Depois de sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e encarar o grave problema de saúde que quase a levou à morte, Bernardina Selung Borges, decidiu que passaria a viver de forma diferente
Conhecido por AVC, o Acidente Vascular Cerebral é uma condição que afeta milhares de brasileiros todos os anos. Em 2022, a situação foi a principal causa de morte no país. Em Bento Gonçalves, de acordo com informações do Hospital Tacchini, foram 61 registros em 2022 e 97 no ano passado, com uma taxa de letalidade em torno de 23%. A condição que atinge inúmeras pessoas acaba tornando um cenário desafiador às famílias e pacientes que precisam modificar toda a rotina para encarar um novo momento da vida.
Para muitos, a alta hospitalar após o AVC pode ser uma experiência assustadora. Em diversas vezes, os pacientes e suas famílias se deparam com uma falta de orientação adequada sobre os próximos passos a serem dados. A jornada de recuperação é um processo complexo e demorado, e a falta de apoio profissional pode deixar todos à deriva.
Quando um AVC acontece, um dos elementos mais críticos para a recuperação é um atendimento rápido, a fim de impedir maiores sequelas. Foi o que aconteceu com Bernardina Selung Borges, 62 anos, mais conhecida por Bete, aposentada e dona de casa. No dia 7 de setembro de 2021, após mais um longo dia de trabalho como cozinheira de um restaurante, saindo do local, sentiu a perda de força em um dos braços. Ao cruzar a rua, para chegar em sua residência, que fica a poucos metros do trabalho, a situação se agravou. “Quando fui atravessar, parecia que eu havia perdido a força em um braço. Não sentia mais ele. Aí me apavorei. Segurei o braço dormente com o outro, mas ele caia. Aí, fui buscar a chave de casa. Dei mais uns passos, me encostei em uma cerca e caí no chão. Depois disso, eu não lembro mais de nada”, revela.
Se não bastasse, a situação foi registrada por volta das 23h, onde o movimento de pessoas nas vias públicas reduz consideravelmente, aumentando ainda mais a possibilidade de Bete não ser encontrada rapidamente. No entanto, um vizinho, que chegava de carro, viu a mulher caída e, rapidamente, prestou os primeiros socorros. “No momento do ocorrido, o Nerison não me reconheceu, porque já era tarde e escuro. Mas ele parou o carro, me ajudou, pois estava no meio da rua, caída, acionou o Corpo de Bombeiros e me levaram para o Hospital. Eu o chamo ainda hoje de meu anjo da guarda”, lembra.
Rápido atendimento evitou graves sequelas
De acordo com pesquisas médicas, as chances de sobrevivência aumentam muito quando o paciente é atendido nesse período inicial. Em caso de AVC, a cada minuto sem socorro médico, as chances de recuperação diminuem consideravelmente. Foi o que aconteceu com Bete. Assim que foi vista caída, rapidamente o socorro foi acionado.
Entre os protocolos realizados, ela conta que recebeu uma medicação intravenosa, durante uma hora, que tinha por objetivo dissolver coágulos sanguíneos que são, na maioria das vezes, a causa dos derrames.
Após os procedimentos, ela conta que ficou internada durante dois dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Tacchini e, depois, encaminhada para um leito clínico, onde recebeu o carinho da família. “Nos primeiros dias, eu não conseguia falar, em razão do AVC. Depois, aos poucos, fui recuperando. Fiquei oito dias no hospital, porque os médicos queriam saber de onde surgiu tudo. Então, eles me disseram que foi decorrente de uma alta carga de estresse”, lembra.
Após o ocorrido, mudança de hábitos
Com os diagnósticos já apresentados, Bete precisou mudar sua rotina. Com a redução da carga de trabalho, se aposentou e passou a viver cuidando do lar e da família. Nesse meio tempo, sua filha mais nova, Luana Elis Borges, de 31 anos, deu a luz ao pequeno Bernardo, hoje, com um ano e sete meses, que é o xodó da dona de casa, do avô José Nicanor Borges, de 66 anos, e da dinda Andressa Aline Borges, de 36. “Reduzi a rotina de trabalho e precisei repensar em tudo. Hoje, graças a Deus, tenho o meu netinho, que chegou depois do ocorrido e passo os dias cuidando dele”, diz toda orgulhosa.
Indagada sobre sequelas que ficaram após o AVC, ela afirma que são muito poucas. Perda de força nas mãos e no caminhar foram notadas. No entanto, ela garante que são quase imperceptíveis, se comparados a outros pacientes que sofreram da mesma situação. “Levo uma vida normal, porém, tomando medicação contínua, tentando não me preocupar e estressar muito, que também foi um fator decisivo no que ocorreu. Em alguns momentos, perco um pouco da força nas mãos, mas nada que interrompa meus afazeres. Sinto também que caminho um pouco diferente, mas são coisas mínimas, se comparadas a outras pessoas que acabaram ficando com sequelas bem maiores”, pontua.
Cuidados básicos: observar fatores de risco ajuda na prevenção do AVC
O AVC pode ser de dois tipos: isquêmico (a artéria se fecha, impedindo a chegada de sangue oxigenado para o cérebro) e o hemorrágico (uma artéria se rompe dentro do cérebro e o sangue extravasa, comprometendo a área inundada.
De acordo com a médica neurologista do Hospital Tacchini, Natália D. Camilo, os principais fatores de risco do AVC são a hipertensão, obesidade, diabetes e colesterol alto. Álcool, fumo e sedentarismo também podem comprometer o bom funcionamento do organismo. Para minimizar problemas, ela garante que buscar uma vida ativa e saudável pode ajudar na redução de casos.
JS – Quais as principais causas do AVC?
Natália – O AVC pode ser causado por obstrução de um vaso sanguíneo no cérebro (AVC isquêmico) ou por rompimento de um vaso sanguíneo (AVC hemorrágico). Os principais fatores de risco incluem hipertensão arterial, diabetes, tabagismo, colesterol alto, obesidade, sedentarismo, doenças cardíacas e histórico familiar de AVC.
JS – Quais são as principais sequelas do AVC?
N – As sequelas do AVC podem variar de acordo com a área do cérebro afetada, mas geralmente incluem fraqueza muscular, dificuldade de fala e deglutição, alteração de marcha, perda de coordenação e distúrbios cognitivos.
JS – Há algum indicativo que possa fazer com que o paciente perceba que esteja prestes a sofrer um AVC?
N – Alguns sinais de alerta de AVC incluem fraqueza súbita em um lado do corpo, dificuldade repentina para falar, desvio da boca para um lado, tornando o sorriso assimétrico, e desequilíbrio súbito.
JS – A Covid-19 pode ser um dos fatores para a causa de AVC?
N – A Covid-19 pode aumentar o risco de AVC devido complicações vasculares e inflamatórias causadas pela infecção. No entanto, mais pesquisas são necessárias para entender completamente essa relação.
JS – E as vacinas? Têm alguma influência ou ainda é cedo para tratar sobre esse assunto?
N – Até o momento, não há evidências conclusivas de que as vacinas causem AVC. As vacinas são consideradas seguras e eficazes na prevenção de doenças infecciosas e importantes para a saúde populacional.
JS – AVC em crianças: quais as principais causas?
N – As principais causas de AVC em crianças incluem malformações cerebrais, doenças genéticas, infecções, traumas e distúrbios hematológicos.
JS – Existe algum exame preventivo do aneurisma? Quem deve fazê-lo?
N – A identificação de aneurismas cerebrais geralmente é feita por meio de exames de imagem, como angiotomografia ou angiorressonância. Entretanto, há indicações precisas para pesquisa em pessoas assintomáticas, como a presença de familiares de primeiro grau com histórico de aneurisma.
JS – Mulheres ou homens estão mais suscetíveis ao aneurisma?
N – Tanto homens quanto mulheres podem desenvolver aneurismas cerebrais, mas as taxas de ruptura podem variar entre os sexos. Mulheres têm maior probabilidade de desenvolver aneurismas, mas os homens têm maior probabilidade de ruptura.
JS – Cuidados para prevenir o AVC.
N – Alguns cuidados para prevenir o AVC incluem controlar a pressão arterial, manter uma alimentação saudável, praticar atividades físicas, não fumar, controlar o diabetes e seguir as orientações médicas.