Não é de hoje que o consumidor de Bento Gonçalves percebe que paga mais, na comparação com outras cidades gaúchas, para adquirir a maioria dos produtos e serviços comuns a todos os municípios e essenciais para o dia a dia. O caso do preço do gás é um exemplo acabado que confirma a regra: aqui se paga o maior valor por um botijão caseiro de 13 litros. Em média, o bento-gonçalvense paga quase R$ 47 pelo produto, valor confirmado pela mais recente pesquisa da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) realizada entre os dias 8 e 14 deste mês em 43 cidades, que avaliou o preço praticado em 10 pontos de vendas da cidade.

O preço do gás em Bento é o mais caro na comparação com os restantes 495 municípios gaúchos. Desde o ano passado, a cidade ostenta a primeira posição no ranking. O problema maior é que a pesquisa da ANP foi realizada antes do aumento do preço do gás natural anunciado pela Sulgás, que entrou em vigor na segunda-feira, 16, e eleva em 9,7% o valor cobrado das indústrias e do comércio e em 14,4% o produto para veículos. Isso quer dizer que, em muitos casos, o consumidor final deverá pagar o preço da conta, ainda que indiretamente. Isso se o próprio preço do botijão não sofrer reajuste até o final do ano, o que é uma possibilidade não descartada pela maioria dos comerciantes na cidade.

A Sulgás alega que o aumento do gás natural está relacionado à pressão do dólar, já que todo insumo distribuído no estado vem da Bolívia e é precificado na moeda norte-americana. Com isso, a empresa viu sua previsão de lucro líquido em 2013 cair. O aumento, de acordo com a empresa, tem como objetivo manter o fluxo de caixa e garantir a realização de investimentos. Neste momento, ao menos, a empresa garante que não haverá aumento para as residências. Mas, como o gás natural é considerado uma opção para reduzir custos, principalmente na produção das indústrias do polo metalmecânico da Serra, o aumento está causando indignação. Hoje, a matriz energética das grandes empresas está baseada na utilização do gás e, portanto, o aumento deve pesar muito, reduzindo ainda mais a competitividade das empresas.

De acordo com a Sulgás, o custo para aquisição do gás natural boliviano subiu cerca de 80% nos últimos dois anos – e cerca de dois terços desse montante é resultado da variação cambial. Nesse período, a Sulgás alega que assumiu grande parte do incremento sem repassar aos clientes, e afirma que elevou o volume de investimentos nos últimos anos, aplicando R$ 90 milhões desde 2011 na expansão da rede de distribuição do produto. O impacto será maior para quem usa o gás veicular, mesmo que o novo valor ainda fique abaixo dos preços de gasolina e álcool.

O certo é que, se não agora, o consumidor acabará sentindo o reflexo do novo aumento em um futuro não muito distante. Seja nos bares e restaurantes, seja nas corridas de táxi, ou mesmo no valor final dos produtos industrializados, a conta deverá aumentar. Para o bento-gonçalvense, será um prejuízo a mais para quem já desembolsa o maior valor do estado para ter em sua casa um prosaico botijão de gás.