repeteco e palavrório inútil. E isso acontece tanto na área pública como na privada (que é onde deveria escoar a maioria das preleções, pregações e outras arengas).

Dentro do campo político, há donos do poder que vão além do bom senso. Fidel, por exemplo, entrou para o livro dos recordes “Guiness” por fazer o maior discurso da história da ONU, em 1960. Foram 4 horas e 29 minutos. Mas, lá, em Cuba, seu recorde foi de 7 horas e 10 minutos, em 1986, durante um congresso do seu partido.

Já o mais curto foi proferido pelo prefeito de Jardim de Piranhas, estado do Rio Grande do Norte, na década de setenta, durante o encerramento das comemorações de 7 de setembro. Nunca vi o homem mais gordo, mas lhe tenho profunda admiração pelo alcance intelectual, revelado em sua fala. Eram 11 horas da manhã. Os alunos da última escola a desfilar, com fome, sede e cansados, aguardavam ansiosos a ordem para a debandada. Ao invés disso, o locutor anunciou que “sua excelência” ia falar. Embora o descontentamento tenha sido geral, todos se postaram no chão, resignados. E o prefeito, para surpresa e alegria dos alunos, resumiu seu discurso em três palavras:

– VIVA O BRASIL!

-VIVA! – responderam todos em uníssono, antes de se dispersarem.

Mas falas cansativas não são privilégio de políticos. Acontecem em todo lugar, nem os religiosos escapam. Olha o que aconteceu com o “Tato” da crônica de sábado passado, durante uma festa de igreja no interior de… Bom, isso não vem ao caso.

A missa solene estava marcada para as oito da matina. Apesar das recomendações do pai, católico fervoroso, o menino chegou à igrejinha, depois das nove, crente de pegar a cerimônia pelo rabo. Qual o quê! Às dez e trinta, começou a procissão ao redor da capela. Foram tantas voltas quanto as ave-marias do rosário. Às onze e cinquenta, com o cheiro do churrasco convidando as pessoas para o banquete, o celebrante passou a dar a bênção final. Eu disse “final”? Vou refazer os ritos proclamados pelo padre e deixar a conclusão aos leitores:

“Agora a bênção dos pãezinhos…”

“Agora a bênção dos doentes, levantem as mãos…”

“Agora a bênção das crianças, ergam as crianças pro alto… “

“Agora mostrem as chaves, para a bênção dos carros…”

“Agora a bênção dos idosos, os muito velhos podem ficar sentados…”

“Agora a bênção dos jovens, de pé…”

“Agora se aproximem para a bênção individual.”

-Vamos, Tato? – convidou o pai.

-Nem que tu me mate! – respondeu o garoto, puto da vida, soltando faíscas pelos olhos.