Esta é certamente uma pergunta que muitos estão se fazendo e que, muito provavelmente, ficará sem resposta. Dificilmente alguém (o Governo, diga-se de passagem) conseguirá satisfazer nossa curiosidade, até porque se trata de uma questão muito mais complexa do que parece.

É importante destacar que, diferente do que muitas pessoas acham – e sabem – os gastos não se resumem à construção de estádios. Eles vão à infraestrutura de aeroportos, portos, metrôs, rodovias, rede hoteleira, mobilidade urbana, serviços públicos de segurança, logística, saúde e tantos outros. Além disso, existe uma despesa distribuída entre o poder público e os particulares, relações difíceis de serem contabilizadas.

Não podemos nos esquecer que a relação com o poder público abrange todas as esferas de governo, pois a Copa do Mundo envolveu União, estados e municípios, o que complica ainda mais a mensuração de valores.

Desde o início ouvimos falar que a Copa do Mundo seria realizada com recursos privados. Como já se esperava (pelo menos eu esperava), isso não foi verdade, mesmo que muitas ações tenham sido realizadas pelo setor privado. Ou seja, nós, contribuintes, pagamos grande parte da conta. E vamos continuar pagando por muito tempo, uma vez que, só para se ter uma ideia, nas cidades-sede da Copa, uma diária de hotel nos dias de jogos custa três vezes mais do que nos outros dias. O preço das passagens aéreas foi parar nas nuvens. E não vamos nos iludir pensando que tudo vai voltar a ser como era antes assim que a Copa terminar…

O que mais decepciona é que grandes obras, aquelas que seriam impulsionadas pela realização da Copa do Mundo, as mais necessárias para a sociedade, que seriam nossos “presentes”, viraram verdadeiros “presentes de grego” (como dizem na linguagem popular), ou seja ninguém sabe, ninguém viu. Falo dos principais aeroportos do país, inclusive o de Porto Alegre, já há muito defasados em relação às nossas necessidades. As obras de ampliação, remodelação, enfim, as melhorias eram o mínimo que se esperava. Assim como se esperava uma melhoria na malha rodoviária. Mas a espera ficou na esperança.

Como se pode ver, a questão é muito mais complexa do que se imagina e não é fácil computar os gastos públicos com a Copa do Mundo, ainda mais com todos os murmúrios de superfaturamento das poucas obras realizadas.

Mesmo que jamais saibamos a realidade de valores, informações dão conta de que os custos da Copa do Mundo somam R$ 25,8 bilhões, o que corresponde a 9% das despesas públicas anuais em educação ou às despesas previstas no orçamento do estado de São Paulo para a área da segurança pública para 2014. Isso é o pouco que se sabe…

Sabemos que este montante não resolveria graves problemas existentes no Brasil, como saúde, educação e segurança pública, péssimas condições de alguns serviços públicos, entre outros. Porém, é o mínimo que podemos exigir pelos altos impostos e cargas tributárias sobre tudo o que consumimos neste país.

E o que vamos levar como herança desta Copa do Mundo? Estádios, manifestos, insatisfação? Não sei. Só sei que agora, que ela está aqui, que ela iniciou, a nós, relés mortais, resta torcer, porque somente a vitória do Brasil, nos dando o Hexa, seria passível de nos fazer amenizar todas as perdas financeiras e infra estruturais, toda enganação que sofremos nos últimos anos, após o anúncio de que a competição seria em nosso país.

Não podemos, de forma alguma, concluir que a Copa do Mundo nos custou pouco, pelo contrário. Nela há muito dinheiro público (meu, seu, nosso), e não se pode dizer que tenha sido bem gasto, pois, as tão esperadas obras não aconteceram.

Desta forma, independente do resultado da competição, o que nos conforta (e espero que nos conforte mesmo) e saber que logo mais, em outubro, teremos mais uma vez a chance de decidir o futuro que queremos para o Brasil. E se queremos estádios, eles já estão prontos. Mas se queremos saúde, educação, segurança, temos que pensar muito bem antes de depositar nossa confiança nas urnas. E agora que a conta já foi e está sendo paga, não adianta mais chorar.