Quando escrevi artigos e tópicos na coluna, prevendo fortes ajustes na economia, não foi palpite, não foi adivinhação. Foi conclusão do óbvio-ululante. Aliás, já faz muito tempo que estou escrevendo que a previdência social – dos mortais comuns e dos funcionários públicos – iria chegar num ponto insuportável. Na nossa previdência, a concessão de aposentadorias “por tempo de serviço” e não por “tempo de contribuição” escancarava a falha grosseira no sistema, feito sob medida para a politicagem “ficar bem com o povo” e angariar votos. Resultado é o que se vê: um rombo colossal graças às aposentadorias sem a contribuição devida e aposentadorias precoces, com pessoas com menos de cinquenta anos gozado delas e, via de regra, ocupando empregos de pessoas também jovens. Já no funcionalismo público, mesmo com milhares de pessoas a menos do que no sistema dos mortais comuns, o rombo cresce geometricamente. E não poderia ser diferente, já que a precocidade nas aposentadorias é ainda mais acentuada e os valores delas são impagáveis em qualquer país do mundo. Considere-se, também, que muitos conseguem, por serem “amigos do rei”, algum cargo “em comissão” no final de carreira e o “incorporam” na aposentadoria. E se somarmos a isso as “benesses das filhas solteiras” e outros babados que inventaram para o povo pagar, não é difícil concluir-se que, mais hora, menos hora, isso tudo terá que ter um paradeiro por ser impagável para qualquer nação. Os tais de “dereitos adequeridos” serão, qualquer hora dessas, obrigatoriamente revistos. Direito é uma coisa. Privilégio é outra. Por outro lado, nesses vinte e três anos em que sou membro do Conselho Municipal da Saúde, falei “n” vezes que o sistema estava errado. Não há como querer-se que “a saúde é um direito de todos e dever do Estado” se não apontarmos quem pagará a conta. Agora, quando os cofres públicos nas três esferas – municipais, estaduais e federal – sofrem um intenso baque pela queda de receitas, eis que aparecem, com força, as carências financeiras do sistema. A volta da CPMF, abominada até agora, deverá ser implementada brevemente. E a necessidade de se eliminar desonerações tributárias, “incentivos” e “subsídios”, todos sem que a população seja beneficiada, já foi anunciada pelo novo ministro. Exatamente como aqui comentei. Mas, a principal medida a ser tomada creio que ficará esquecida: o combate à sonegação. Em 2015 ela atingiu – número do SINPROFAZ – Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional – quase quinhentos bilhões de reais e em 2016 já atinge duzentos bilhões de reais. Se essa fortuna toda entrasse nos cofres públicos, juntamente com as desonerações, isenções, incentivos e subsídios, sobraria dinheiro para custear tudo no Brasil e aplicar muito na infraestrutura. Mas, o que virá, mesmo, todos já sabem: uma gigantesca conta para, mais uma vez, o povão pagar. E, claro, terá gente que não gostará de ler o que aqui escrevi. Mas, como sempre, o espaço está aberto para contestações.