A procura por livros na Biblioteca Pública Castro Alves, em Bento Gonçalves reduziu no período de um ano. Dados levantados pela equipe de trabalho contabilizam que no primeiro semestre de 2016, o número de livros retirados foi de aproximadamente 9,1 mil. No mesmo período desse ano, o número caiu para 8,5 mil, o que representa redução de 6%. Profissionais comentam sobre o avanço das redes digitais e alertam para necessidade de investimentos financeiros na aquisição de novas obras, a fim de incentivar o hábito da leitura.

Mesmo que a redução seja considerada baixa pela equipe da biblioteca, os números confirmam pesquisas nacionais, que apontam essa queda em todo o país, e refletem também na baixa média de livros que foram lidos anualmente pelos brasileiros.
O espaço localizado na Rua Barão do Rio Branco, próximo à Praça Centenário, no Centro, tem 9,8 mil leitores cadastrados.

Desses, 242 foram listados no último ano, segundo dados apresentados pela bibliotecária Eunice Pigozzo. No mesmo período, a prefeitura não investiu recursos para a compra de exemplares. Ultimamente, doações dos próprios leitores é que alimentam o acervo. Em 2016, foram doados pela comunidade 965 exemplares, destes, 174 por meio da Feira Municipal do Livro.

Eunice considera normal essa diminuição na procura pelas obras e salienta que a biblioteca procura criar programas de incentivo à leitura, principalmente entre os mais novos. “Atualmente, desenvolvemos projetos voltados para adolescentes e jovens, entre eles, o ‘Protagonistas da palavra’, desenvolvido entre 2015 e 2016, voltado para adolescentes e jovens, ‘Balaio da Saúde Literária’ com a disponibilização de livros nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), ‘Feira do Livro’, além de ações internas desenvolvidas junto aos usuários da Biblioteca, como contações de histórias, troca-troca de livros e ações temáticas de aproximação dos usuários”, explica. Ela disse ainda que a utilização de ferramentas, como as mídias sociais, servem para a “divulgação do acervo e incentivo ao empréstimo de livros entre os usuários reais e potenciais”, aponta.

 

Mudança de hábito

A professora de Letras Talize Zilio (foto) acredita que pode não haver diminuição no número de leitores, mas sim, a migração para um “novo recurso de leitura, como por exemplo, páginas na internet, jornais e livros digitais, tutoriais, fóruns, entre outras fontes”, acredita. 

Talize afirma que o dinamismo, praticidade e economia, pois em muitos casos, a distribuição pelos meios digitais é gratuita, são os principais motivos para essa mudança de hábito. Ela também questiona o baixo estímulo e a escassez de recursos na educação. “O investimento para a manutenção de bibliotecas públicas e uma formação de qualidade aos professores, aliados ao estímulo familiar, são fatores fundamentais para barrar a diminuição de novos leitores. Sem contar que os livros, por seus altos valores comerciais, podem ser considerados artigos de luxo, ou até mesmo supérfluos, diante da crise que atravessamos. Tudo isso contribui para essa queda”, acredita.

Entre as mais assíduas

A empresária, Elisabeth Mazutti, 56, é uma apaixonada pela leitura. Desde criança tem um apreço especial pelos livros. Para ela, as obras trazem tranquilidade e bons momentos no seu dia a dia. “Comecei muito cedo a pegar gosto pelos livros. Hoje, não consigo viver sem. É algo que já faz parte de mim”, afirma.
De janeiro a junho deste ano, Elizabeth leu cerca de 30 livros só na Biblioteca de Bento Gonçalves. Em média, são cinco obras por mês. “Já li todo o tipo de leitura. Mas minha preferência é pelas obras de romances”, aponta.

Ações para incentivo

Mesmo com a queda no número de leitores na biblioteca, Eunice afirma que a equipe trabalha para incentivar o hábito da leitura e projeta a manutenção das ações já existentes. “O segundo semestre será de continuidade das ações já desenvolvidas e principalmente, com a realização da Feira do Livro, quando a comunidade se envolve com as atividades literárias e artísticas desenvolvidas durante o evento, o que potencializa o aumento de frequência de usuários à Biblioteca”, afirma.
Talize acredita ainda que a promoção de ações para incentivar a leitura dentro e fora das escolas e a revitalização de espaços públicos são alternativas para melhorar os números. “Estaremos assim, oferecendo formação continuada para professores e membros da comunidade, além de atrair os leitores, elevando a prática da leitura ao nível de importância que ela merece”, explica.

Menos leitores no país

A última pesquisa realizada pela Fundação Pró-Livro e pelo Ibope Inteligência e divulgada em maio de 2016, registrou queda no hábito da leitura. O estudo, intitulado “Retratos da Leitura no Brasil”, divulgado a cada quatro anos, aponta que os brasileiros estão trocando o jornal, revistas, livros e textos, por uma variedade de atividades, com destaque para as redes sociais e WhatsApp.

O estudo também revelou que 104,7 milhões de brasileiros (ou 56% da população acima dos cinco anos de idade) leram pelo menos partes de um livro nos últimos três meses. Em 2011, quando foi realizada a última edição da pesquisa, esse índice era de 50%. Os aumentos foram sentidos nas regiões Sul, Sudeste, Centro Oeste e Norte. No Nordeste, a população leitora se manteve estável (51% de leitores) e os índices de leitura per capita caíram de 4,3 livros por ano em 2011 para 3,93 em 2015.