Esta semana passei pela Marechal Floriano e dei uma espiada no prédio antigo onde estava situada a Dreher S/A, em cima era o escritório, embaixo a cantina, dali se transferiram para a Assis Brasil, na época, um majestoso e suntuoso prédio no qual hoje se situam a Vinícola Aurora, a Unimed e, sabe-se lá mais o que. Entrar na Dreher era algo de fantástico, seu restaurante “divino” como diriam os Gourmets, o escritório, bem o escritório era coisa de visitação pública. A Dreher era, sem dúvida, para Bento, o que a Tramontina é hoje para Carlos Barbosa. A empresa tinha como seu líder máximo Carlos Dreher Neto, em Barbosa personificada por Clóvis Tramontina. Tinha o Dr. Péricles Barbosa, em Barbosa personificado por Ruy Scomazzon, considerados “cérebros”. E tinha como Executivos Tel Antinolfi, Airton Giovannini, Erny Hugo Dreher, devo estar esquecendo alguém, em Barbosa personificados por Paludo e demais executivos da Tramontina. Porque o paralelo com a Tramontina? Se vocês querem saber como era a Dreher olhem para a Tramontina, seus belos prédios, seus belos jardins, a organização, a projeção, a liderança, o conceito nacional e internacional.

Carlos Dreher morreu aos 50 anos, mas fez por Bento o que jamais um empresário de liderança comunitária virá a fazer. Trouxe dois Presidentes a Bento em Fenavinhos, lançou vários produtos de projeção nacional, tinha vínculos de amizade com lideranças nacionais, precisaria um livro para descrever. Era mais ou menos assim: precisou de alguma coisa, procure a Dreher; quer um modelo de gestão, procure a Dreher; quer um exemplo de homem dinâmico, amável, de prestígio, de boas relações, olhe o Carlos Dreher; quer uma empresa moderna, com projetos de gestão arrojada, veja a Dreher, tudo era possível através da Dreher, assim como tudo e possível hoje em Barbosa através da Tramontina, grande parceira inclusive dos Prefeitos como era a Dreher aqui. Mas tudo isso se foi, a Dreher foi vendida para a Heublein, não tinha como não vender, valia dez na cotação máxima de avaliação, ofereceram trinta. A Heublein se quebrou, porque não entendeu que o segredo da Dreher eram os homens que a lideravam e que sustentavam, pela sua ação cordial, enérgica e decidida, um império econômico. Mas, ao olhar o velho prédio da Dreher, tomado pelo comercio, senti saudades, de gravitar pelo centro e encontrar, vez por outra, como um achado, a figura de Carlos Dreher em frente ao Clube Aliança, QG dos Dreher e da alta sociedade Bento Gonçalvense. Sorriso largo, simpático, cumprimentando a todos com simplicidade com um jeitão de Getúlio Vargas, figura que ele certamente abominava por ser de corrente política contrária.

Outra figura que gravitava pelo centro, carismática, era a de Ludovico Giovannini, que presidiu o Esportivo por dez anos e que fazia de cada cidadão de Bento um torcedor do Clube. Uma das coisas que eu não vou conseguir assimilar nunca é o fato de terem designado de “Montanha dos Vinhedos” o novo estádio do Esportivo, quando, na realidade, por questão de justiça e atendendo o processo histórico do Clube, deveria se chamar “Estádio Ludovico Giovannini”. Foi, sem dúvida, por questões políticas, seja de que natureza forem. Ao lado de outros, esses dois, Dreher e Giovannini, guardadas as devidas proporções, foram dois homens símbolos do passado de Bento. Eu olho para Barbosa e a invejo por causa da Tramontina, eu olho para Bento e me pergunto: quem substituiu, na plenitude, a Dreher aqui? E concluo que estamos órfãos, empresas que teriam plenas condições não se habilitam, e não tem nada a ver com “os tempos hoje são mais difíceis,” difíceis eram antigamente, nessa nossa cidade, que era uma aldeia, tudo se resume numa questão de fazer e querer fazer, e/ou querer ser. Para finalizar devo dizer que quando Carlos Dreher tinha seus cinquenta anos, eu tinha meus 17 ou 18 anos. Em quantos dos empresários e lideres de Bento a juventude pode se espelhar hoje? Quem está se mostrando para que eles tenham como exemplo, sigam caminhos positivos, de ação familiar, empresarial e comunitária, exemplares? Poucos, não e verdade? Matéria pensante.