Não tenho a menor dúvida de que estamos vivendo, no Brasil, os piores tempos desde seu descobrimento. Vivemos a época em que seu território foi explorado ao extremo pelos “descobridores” portugueses e pelos invasores holandeses, franceses e ingleses, corsários ou governantes, desde 1500 quando Cabral aqui aportou, nos séculos XVI e XVII. Muitos conflitos aqui aconteceram, alguns sangrentos. Mas, certamente, nunca tivemos algo parecido com o que se vê atualmente. Não há uma guerra, no sentido específico da palavra, mas uma “guerra fratricida” onde a política é a essência de tudo. Os confrontos políticos do século passado resumiam-se ao confronto de ideias, de posições partidárias. Tínhamos poucos partidos, claro, e isso ajudava a manutenção da ordem. O partido vencido fazia oposição ao vencedor, nunca se colocando contra os interesses maiores do município, estado ou da Nação. No período que antecedeu ao golpe militar-civil-midiático de 1964, que resultou numa ditadura de 21 anos, poucos partidos e políticos se digladiavam. A partir do golpe, apenas dois foram permitidos, a Aliança Renovadora Nacional – ARENA – e o Movimento Democrático Brasileiro – MDB -, sendo que este último, que deveria ser a oposição ao regime militar, nunca o foi. Depois de findar o regime de exceção tivemos uma pseudodemocracia. Sim, porque em 1985 Sarney assumiu indevidamente o poder e convocou uma Assembleia Nacional Constituinte que elaborou uma Constituição fajuta. Um texto feito sob peso e medida para que os parlamentos tivessem o controle de Estados, municípios e da Nação, tornando os chefes dos poderes executivos seus reféns, na medida em que tornaram absolutamente impossível governar sem ter a maioria nas câmaras, assembleias e Congresso Nacional. E essa Constituição fajuta permitiu a proliferação desenfreada de partidos – hoje já existem trinta e cinco, pois recentemente foram criados mais dois, o Rede e o Partido da Mulher Brasileira (acreditem, é verdade) – possibilitando as negociatas que hoje acontecem. Pior de tudo é que as consequências desse excessivo e absolutamente desnecessário número de partidos – criados, talvez, para que muitos pudessem usufruir do Fundo Partidário e da negociação de espaços de divulgação política em emissoras de rádio e televisão – é que, na verdade, sobraram somente dois, o PT e o ANTIPT, ambos recheados de corruptos. O respeito foi para o lixo. Agora é um vale-tudo cujas consequências são imprevisíveis. O Brasil e seu povo passaram a ser apenas “um detalhe”. O importante para a politicanalhada brasileira é o poder, custe o que custar, tudo abastecido pelos “donos do Brasil” e alicerçado numa imprensa podre que abandonou seu objetivo, que era informar, para assumir – alguns setores, veladamente – posições político-partidárias que mais lhes rendem. Assim, os “donatários das capitanias partidárias” não exploram mais o território, como antigamente. Agora exploram toda a Nação e seu povo. Que tempos, hein?