Desculpe, mas é preciso voltar a escrever novamente sobre a Dreher. Primeiro para dizer que me referi a Carlos Dreher Filho, que foi quem veio do além mar, quando deveria ter me referido a Carlos Dreher Neto. São lapsos de memória que me levaram também a olvidar de Erny Hugo Dreher, um dos esteios da produção industrial da empresa. Discreto e operoso, se resumia ao circuito casa e trabalho, constituindo a base laborativa dos bons produtos da empresa. A Dreher produziu bem sucedidas figuras políticas. Foi lá, na base operacional que se relacionava com os fornecedores, que brotaram, para a política, Fortunato Janir Rizzardo e Ulisses Vicente Tomasini. Carlos Reno Dreher, sucessor do pai, Dreher Neto, presidiu o PP e sempre foi “pé quente” em eleições, inclusive na última, foi responsável pelas finanças na campanha do Prefeito Pasin.

DESRESPEITO À MEMÓRIA

Em certa ocasião estive em Fortaleza, no Ceará, e nos passeios nos deparamos com o memorial ao Marechal Castello Branco, que veio a ser Presidente da República. Ocupa uma quadra inteira, tem inclusive um Teatro de Arena ao ar livre. Estão lá, inclusive, cartas poéticas que Castelo, aluno da Academia Militar de Porto Alegre, enviava a sua amada. Ao visitar o memorial, entendi a importância de Castelo Branco, do qual pouco sabia, pois brotou Presidente por indicação do Comando Revolucionário de 64 e, na minha visão, foi um bom Presidente. Ali, compreendi a magnitude do gesto e grandeza de Castelo quando esteve em Bento na inauguração da primeira Fenavinho. O aeroporto estava situado onde hoje é a avenida Planalto. O plano previa que o Presidente desfilasse de carro a partir da Vinícola Monaco, que ficava em frente ao Super Nacional, parando em frente a Prefeitura. Uma multidão, uma grande multidão, aguardava pelo Presidente. Quando o carro de Castelo Branco passava pela parte velha do Tacchini, ele mandou parar o carro. Desceu e se dirigiu a pé até a Prefeitura, sendo ovacionado pelo público. O gesto impactou os seguranças, a organização da festa e o público, afinal era um Presidente da Revolução, ou Movimento, entendam como queiram, capaz de um gesto de coragem, popular, sem medos e temores, enfrentando o povão todo que estava ali. Este gesto assume hoje maior grandeza quando se vê a Presidente abrir mão do tradicional pronunciamento do 1º de Maio com medo do “panelaço”, noticiou-se. Eu tenho visto ruas e avenidas denominadas de Getúlio Vargas, Prestes, Miguel Arraes, líderes de esquerda. A revolução respeitou isso, não trocou nome de rua, respeitou a memória. Brizola, por duas vezes Governador do Rio, respeitou a memória de Costa e Silva, nome da ponte que liga Rio a Niteroi. Mas aqui no Sul, eta estado Tupiniquim, a Câmara de Porto Alegre, notoriamente de esquerda, não respeitou a memória e a grandeza de Castelo Branco. Trocou o nome de Castelo Branco para Avenida da Legalidade, da principal via de acesso a capital do Estado. Agora então, ouve-se toda hora alguns dizendo Avenida Castelo Branco e outros Legalidade. Como Gaúcho me envergonhei desse gesto. Se o General Bento Gonçalves vivesse hoje veria que as razões pelas quais ele desembainhou a espada estão triplicadas. Mas ele veria também que nossos homens públicos, nossa falta de coragem política, a falta de seriedade com que os interesses do Estado são conduzidos, nos tornaram um estado empobrecido, patético, sem respeito, a tal ponto que para reerguê-lo, Bento Gonçalves talvez tivesse que desembainhar a espada das ideias, não para lutar contra a coroa, mas sim contra a mediocridade que impera por aqui. Dentro deste contexto, como aceitar esse aumento trimestral aprovado pela Câmara? Como aceitar que ex-prefeitos tenham familiares em cargos de comissão na Prefeitura? Como aceitar este concurso da Câmara? O Governador Sartori está dando uma de Bento Gonçalves, com gestos nobres, ações humildes, sua espada é a palavra. Ele reclama da coroa (Governo Federal) mas também reclama da forma com que os interesses e a visão do Estado foram e são conduzidos. Sabe bem o Governador que as células do Estado, que são os municípios, estão muito deterioradas e moralmente comprometidas, não com um estado melhor e maior, mas sim com interesses pessoais e de grupos.

IMOBILISMO

Vejo a Farina pedir recuperação judicial. Segundo noticias, outras três empresas locais utilizarão o mesmo remédio. Não se pode deixar de considerar que, o aumento dos combustíveis, o aumento dos juros, o aumento da matéria prima, o aumento da energia elétrica, oneraram de modo descomunal, nossas empresas, que não encontram alternativas de repasse de custos. Estamos longe dos grandes mercados consumidores e isso agrava a crise. Tudo isso não me abala tanto quanto o imobilismo. Onde está a mobilização de nossas lideranças no sentido de solicitar faixas especiais de crédito ou seja lá o que for, em socorro a estas empresas em dificuldade, antes que o pior aconteça? Onde está uma reunião almoço do CIC para debater, abertamente, esse assolamento da crise? Onde esta a ação do Legislativo e do Executivo? E as nossas Entidades Sindicais? Vamos ficar assistindo o desenlace? A quem interessa o fechamento de alguma empresa em Bento? Onde estão os preceitos de uma municipalidade forte, uma economia forte? O negócio aqui é Voley na elite brasileira, e pronto? Quem vai alimentar a demanda que isso trará? Empresas fragilizadas? A Prefeitura? É preciso que se estabeleça um grande debate entre nossas lideranças e a presidência tem que ser exercida pelo Prefeito. Minha professora de Francês, Alice Turcato, quando não se conseguia copiar a lição do quadro negro virava e dizia “vit,”vit”, ligeiro, ligeiro. Meu avô dizia “move-te”, te mexe, os consultores de empresa dizem que o mundo hoje se divide entre os “ligeiros e os devagar” e recomendam demitir os “devagar”. Vamos nos mexer ou daqui uns dias só nos restará “ir a Caravaggio” e não “também ir a Caravaggio”. Vamo, vamo, Inter? Não, vamo, vamo, Bento! Será isso, ou será que estou exagerando? Será que quem tem que ir para Caravaggio sou eu? Bem, de vez em quando, eu já estou indo.