Conforme Associação Brasileira de Educação à Distância, 67% dos alunos se queixam de problemas de organização na rotina

Com a chegada da segunda onda de Covid-19 no Brasil e a suspensão das aulas online ao longo de 2021, educadores acumularam múltiplos desafios em sua rotina desde o ano passado. Uma pesquisa feita pela Associação Brasileira de Educação à Distância (Abed) sobre as atividades remotas durante a pandemia mostra que essa adaptação não tem sido fácil. De acordo com o levantamento, 67% dos alunos se queixam de dificuldades em estabelecer e organizar uma rotina diária de estudos.

De um lado, há pais que trabalham fora e buscam alternativas para lidar com os filhos, e de outro, há aqueles que assumem dentro de casa também a função de professores. A psicopedagoga Cristiane Ramos aponta que o maior empecilho das crianças é manter a concentração. “A rotina em casa não é a mesma e a maioria das famílias encontraram muita dificuldade em auxiliar os filhos pela falta de tempo. Grande parte dos pais continuaram com suas rotinas de trabalho e, em vários casos, as aulas remotas não coincidiam com os horários que os progenitores estavam em casa. Nesse sentido, o aluno não conseguia participar no momento exato em que o professor estava online para fazer esclarecimentos ou tirar as dúvidas”, sublinha.

O período de estudo remoto emergencial pode ter gerado, segundo Cristiane, consequências na rotina de crianças e jovens em relação ao seu processo de aprendizagem, como o aumento da desigualdade nos níveis de aprendizado entre os alunos. “Alguns não se adaptaram ao ensino à distância e outros nem sequer têm acesso à internet. Em algumas realidades, a evasão escolar aumentou de forma significativa”, observa.

Atividades lúdicas são estimuladas pelos professores dentro das salas de aula. Foto: Franciele Zanon

Questões socioemocionais não trabalhadas durante o isolamento social também contribuem para deixar mais lacunas na educação. “São muitos sentimentos envolvidos e precisamos aprender a lidar com a insegurança, ansiedade, medo, isolamento, mudança de rotinas e indefinições. É preciso desenvolvermos a empatia, resiliência, foco, responsabilidade, cuidado consigo e com o outro, entre outras competências. As dificuldades de ensino e as consequências da pandemia se estenderão por muito tempo ainda. Por esse motivo, se faz necessário buscar ferramentas para identificar e corrigir brevemente as rotas de seu plano de aprendizagem”, esclarece.

Há 20 dias da volta às aulas, segundo a secretária municipal de Educação, Adriane Zorzi, as escolas demonstraram um bom preparo e organização quanto ao cumprimento dos planos de contingência. “Os estudantes e profissionais nos surpreenderam com o respeito às normas vigentes. Este conjunto de ações fez com que as atividades fossem caracterizadas por um retorno seguro e a adaptação se deu de forma tranquila”, pontua.

A educadora infantil da escola Luz do Amanhã, Emily Pereira, afirma que as crianças de três a quatro anos estão se adaptando bem. “Elas falam que estavam com saudades dos colegas e das professoras”, cita. Nas aulas são oferecidas atividades lúdicas e com brinquedos didáticos.

Raio X da aprendizagem

Nas próximas semanas, professores da rede municipal vão aplicar avaliações diagnósticas, que visam observar as habilidades atingidas ou não. “Em um curto período de tempo, teremos uma espécie de “raio X” da aprendizagem dos alunos e saberemos com maior precisão a informação do que foi atingido com sucesso e do que precisa ser retomado presencialmente”, destaca Adriane. “Após a conclusão dessa etapa, os professores organizarão as práticas, pensando no melhor caminho, adequando planejamentos a fim de sanar as maiores defasagens nesse período em que as aulas foram não presenciais”, complementa.