Eu já deveria estar acostumada. Afinal, meu chorãozinho passou por poucas e boas: várias vezes à beira da morte no seu primeiro ano de vida, depenado que foi pelas formigas cortadeiras, de cima a baixo.
Na verdade, nunca peguei nenhuma em flagrante, mas devido ao seu “modus operanti” – sempre começando pelas pontas – concluí tratar-se desse inseto minúsculo, mas ordinário.
Meu chorãozinho é de uma resistência impressionante. A cada novo ataque, busca seiva lá nas entranhas e volta a cobrir-se de penugem verde. No início deste inverno, com quase dois anos e quatro metros, mais uma vez ficou peladinho da silva, com seus ramos finos e flexíveis tocando o solo. Acredito que, desta vez, as cortadeiras não foram responsáveis pelo saque, já que aconteceu fora do seu expediente: elas trabalham nos meses quentes enchendo os “celeiros” e depois se recolhem. A planta deve ter entrado em estado de dormência… até ser acordada por esta primavera antecipada. De repente, amanheceu exibindo novo look, verdinho e tenro. Mas não por muito tempo: seus ramos mais altos voltaram a ficar nus. Que dó me dá (até parece letra de funk). Sempre recomeçando…

Mas o que é a vida se não um eterno recomeço?
O recomeço normal, cotidiano… cama, mesa e banho, trabalho, retorno, cama, mesa e banho…
O recomeço duro de quem perde tudo em enchentes, deslizamentos e em outras tragédias provocadas pela fúria da natureza…
O recomeço sofrido de quem perde pessoas queridas ao longo de sua existência…
O recomeço quando os sonhos desmoronam e as certezas desabam… quando os paradigmas mudam…
O recomeço quando as grandes crises se abatem sobre um povo…
É isso! A crise anunciada se instalou de mala e cuia.
O Brasil se parece com o meu chorão: saqueado desde o princípio – pelos portugueses, franceses e holandeses… Saqueado em nome da independência… Saqueado pelos bancos mundiais… E agora… Bom, agora, saqueado por brasileiros…

Mas nem tudo está perdido. Segundo Leonardo Boff, a crise representa purificação e oportunidade de crescimento, conforme a origem da palavra. Ele diz que “a crise representa um processo crítico de depuração do cerne: só o verdadeiro e substancial fica, o acidental e agregado desaparece”.
Ufa! Luz no final do túnel. Resta saber se vai sobrar algo ou alguém no cenário político para contar a história…