Noite dessas, recebemos a visita de uma “senhorita” toda prosa, que veio acompanhada pelo mais novo membro da família, o Leopoldo Rodolfo. Ela tratou logo de mostrar para que serve a casa dos avós, abrindo e fechando armários e gavetas, à procura de “coisas”, que acabaram espalhadas por aqui, ali e acolá. Ele também foi entrando sem a menor cerimônia e logo passou a fuçar em todos os cômodos, guiado pelo instinto de macho.

Leopoldo – Léo para os íntimos – estava certo: uma fêmea peluda havia se escondido embaixo da cama, numa atitude explícita de que “papo” estava fora de questão. O gorducho não se intimidou. Foi enfiando a cara e a coragem no território alheio, como é típico dos valentões. Deve ser algum resquício do passado, quando o objetivo da raça buldogue era atacar e enfurecer o touro, agarrando o animal pelo nariz.

Não demorou para que a magrela surtasse. Latidos histéricos indicavam que o encontro poderia acabar em tragédia. Fui obrigada a intervir e tive que acomodá-la no andar de baixo, deixando a área vip para o visitante.
Leopoldo Rodolfo tomou conta do pedaço, aproveitando para raspar o pote da outra até o último petisco e bebendo a água até a última gota. Depois procurou o sofá para descansar. Pelo caminho, um rastro de baba.

Perto da meia-noite, a “senhorita” de quase seis anos, que escolhera pernoitar na casa onde rotina e regras existem para serem quebradas, foi persuadida a ir para a cama. Mas com uma condição:
-O Budo (o buldogue) vai comigo.
“Ok! Você venceu!”. Para desligar a menina da tomada, a gente topa qualquer negócio.

Vinte minutos depois, a baixinha botou bronca:
-Pai, não consigo dormir! O Budo ronca muito…
Não foi difícil fazer a baldeação do “cão moto-serra” para a sala. Embora prefira a companhia humana, especialmente a da dona, Léo curte qualquer superfície acolchoada onde possa relaxar seus doze quilos de pura preguiça.

A noite se aquietou. Tudo em paz… aparentemente. Vinte minutos depois, uma figurinha arrastando seu cobertor de plush bateu à minha porta:
-Vó, posso dormir contigo?
É claro que podia! Troca de carinhos e de historinhas até o sono chegar. Lá pelas duas e trinta, acordei sobressaltada:
-Vó, tu tá roncando…
Roncando eu? Impossível! Por via das dúvidas, sugeri à baixinha que voltasse ao quarto de origem. Antes de se acomodar, ela confidenciou ao pai:
-A vó ronca mais que o Budo.
Ainda havia quatro horas pela frente. A noite não estava completamente perdida. Era só fechar os olhos, afrouxar os músculos e… zzzzzzzzzzzzz
Então, às quatro da matina:
-Pai, eu quero comer bergamota.