Circulam “memes” e textos estrondosamente dramáticos, contando uma história triste de uma pessoa forte, finalizados com uma frase de efeito que diz: a decepção vem de quem você menos espera. Achei isso bem óbvio, afinal, se fosse de um desconhecido você não estaria surpreso. E aí vem a grande lição de vida: a gente vive melhor quando não espera nada de ninguém, quando não cria expectativas. Gente, eu crio um rebanho de expectativas. Fácil falar, mas difícil explicar como seria na prática. Por isso, tomei a liberdade de achar que os autores dessas frases pensam como eu, e vou tentar amenizar um pouco essa ditadura de frieza na qual estamos sendo convocados.
Que tipo de pessoas seremos se não tivermos expectativas, por menores que sejam? Quando a gente faz algo para ajudar alguém e dizemos que não esperamos nada em troca, é porque não queremos nenhum tipo de pagamento por isso, fazemos porque realmente gostamos daquela pessoa e torcemos por ela. Mas isso é bastante confundido com a reciprocidade. Por acaso você não cria expectativas de que aquela pessoa te ajude quando você precisar? Sensato dizer que, essa ajuda deve estar ao alcance de todas as partes.
Acredito que a ideia é fazer com que a gente se desprenda das ilusões criadas. Criamos um mundo paralelo onde tudo é lindo, cheio de algodão doce e beijos molhados. Criamos tudo isso sozinhos, não vem dizer que a culpa é do fulano, porque ele prometeu um monte de coisas. É aí que entra o bom senso e o sentido daquela frase lá, que diz que vivemos melhor sem expectativas. Pensar muito à frente, talvez com certa pessoa (ou emprego, ou amizade…) é sim, uma atitude recheada de expectativa, coisa que não deveríamos fazer, visto que, não temos controle de tudo. As pessoas têm vontade e sentimentos próprios que podem mudar constantemente. Assim como nós mudamos.
Não depender de forma vital de qualquer pessoa é um grande passo para não criar expectativas. Muitas vezes, precisaremos escolher entre ajudar o próximo ou a si mesmo. Entender que, naquela circunstância, você não foi ajudado por um motivo desses, é sim, o teto da sensatez.
Quando não criamos essas ilusões, podemos simplesmente amar os momentos vividos e desejar ter aquilo mais vezes. Prender uma pessoa em uma cena é egoísta e um tanto contraditório quando se fala em amor. Admiramos as pessoas quando amamos, por serem independentes, inteligentes, engraçadas. Temos orgulho dela. Quando estão na nossa ilusão, são apenas um fantoche e, novamente, nos decepcionamos quando não fazem exatamente o que imaginamos.
Criar expectativas saudáveis, é de certa forma, dizer a alguém: ei, confio em você! Confio que fará sempre o melhor e não machucará ninguém de propósito, e aceito quando escolher você mesmo. Falamos tanto em igualdade, mas só a gente pode…difícil defender assim.
Deixar de criar expectativas é como se não acreditássemos mais nas pessoas. Quando fizemos isso, nos colocamos no mesmo monte, dignos de não ser amados ou apostados, e então reclamamos por isso acontecer, e o mundo vira essa bola de neve, de gente desinteressada, machucada e desacreditada. Nada de frio na barriga, de sorrisos largos, de elogios sinceros, de gente apoiando gente. Um bando de robô que deixou de acreditar até em si mesmo.