Devido aos estudos científicos promissores como opção para tratamento de Covid-19, droga é incluída como método preventivo. Anvisa se posiciona contra o uso rotineiro

Usado, normalmente, para combater vermes e piolhos, o vermífugo Ivermectina ganhou uma nova utilização: uma possível terapia para Covid-19 como método preventivo. Infelizmente, parece que estamos diante de uma nova edição da saga da cloroquina, hoje contraindicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) por causa de seu risco cardiovascular e da ineficiência demonstrada nos estudos mais confiáveis publicados até o momento.

A reportagem do Jornal Semanário entrou em contato por telefone com 10 farmácias de Bento Gonçalves e a resposta foi unânime: a procura pelo medicamento aumentou expressivamente. Uma média de 30 vezes mais, comparado ao período anterior à pandemia. Ao menos quatro estabelecimentos chegaram a relatar a falta nas prateleiras.

Em umas das farmácias, a atendente disse que eram vendidas duas caixas em uma semana. Agora, são 60 em um dia, um aumento de 21.000%. Uma farmacêutica, que preferiu não ser identificada, diz que muitos pacientes com sintomas chegaram com prescrição médica para comprar o vermífugo. No entanto, o remédio ainda pode ser vendido sem receita, diferente do que acontece com a hidroxicloroquina, sujeito a controle especial, cumprindo a Portaria 344/98 do Ministério da Saúde.

O médico pneumologista, em Bento Gonçalves, Adriano Müller, observa que o momento é delicado. “Estamos numa situação muito crítica, com estudos chegando, mostrando pouco efeito das medicações, e ainda não finalizados”, pondera.

Após ser liberada para o tratamento de casos críticos de Covid-19 pelo Ministério da Saúde, no dia 27 de março, e passar a integrar o protocolo contra a enfermidade, na cidade muitas pessoas foram às farmácias comprar o sulfato de hidroxicloroquina. Dessa forma, o medicamento está em falta nos laboratórios e distribuidoras. A explicação se deve à venda prioritária ao Estado e prefeituras, além dos serviços de saúde, hospitais e clínicas, para evitar o desabastecimento.

O que diz a Anvisa?

Diante da busca pela medicação, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) se posicionou contra o uso rotineiro desta para prevenção e tratamento da doença pelo novo coronavírus, reforçando que o medicamento antiparasitário tem apenas indicação para uso conforme o que consta na bula.

Em nota, divulgada no dia 10 de julho, a Anvisa diz que “inicialmente, é preciso deixar claro que não existem estudos conclusivos que comprovem o uso desse medicamento para o tratamento da Covid-19, bem como não existem estudos que refutem esse uso. Até o momento, não existem medicamentos aprovados para prevenção ou tratamento da Covid-19 no Brasil. Nesse sentido, as indicações aprovadas para a ivermectina são aquelas constantes da bula do medicamento”.

Alerta sobre Ivermectina de uso veterinário

Antes mesmo da pandemia, a Anvisa já alertava sobre o risco do uso da Ivermectina como medicamento veterinário por humanos, pela concentração do princípio ativo em relação ao remédio humano e pela falta de comprovação científica que ateste a segurança e a eficácia do uso dessas formulações em pessoas.

O medicamento veterinário é usado no controle e tratamento de parasitas internos e externos dos animais domésticos. Os de uso veterinário possui formulações diferentes do para humano, tanto que eles são registrados no Ministério da Agricultura, enquanto os medicamentos para humano são registrados na Anvisa.

Prefeitura adquire 12 mil comprimidos

A prefeitura de Bento Gonçalves comprou 12 mil comprimidos de Ivermectina para utilizar no tratamento precoce da Covid-19. O contrato não teve licitação – em razão do período emergencial – e foi publicado no Diário Oficial do Município na segunda-feira, 13. O valor da compra foi de R$ 28.320.

A droga poderá ser utilizada por meio da adoção de um protocolo clínico farmacológico em nível regional, que já está sendo elaborado e autorize a prescrição médica do produto. Para fazer uso da medicação, continua sendo necessária autorização de pacientes ou familiares e da indicação do profissional médico.

Durante reunião virtual da Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste (Amesne), o prefeito Guilherme Pasin apoiou a iniciativa e afirmou que o protocolo tem o propósito de garantir segurança aos profissionais da saúde. “O cidadão precisa optar pelo tratamento do kit ou o convencional. É uma escolha dele, mas não só dele, é também uma decisão médica. É um protocolo de segurança profissional e oportunização para os pacientes”, pontua.

Ouvimos muitos profissionais para que pudéssemos ter a segurança de implantação, com exames específicos para cada situação. Guilherme Pasin, prefeito de Bento

De acordo com Pasin, o município assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para adoção de tratamento precoce da doença aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), o que garante ao médico, com concordância do paciente, o direito da escolha do melhor tratamento a ser feito. “Estamos trabalhando no protocolo para implantação do tratamento. Para isso, juntos aos municípios integrantes da Amesne, ouvimos muitos profissionais para que pudéssemos ter a segurança de implantação, com exames específicos para cada situação”, garante.

Antes de efetuar a compra, Pasin disse que o município buscou junto ao governo federal e ao estado a possibilidade de envio da Ivermectina, porém, sem êxito. Sendo assim, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) buscou a manipulação da cloroquina, hidroxicloroquina, e adquiriu Ivermectina, zinco e vitaminas C e D. “Com a chegada dos medicamentos e conclusão do protocolo poderemos dar seguimento ao tratamento de pacientes que apresentarem sintomas”, espera o Prefeito.

Motorista curado do coronavírus usou cloroquina

Em maio deste ano, o Jornal Semanário conversou com o motorista Auri Teixeira da Rosa, que completou 60 anos fazendo tratamento para a Covid-19. Quando os sintomas começaram, nem passou pela sua cabeça que pudesse ser coronavírus. Ele contou que teve fortes dores no corpo, mas pensou que fosse do esforço do trabalho. “Decidi então ir ao PA 24 horas São Roque. O médico que me atendeu me deu tratamento de cinco dias, pediu para eu ficar em casa e, se eu não melhorasse, deveria procurar a UPA. No sábado surgiu a febre, mais dores e perda do olfato. Passei assim o fim de semana”, diz.

Na semana seguinte, sentiu piora e foi internado na UPA, e, após dois dias, foi transferido para o isolamento do Hospital Tacchini. O motorista relata que fez uso da cloroquina para se curar da Covid-19. “No segundo dia de internação me pediram se autorizava e assinei um termo de responsabilidade. Três ou quatro dias depois já estava bem melhor, não tive nenhum efeito colateral”, lembra.

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