Os questionamentos a respeito de viver melhor na época avançada da vida têm abundado na mídia, e seu conteúdo nem sempre oferece algo válido além da tríade “comer bem, fazer exercícios regulares e buscar o equilíbrio mental”. Em uma reportagem recente no jornal New York Times, Emma Morano, considerada então a pessoa mais idosa do mundo, aos 116 anos, disse, de forma inusitada, ter o hábito de comer dois ovos crus ao dia, além de carne moída crua. Contudo, seu “segredo” ao qual atribui viver satisfatoriamente por tanto tempo, segundo ela, é o fato de “permanecer independente”. Simples assim, “ser independente”. Este conselho reforça uma descoberta científica muito citada no meio gerontológico, de que o maior obstáculo para a felicidade entre pessoas idosas é depender de outrem para as atividades básicas do seu dia-a-dia.

Listo abaixo o que, à percepção geriátrica, seriam quatro requisitos básicos na busca pelo envelhecer de um modo que valha a pena. São recomendações realistas, baseadas em evidências científicas, e que, notoriamente, se aplicam a todas as faixas etárias, desde a concepção até os últimos momentos da vida. Olhando estes quatro itens, percebe-se que, para viver bem, também é preciso planejamento, pois não é algo que normalmente “caia do céu” apesar de nossa boa fé.

Saúde

“Ser saudável” não é estar livre de doenças, e sim ser capaz de se sentir bem, de pensar e realizar o que se quer. É mais do que fazer um bom check up, ter a pressão e o colesterol normais. Com o passar do tempo, possuir uma cabeça boa e pernas fortes é tão ou mais importante do que ter um coração saudável. Em termos práticos, saúde envolve qualidade do sono, memória, humor, ansiedade, alimentação, peso, capacidade física aeróbica e anaeróbica, postura corporal, flexibilidade, evitação de substâncias tóxicas, e diagnóstico precoce de doenças. Do mesmo modo têm um papel fundamental a realização de vacinas, de exames preventivos específicos e proteção contra acidentes, em todas as idades.

Convivência

Há uma epidemia silenciosa entre nossos idosos, a qual, ao que tudo indica, também nos afetará no futuro, é a “epidemia de solidão”. Ser solitário na terceira idade é muito mais comum, e danoso, do que se imagina. A convivência positiva nos protege contra depressão, sobretudo nos momentos de perda. Por esta razão, indica-se investir na vida comunitária. Participar de associações, promover encontros, cultivar hobbies em grupo e, por que não, conhecer e se adaptar às gerações mais recentes, ajudará a manter o gosto pela vida nas fases boas e más.

Conhecimento

Alguém disse que “o sofrimento vem da frustração, a frustração vem da ilusão, a ilusão vem da falta de conhecimento: sofremos porque não conhecemos”. Talvez não haja causador maior de prejuízos na vida da humanidade do que a ignorância. Adquirido junto aos mais sábios ou através de livros, ter conhecimento faz diferença em todas as situações, até para se manter uma horta ele é fundamental. Ouvir pessoas mais instruídas, ler livros livros, dedicar-se para cursos e outros meios de auto-aperfeiçoamento, repercutem em uma estrutura mental mais resistente aos embates da existência, auxiliam nos momentos de tomadas de decisão e de lidar com perdas. Conhecer a si e ao mundo torna a jornada muito mais interessante, e mais segura. Para manterem raciocínio e memória tenazes, não se pode desistir de estudar, de aprender, de pensar.

Finanças

Sem condições financeiras mínimas, próprias ou de um terceiro que se proponha a garanti-las, é muito difícil envelhecer com tranquilidade. Não só pela necessidade de acesso a profissionais, exames e tratamentos de saúde, muitas vezes caros mas, também, para se conseguir segurança física, atividades de lazer e, na ocorrência de doenças, contratação de cuidados cotidianos adequados. Por outro lado, na riqueza, o desequilíbrio na relação com o dinheiro pode trazer doenças e sérios problemas de relacionamento. Finanças são importantes mas dentro de um limite, que não interfira na busca pelas outras prioridades. O cientista norte-americano Kenneth Cooper afirmou que “quem não tem tempo para cuidar da saúde vai ter que arranjar tempo para ficar doente”.
Para se ter sucesso no envelhecimento, recomenda-se buscar uma condição financeira mínima e estável, cultivar boas relações sociais, cuidar atentamente da saúde e manter um espírito de eterno aprendiz.

Dr. André Moschetta
clínico e geriatra