Debater a importância do planejamento para os próximos 20 anos, foi o tema central do evento na Capital do Vinho

A noite de 26 de abril foi o marco inicial de um novo cenário para o futuro de Bento Gonçalves, sugerindo um olhar estratégico para as próximas décadas. O programa “O Futuro da Minha Cidade” visa desafiar a sociedade a pensar diferente e ter mais engajamento, saindo da zona de conforto. Segundo abordagem realizada, o poder público trabalha com um olhar para cada quatro anos e não em soluções a longo prazo, ou pelo menos não avaliando elas detalhadamente. Soluções políticas tendem a ser mais pontuais.

Em seu pronunciamento, na abertura do evento, o presidente da Ascon Vinhedos Adriano M. De Bacco, disse que o encontro é o passo para sensibilizar a comunidade para pensar no futuro. “É possível a mudança, através de uma parceria público-privada no sentido de nortearmos as ideias, para que possam ser utilizadas na agenda do prefeito, ou dos futuros candidatos a prefeito de nosso município”, afirma.

A primeira palestrante da noite, a jornalista Natália Garcia apresentou conceitos de suas imersões em projetos e cidades que têm foco na qualidade da vida humana, embasando suas palavras no livro “Cidade para as Pessoas”. Para ela, é necessária a busca de exemplos de fora para conhecer projetos bem-sucedidos e, sobretudo, compreender a vocação de cada local. Com base nas projeções apresentadas, o número de pessoas no planeta deverá dobrar de 2015 a 2050, o que representa que em pouco mais de 30 anos poderemos nos aproximar do caos se nada for pensado e planejado sobre o tema. Natália encerrou com uma citação de Henry Lefebvre “Numa cidade, presente, passado e possível são indissociáveis”, ressalta.

Para Natália, é necessária a busca de exemplos de fora para conhecer projetos bem-sucedidos e, sobretudo, compreender a vocação de cada local. Foto: Eduardo Leal.

Com uma abordagem prática e objetiva, Silvio Barros – consultor e ex-prefeito de Maringá, eleita a melhor cidade do brasil – foi enfático ao dizer que as decisões políticas afetam diretamente a nossa vida, mas que em uma democracia a população também é responsável. “A sociedade civil organizada deve blindar projetos políticos, para que sejam pensados ao encontro do projeto da sociedade. O prefeito deve ser um executivo que administra os recursos públicos”, observa.

Ao final, os palestrantes voltaram ao palco, junto ao prefeito Guilherme Pasin e responderam perguntas da plateia, mediados pelo coordenador do projeto Rogério Spiller e pela presidente do projeto Viva Bento, Letícia Zanesco. Circulou entre os presentes uma lista intitulada de “Apaixonados por Bento Gonçalves”, que reuniu nomes de pessoas interessadas em dar andamento ao planejamento de ações, que serão consultados para formar um grupo de trabalho.

Representantes de entidades e empresário ressaltam a importância do evento e analisam os próximos passos

“É muito importante um projeto como este, tendo em vista a forte adesão das entidades de Bento. Estamos empenhados nesta primeira etapa que é a de sensibilizar a sociedade. A partir de agora, vamos elencar os projetos que poderão ser evidenciados, ver a real situação de cada um deles. Queremos fazer com que a sociedade abrace esta ideia, para depois fortalecer as próximas etapas que estarão sendo elaboradas com a união do Centro Empresarial, da sociedade e de todos que possam integrar esse programa”. Adriano De Bacco – presidente da Ascon Vinhedos.

“É de extrema importância e dever de todo o cidadão que tem apreço pelo nosso município, interagir, pensar, contribuir e se envolver com esse projeto. Eu acredito que será um aprendizado fantástico, onde vamos conseguir implementar ações práticas de apoio ao Poder Público. As entidades e a iniciativa privada têm o seu dever de participar, contribuir e debater o que nós queremos para Bento Gonçalves daqui duas décadas. Esse projeto vem fortalecer ainda mais a interação de todos os entes pensando nesse desenvolvimento com controle, de forma adequada e segura”. Elton Gialdi – presidente do CIC-BG.

“Como o modelo já foi aplicado com sucesso em outras cidades, entendo que deve seguir o mesmo procedimento nelas adotados, aproveitando as experiências positivas e negativas, com vistas a já se implantar com mais qualidade. O projeto é de fundamental importância, principalmente porque é uma proposta que nascerá com protagonismo de entidades representativas da comunidade, retirando qualquer interesse político/partidário ou de representação de algum setor em específico. Também cabe ressaltar que está se falando em um projeto que já tem tido sucesso em outras cidades; tem uma metodologia de implantação já testada. Me parece que há bastante chance de dar certo e ter continuidade, o que não ocorreu com outros projetos realizados aqui na nossa cidade. Tive o privilégio de ter sido o coordenador do projeto “Bento Ano 2000”, idealizado pelo Rotary Bento Gonçalves-São Francisco em 1985, bem como liderei a comissão de desenvolvimento econômico do projeto “Repensando Bento”, elaborado pelo CIC-BG. Infelizmente estes dois projetos não tiveram continuidade”. Cedamir Poletto – empresário.

“Planejar o futuro das nossas cidades é fundamental para um futuro sustentável para as pessoas, a economia e os recursos naturais de que precisamos. Em anos passados, por exemplo, tivemos um crescimento muito centralizado e agora sofremos com dificuldades no fluxo das pessoas. Em Bento Gonçalves, temos uma produção industrial e atividade econômica intensos, que precisam de condições adequadas para se desenvolver sem interferir na qualidade de vida das pessoas. Dentro da indústria de transformação, o segmento moveleiro é o que mais emprega no nosso município. Dessa forma, o Sindmóveis tem um papel importante nas discussões sobre o futuro de Bento Gonçalves – mas não apenas a entidade. É preciso que todos participem da continuidade desse projeto. A apropriação do território é o que torna as cidades mais vivas e podemos perceber claramente que o desenvolvimento ocorre com mais fluidez naqueles lugares onde as pessoas têm uma sensação de pertencimento – porque disso nasce um sentimento de corresponsabilidade. O primeiro encontro do projeto  “O Futuro da Minha Cidade” foi bastante frutífero, mas agora vamos continuar semeando a ideia e buscando uma maior participação”. Edson Pelicioli – presidente do SindMóveis-BG.

Fotos: Eduardo Leal e Aquivo