Em comparação a outubro do ano passado, o aumento foi de mais de 19%. Economista explica o porquê de a alimentação estar custando mais caro

O aumento no preço de itens básicos para a sobrevivência, como alimentos essenciais para o cotidiano, além do gás de cozinha e energia elétrica, tem assustado – e muito – os consumidores. Em um supermercado de Bento Gonçalves, por exemplo, a chuleta custava R$ 34,90 em maio e a carne de frango, R$ 8,97. Na pesquisa divulgada neste mês pelo Procon, no mesmo estabelecimento, a chuleta está custando, atualmente, R$ 39,90 e o frango, R$ 10,90.

No total, em cinco meses o aumento foi de 2,73%, valor significativo quando convertido para reais. Em maio, o preço médio da cesta básica para uma família de quatro pessoas era R$ 930,04. Agora, os mesmos produtos custam R$ 955,45.

A comparação fica ainda mais alarmante quanto aos resultados do ano passado, quando a média para consumo de quatro pessoas era de R$ 802,30, 19,08% a menos que atualmente. Em outubro de 2020, se gastava, em média, R$ 200,37 por pessoa no mercado mensalmente. No mesmo mês de 2021 o valor é de R$ 238,86.

Segundo o economista Rogério Tolfo, há alguns fatores que impactam no aumento dos preços, como o fato de que a moeda brasileira desvalorizada em relação ao dólar incentiva as exportações. “Produtos como soja, café e carnes, por exemplo, são cotados em dólar e seguem sendo exportados pelo Brasil em montantes superiores à média, reduzindo a oferta no mercado interno, o que impacta nos preços. Isso incentivou que os produtores e fabricantes exportassem até produtos que o país não possui muita tradição no setor externo, como arroz. É mais lucrativo exportar em função do ganho cambial do que comercializar no mercado interno, ao menos no cenário atual”, explica.

Tolfo pontua, ainda, que a pandemia gerou uma desordem econômica mundial. “Paralisou a economia e na retomada a demanda por insumos, matérias-primas e produtos finais cresceu muito sem a correspondente elevação da oferta, o que impacta nos preços de embalagens e insumos em geral”, elenca.

Outro fator foi o auxílio emergencial concedido pelo governo federal. “Aumentou o consumo dos produtos da cesta básica num momento em que a oferta não conseguiu acompanhar”, destaca.

Por fim, ele ressalta que a inflação crescente impacta nos preços futuros. “Energia elétrica e combustíveis, por exemplo, estão aumentando sistematicamente e impactando nos custos de produção e na inflação”, sublinha.
A tendência, de acordo com o economista, é que os preços subam ainda mais no curto a médio prazo. Isto porque expectativas indicam que a inflação possa superar 10% neste ano. “A razão é a dificuldade de adotar medidas que equilibrem oferta e demanda no curto prazo, não só dos produtos finais, mas também de insumos e matérias-primas. Adotar mecanismos que controlem a desvalorização cambial e gerem menor incentivo às exportações pode ser fator importante. Mas tem que ser feito com equilíbrio, pois uma medida dessas acontece a partir de aumento importante dos juros”, realça.

Além disso, Tolfo frisa que realizar os investimentos em infraestrutura, como na geração de energia elétrica, vai inibir situações como a atual, onde os preços subiram para conter a possibilidade de apagão elétrico. “Com o tempo, a economia volta a ser organizar. Não vejo o cenário atual como a volta dos tempos de inflação, mas sim o que há é o aumento inflacionário gerado por incremento de custos, que impactam nos preços finais dos produtos, além do desequilíbrio oferta e demanda, situações que são momentâneas”, acredita.

O que a população deve fazer agora é se organizar para evitar gastos desnecessários. “Todos estão sentindo a inflação e o aumento dos preços, mas, ainda assim, ações são possíveis para que os aumentos doam menos no bolso dos consumidores. Ter um orçamento familiar que demonstre onde o salário está sendo gasto é bem importante, pois permite que se planeje os custos”, recomenda o economista.

Ademais, o profissional da economia aconselha buscar ofertas de produtos e focar na aquisição de substitutos daqueles que se costuma comprar, caso o preço desses aumentem muito. “Por exemplo, reduzir o consumo de feijão e aumentar o de lentilha ou trocar carne de gado por carne de frango. Controlar o gasto com energia elétrica e combustível também é importante. Além disso, priorizar a compra de hortifrúti granjeiros da estação é importante, pois estes estão no período de safra e com maior oferta de produtos”, conclui.