Pois nesse dia 26 de julho comemora-se o dia dos avós em homenagem à Santa Ana e São Joaquim, pais de Maria e avós de Jesus. Você bem sabe que os avós são grandes mágicos que trazem de volta os sabores da nossa infância.

Quando penso na minha avó Pierina com seu exército de cabelos brancos e pele enrugada como estradas por onde as formigas da idade passavam, também penso na avó do Jorge que não frequentava academia de ginástica nem nada, mas exercitava seus braços dando palmadas nos traseiros de seus doze filhos para que formassem juízo.

Penso na avó do Valter que teve uma penca de filhos e quando deu a luz ao caçula, sua filha mais velha já tinha parido há mais de quatro anos.
Penso na avó da Isaura que chamava as galinhas, piri-piri-piri, com as mãos cheias de milho. As galinhas saíam de toda parte. Saíam de dentro do bueiro, detrás das rodas da carroça e debaixo da casa do feno. Penso na avó da Henriqueta que perdeu a vida para dar a vida à filha. Morreu antes de poder ensiná-la a usar as incômodas toalhinhas de pano que precederam os práticos absorventes.

Quando penso na minha avó Pierina, também penso na avó do Vilson que foi avó e mãe ao mesmo tempo, ficando mais velha a cada minuto para criar e educar sozinha quatorze filhos e cinco netos.
Penso na avó do Josemar que num dia de triste lembrança simplesmente enlouqueceu e saiu à rua com um espeto para furar ventos. Penso na avó da Arlete com seus cabelos ruivos e suas varizes parecidas com as raízes das pitangueiras que afloravam o solo do seu quintal, sem conseguir evitar que a ignorância escapasse na cara do filho Celestino. Penso na avó do Lourenço, à beira do tanque de lavar roupa, corpo dobrado em arco, batendo a roupa com raiva, dando a impressão de que iria arrebentar o mundo de submissão a que estava confinada. Penso na avó da Rosália e seus cinco filhos, comedores de polenta e batata-doce, malcriados e que trotavam no repetir de ano na escola. Os meninos cresceram, tornaram-se perversos e tudo o que a avó fez foi ligar o botão do “foda-se”.

Quando penso na minha avó Pierina, também penso na avó da Justina, com seu corpo miudinho e curvado como um grão de feijão, puxando a reza do terço, após um dia de quatorze horas de trabalho duro. Penso na avó da Nineta que ganhou destaque por ter a perna esquerda mais curta do que a direita e que num belo dia decidiu fazer ao contrário de Nossa Senhora e dizer “Não, Senhor” e descartou o marido bebum e mulherengo da sua vida. Penso na avó da Rosane que era a cara da mãe e esta era uma cópia bem feita da mãe dela. Os traços ovalados do rosto, emoldurado por cabelos cacheados castanho-escuro, ambas carinhosas e amorosas com seus filhos. Penso na avó da Assunta que valia por uma boa enfermeira, um bom padre, um bom político, uma boa advogada, uma boa psicóloga e por cem professoras.

Quando penso na minha avó Pierina, também penso nas avós dos assassinos mais brutais da história da humanidade. Penso na avó de Calígula, Hitler, Pinochet, Saddan Hussein e em todos os assassinos sanguinários. Penso nas avós desses monstros desapiedados, como avós zelosas e afetuosas, verdadeiras fontes de ternura e das melhores carícias. Não consigo pensar nelas como fontes de amor tirano e dotadas de uma crueldade que não conheceu limites. Penso nelas como avós devotadas e não tão somente como geradoras de animais literalmente irracionais indomáveis, aptos a cometer as maiores atrocidades.
Quando penso na minha avó Pierina, também penso em todas as avós do mundo que carregam a chave dos segredos dos netos em seus corações.