Em entrevista ao Jornal Semanário, o empresário Elton Paulo Gialdi fala abertamente sobre assuntos do cotidiano de Bento Gonçalves e responde a questões polêmicas, ressaltando a importância da ética e da retidão nas escolhas profissionais

À frente da empresa da área de transporte e logística que é líder no estado do Rio de Janeiro no segmento de móveis Planejados, Elton Paulo Gialdi, aos 50 anos assumiu o Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC-BG). Discreto, tem a grande preocupação de concluir o que inicia e pensa muito no quanto pode contribuir para melhorar a sociedade.

Como bom descendente de italiano, valoriza a família. E por falar em família, eis o cerne que rege sua vida. “Família é tudo” resume o empresário, que é natural de Anta Gorda. Casado há 20 anos com Alexandra Marina Gialdi, expressa o maior orgulho ao falar dos filhos Ângelo (11) e Enzo (15) e da educação que o casal passa aos jovens. “É preciso ter muita coerência e cumplicidade entre o casal para poder educar os filhos. O papel do pai e da mãe precisa estar ajustado. Tem que pensar muito bem nas decisões e não voltar atrás, pois a criança é muito sensitiva. Na adolescência, o parâmetro muda para os amigos, quando é preciso ficar atento aos relacionamentos dos filhos” orienta Gialdi, acrescentando que “paciência e diálogo são fundamentais e, acima de tudo, saber se posicionar”.

A vida profissional começou aos 17 anos, quando morava em Triunfo, e se inscreveu no curso de aprendizagem industrial em siderurgia. Trabalhou na empresa Aços Finos Piratini (hoje, Gerdau) e forjou sua carreira, iniciada com trabalho bruto num forno com capacidade de 25 toneladas de aço, até o administrativo. Foram cinco anos de muito conhecimento nas mais diversas áreas da empresa. “Um dos segredos do sucesso profissional é dominar todas as áreas da empresa, conhecendo a fundo os processos envolvidos. É saber dar o exemplo prático; o exemplo pelo conhecimento. Infelizmente as novas gerações estão perdendo essa aprendizagem e estão muito teóricas. Tem que buscar o equilíbrio entre a teoria e a prática” aconselha.

Aos 24 anos, Elton Gialdi decidiu embarcar numa aventura e foi desbravar Rondônia. Mais tarde se estabeleceu em Bento Gonçalves para trabalhar na empresa do irmão, onde ficou por 10 anos já no setor de transportes, depois participou de outra sociedade por seis anos. Quando completou 40 anos, assumiu o desafio de ter a própria empresa. Há 10 anos no mercado, a Mérica Transportes e Logística conta com 155 funcionários, duas filiais (Rio de Janeiro e Niterói) e é líder no segmento que atua.

Além da empresa, Elton Gialdi também ocupou cargos em entidades locais. É vice-presidente da CIC Serra, que congrega 14 municípios, foi diretor de Comunicação e Marketing do Centro da Indústria, Comércio e Serviços, e presidente do Consepro.

Gialdi recebeu o Jornal Semanário na nova sede do CIC, promovendo a oportunidade de conhecer um pouco sobre o que pensa e como age o empresário, o pai de família, a liderança comunitária e empresarial que inicia uma nova fase em sua vida.

Jornal Semanário – Como foi parar na Presidência do CIC?
Elton Gialdi – Foi uma agradável surpresa. Quando o então Presidente Laudir Picoli me convidou, ele ressaltou que a escolha se devia muito pela minha característica participativa e voluntariosa. E, acredito que pesou muito que quando assumo um projeto tenho uma dedicação muito plena à causa. Quando integrante da diretoria sempre fui muito participativo. Uma das minhas características é que sempre agi com muita seriedade e empenho nas empresas e entidades onde atuei, por acreditar na busca do conhecimento e por identificar as oportunidades quando elas surgem. Mas é preciso se preparar para isso. Estar presidente do CIC é uma grande gratificação e uma enorme responsabilidade.

JS – Como vê a estrutura do CIC?
Gialdi – A entidade, como um centro de empresas, tem uma obrigação de mostrar toda uma qualificação de competência e de serviços. A melhoria é um processo contínuo que não cessa jamais. Diariamente devemos buscar uma nova forma de fazer as coisas, de maneira dinâmica e mais qualificada. E é o que vamos tentar implementar nesta gestão. A estrutura física é um legado muito importante, deixado por todas as lideranças que passaram pela entidade, assim como a excelência herdada por diretorias que nos antecederam. A ExpoBento é um exemplo, onde sua evolução com a diretoria sendo parte do CIC proporciona maior harmonia e integração nos trabalhos desenvolvidos pela feira.

JS – E a política de objetivos na gestão do CIC. Qual será seu foco principal?
Gialdi – Tenho como foco principal na minha gestão trazer para essa nova casa um número mais significativo de associados, criando estratégias como boa oferta de treinamento, de qualificação, uma boa comunicação do que a entidade oferece e saber vender esses produtos e serviços. Queremos que, realmente, o associado do CIC perceba que vale a pena fazer parte da entidade. Hoje são cerca de 700 associados e queremos ampliar esse número.

JS – Como pretende atrair mais associados às reuniões do CIC?
Gialdi – As reuniões-almoço que o CIC promove são uma grande oportunidade de se criar uma rede de relacionamentos. É preciso intensificar essa dinâmica e mostrar para o associado a importância destes encontros.

JS – Em cidades menores que Bento as entidades que agregam as empresas têm mais associados que o CIC de Bento, qual a sua visão sobre isso?
Gialdi – O mundo, hoje, está muito mais virtual, muito mais rápido, onde as pessoas têm mais compromisso. E muitas vezes não se tira aquele tempo de participar de uma entidade, de fazer uso de toda a estrutura física e de serviços que é oferecido. Pela grande quantidade de entidades que Bento Gonçalves agrega, por ser uma cidade pujante, há um fracionamento, pois as empresas acabam buscando quem representa o setor. Por isso, integrar vai ser um grande desafio. Precisamos fazer um associativismo forte.

JS – Que proposta renovadora pretende levar aos empresários de Bento?
Gialdi – Vamos fazer um diagnóstico e identificar o que o associado busca na entidade, qual o treinamento que ele precisa para sua empresa? Qual o palestrante que ele gostaria de ouvir? Precisamos entender qual o motivo da pouca participação dos associados nos cursos e treinamentos. Tenho certeza de que todas as empresas gostariam de ter um profissional treinado, com conhecimento e novas técnicas em sua equipe de trabalho. Cabe a nós, enquanto entidade, despertar esse entendimento, essa necessidade.

JS – As entidades que agregam o comércio têm restrições ao CIC, se sentem desprestigiadas. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
Gialdi – Não vejo esse distanciamento, pois sempre que é preciso fazer algo coletivo existe uma união com as entidades do setor. Vejo sim que cada entidade tem uma bandeira para carregar e cada uma está preocupada com a sua bandeira. Não acredito que exista essa restrição. Acho que todos os diretores dessas entidades que representam o comércio são desprovidos de sentimentos pequenos. Pode sim, haver uma maior integração. A CDL e o CIC, por exemplo, são parceiros na decoração natalina do município. Tudo que possa construir e unir é bem vindo. O comércio compõe de forma intensa o CIC e nossa visão é de ampliar isso.

JS – Do que Bento mais precisa em seu entender?
Gialdi – Bento Gonçalves precisa de lideranças que tenham interesse de trabalhar pela nossa sociedade. Bento precisa motivar seus cidadãos para participarem mais e de forma positiva, desenvolverem mais o voluntariado e terem uma visão filantrópica mais generosa. Filantropia não tem de ser entendida como uma obrigação apenas do governo ou da Igreja. Filantropia tem que ser exercida pelo cidadão. O Brasil é muito tímido neste quesito. Bento Gonçalves é uma cidade pujante e podemos despertar mais pessoas para trabalharem pelo bem coletivo, a olharem o seu vizinho de forma menos egoísta.

JS – Qual sua visão sobre o processo de renovação das lideranças?
Gialdi – As pessoas vivem cada vez mais o seu mundo, de forma mais individualista. É um reflexo dos novos tempos. Por isso, ainda não descobriram o quanto é prazeroso participar de uma entidade. Também é preciso perder o medo de assumir responsabilidades. Participar é fundamental, até para não deixar um espaço vazio que vai ser ocupado por pessoas que não fariam tão bem o quanto você faria.

JS – Sua visão sobre inclusão social, migração, erradicação da pobreza, geração de emprego, assistência aos desamparados, carentes, o compromisso social dos Empresários?
Gialdi – Precisamos desenvolver, e muito, essa característica no nosso empresariado, na nossa sociedade. Vivemos numa cidade que nos dá tanto, que nos propicia tanto retorno profissional, econômico e de oportunidades. Nada mais adequado do que ter um olhar mais humano sobre a nossa própria sociedade. E participar mais efetivamente da solução dos problemas. Tornar nossa sociedade mais saudável. E isso passa pelas nossas lideranças, pelo nosso empresariado, pois não podemos ficar na lamúria que tudo é obrigação dos governos. Precisamos construir viabilidades para nossas comunidades, seja nos bairros, seja numa escolinha que está ao lado da nossa empresa. Seja dando, até, uma condição mais favorável aos colaboradores da empresa.

JS – Por que temos número reduzido de empresários voltados também para ações comunitárias?
Gialdi – Os últimos anos foram difíceis para o empresariado e em função disso acabou potencializando a situação de focar na própria empresa e ser menos participativo nas ações comunitárias. Mas acredito que isso pode, e deve, ser melhor trabalhado, despertando os empresários para essas questões, construindo uma cidade muito mais positiva. O Consepro é um exemplo bem claro, onde a classe empresarial ajudou a implantar o sistema de monitoramento em Bento Gonçalves que tem contribuído nos flagrantes de delitos.

JS – Sua visão sobre a atuação das entidades que congregam a classe trabalhadora? Que relacionamento terá com elas?
Gialdi – O CIC tem que liderar um relacionamento positivo e saudável, muito próximo e amistoso. É importante que se tenha um bom entendimento, um canal aberto com boa comunicação.

JS – Como explica o fenômeno Lula?
Gialdi – O CIC é uma entidade apartidária. Mas, eu entendo que todos os escândalos que afloraram com as investigações da Lava Jato denegriram os aspectos positivos. O Brasil precisa de políticos de caráter, de postura ética na sociedade e, principalmente, nas lideranças que representam nosso país, nosso estado, nosso município. Tem que parar com essa ideia de que “roubou, mas fez”. Se, roubou, já cai por terra qualquer lado positivo que possa ter ocorrido.
Nas próximas eleições é preciso ter uma renovação de nomes, que representam realmente a sociedade, com uma nova visão e perfil de republicanos, de trabalhar pelo bem coletivo, defendendo os interesses de todos e não apenas de uma classe. Cada corporação está defendendo seus interesses. O judiciário não quer perder seus benefícios, o Legislativo não quer perder suas regalias e o Brasil está pagando uma conta muito alta por isso. O Executivo é muito refém do Legislativo, que abre um balcão de negócios. As pessoas perderam o senso da ética e o que estamos presenciando é um crescimento estratosférico da corrupção.

JS – A perspectiva do empresariado de Bento é bipolarizada em dois segmentos, vinhos e móveis? Como conduzir as questões relativas ao mercado, cada vez mais difícil?
Gialdi – Eu acrescentaria mais um setor que é importante em nosso município, que é o de transporte e logística que empata com o de São Paulo. Não existe outro local no Brasil, com exceção da capital paulista, que tenha tanta oferta, de qualidade, de empresas que atendam todo nosso país. Bento Gonçalves é um case de sucesso neste segmento.
O setor moveleiro, através de suas entidades, conseguiu ter uma união de trabalho que tem se destacado. O setor vinícola demanda uma integração maior, que consiga desenvolver ações junto a entidades e que trabalhem para que a Fenavinho volte a ser realizada. O CIC está se dedicando para que possamos reerguer uma de nossas principais bandeiras da cidade, que é a Fenavinho. Mas o setor vinícola precisa sair da zona de conforto em que se estabeleceu e ter um maior envolvimento com o turismo e a Fenavinho, exercendo o tamanho da sua grandeza plena. O CIC é um incentivador para que o segmento revele suas lideranças, seus expoentes. Precisamos quebrar alguns paradigmas.
Outra questão que considero importante destacar e que está muito enraizada na nossa cultura, mas que precisamos provocar uma mudança é a do “vestir o sofrimento” e se lamentar. E muitos jovens ainda perpetuam esse estigma.

JS – Crianças e juventude de Bento. Na sua visão qual a perspectiva de futuro?
Gialdi – O Brasil peca no controle de natalidade. É um assunto polêmico, que é evitado. Mas o que vejo são muitos adolescentes já com filhos, que vão pagar um preço muito alto pela irresponsabilidade dos pais, que geram e depois acham que o governo é quem deve prover o sustento dos mesmos. Precisamos de projetos que integrem essas crianças à uma realidade um pouco melhor daquelas que vivem e conhecem, caso contrário vamos ter uma leva de cidadãos desprovidos de conceitos do que é certo e errado e sem limites do que é viver em sociedade.
De um modo geral, independente de classe social, vivemos o reflexo de uma desestruturação familiar, tanto o erro por ter de menos, como por ter de mais. Vivemos numa sociedade muito consumista. Para resolver, precisamos disseminar a educação e a cultura do que é correto, dos bons valores, da retidão de conduta de caráter. Os assuntos que nossa sociedade se interessa e discute, hoje, não são os que trazem melhorias.

JS – Seu conselho a uma pessoa que pensa a vir ser um empresário?
Gialdi – Acima de tudo ter coragem e fazer um bom planejamento. Manter uma conduta ética, de retidão e de relacionamento. Faça sempre o teu melhor, independente de onde estiver, que quando a oportunidade acontecer vai estar preparado.

JS – Aeródromo é importante para Bento? Se é, porque não foi concluído com as obras de contenção e estação de passageiros?
Gialdi – É uma obra importante, que vai trazer resultados a médio e longo prazo. A dificuldade de término está ligada aos recursos para investimentos estão escassos no atual momento econômico.

JS – Se o senhor fosse Prefeito, que medida tomaria de imediato?
Gialdi – A primeira ação seria criar uma boa equipe de assessoramento, cuidando muito da meritocracia e qualificação de cada assessor. Entendo que o funcionário tem que ser competente e não meu amigo. Como empregador tenho que fazer a minha parte e ser justo, e cobrar do colaborador a sua participação na construção do dia a dia. E não de trabalhar apenas pelo salário.
É preciso ter uma postura adequada, cumprir com os acordos firmados e com as obrigações e responsabilidades assumidas. Isso é fundamental em qualquer situação, seja como empresário, a frente de uma entidade, como funcionário ou como prefeito. Tem que dar o exemplo.

JS – Sua visão das feiras: Movelsul, Fimma, Expobento. O futuro.
Gialdi – Bento Gonçalves deve muito às feiras que são realizadas no município, sempre com muito sucesso. Acredito que é preciso uma estruturação para que possamos atrair mais feiras, uma vez que gera desenvolvimento, renda e turismo. Nossas feiras contam com uma qualidade de serviço e atendimento que promove muitos comentários positivos e elogios.