Minha casa até que está bem posicionada geograficamente, mas perde pelas que se instalaram no último andar do aclive – ou declive, dependendo do ponto de vista. Estas são privilegiadas. Além da paisagem aos seus pés, elas têm a Lei da Gravidade ao seu favor: todo excesso de água escorre para baixo.

Por causa disso, o gramado dos fundos está sempre encharcado e, furando o bloqueio da mureta, um riozinho de origem duvidosa avança pelo pátio e lambe a escada pelo ângulo da inclinação.

Na tentativa de minimizar os efeitos dessa “aguada” toda, estou tentando uma solução politicamente correta, sem me incomodar nem desacomodar os outros. Simplesmente finquei na terra duas promessas de salgueiros-chorões, que têm fama de beber todas, e desde então venho acompanhando o seu desenvolvimento.

A natureza é pródiga. Na segunda semana, a seiva explodiu em brotos, que logo viraram tenras folhinhas. Mas, numa noite, algo aconteceu: os galhos ficaram totalmente depenados. Pelo meu conhecimento empírico, deduzi que os larápios seriam formigas cortadeiras. Fiquei “pê da vida”. Por que cargas d’água elas tinham que escolher justamente dois projetos de árvore para suprir as despensas subterrâneas, com tanta erva daninha empesteando a grama?

Urgiam providências. Enrolei plástico na base dos galhos nus para impedir a escalada das gatunas, e esperei eles se recuperarem. Coisa que não demorou. Numa manhã, ao abrir a porta… Surpresa! Não restava uma folhinha sequer para contar a história.

É óbvio que não entreguei a rapadura. Seguindo os conselhos da doadora dos ramos, forrei a parte inferior deles com algodão, que, em tese, bloquearia a passagem das saúvas. E outra vez a natureza colaborou salpicando de verde o marrom dos galhos. Então… Vocês já sabem: voltaram a ficar totalmente desnudos.

Já desanimada, fui orientada a fazer uma sainha de polietileno, capaz de desafiar as habilidades de subir das bandidinhas. E tudo se repetiu: brotos, folhas e… formigas. Driblando o inferno astral, reforcei a armação com mais uma anágua e… Bom, o placar está em 5×0.

De uma forma meio caricata, essa minha experiência serve para representar a luta do agricultor, especialmente do pequeno, no seu dia a dia. Reporta à vulnerabilidade de uma atividade que está sujeita ao humor do tempo, às preferências dos fungos e pragas e, pra piorar a situação, da chegada de dois “moleques” muito arteiros: El Niño e La Niña.

Decididamente, trabalhar na terra é uma profissão de risco.