Imagine se ao mesmo passo em que as tecnologias evoluem, as relações humanas também ascendessem rumo ao bem comum. Animador, não? Seria uma sociedade similar à vislumbrada por John Lennon há 45 anos, em uma das canções mais notórias de sua carreira. Infelizmente, como efeito de culturas retrógradas e errôneas, que permanecem enraizadas no âmago da criação, a família, esta idealização continua sendo apenas utópica.

De modo contrário ao sabor de bons vinhos, que quanto mais maturam, melhor apresentam suas virtudes, o preconceito racial também resiste ao tempo, porém, de forma antagônica. Tem como uma de suas principais características a deterioração da capacidade cognitiva do indivíduo. Sim, é fato, o racismo é elemento ligado diretamente ao emburrecimento de massas. Não precisamos apelar para fatos históricos como a escravatura ou o temido nazismo, que durante o holocausto vitimou aproximadamente seis milhões de judeus motivados apenas pelo objetivo de criarem uma raça pura. Para exemplificar, podemos nos ater a fatos contemporâneos e locais.

Há exatos dois anos, o então arbitro da Fifa, Márcio Chagas da Silva, foi objeto de injurias raciais após apitar uma partida entre Esportivo e Veranópolis no estádio Montanha dos Vinhedos. Vândalos depredaram seu veículo e bananas foram colocadas no para-brisa do carro. Ele abandonou o futebol depois do ocorrido. Lamentavelmente, não aprendemos com o erro. O alvo agora é outro. A multidão bestificada acima citada atualmente visa imigrantes haitianos. Pessoas que vem ao país a procura de sustento, recebendo salários ordinários em funções fatigantes. O ápice do discurso de ódio proferido pela comunidade ocorreu na última semana, quando em mídias sociais, diversas pessoas criticaram a ação de um vereador após realizar uma reunião para deliberar sobre os problemas dos estrangeiros. Mas afinal, não somos todos imigrantes?

Se no hemisfério dos Tupiniquins o que tende a prevalecer é o discurso de cólera étnico, parte do outro lado do mundo, da África do Sul, um exemplo de como seria se a utopia relatada no início do texto fosse realidade. Uma das principais tribos africanas tem uma forma única de demonstrar respeito ao próximo. O cumprimento Sawabona, que significa, “eu te respeito, eu te valorizo, você é importante para mim”, é a palavra de ordem no trato humano entre os integrantes do clã. Como resposta, as pessoas dizem Shikoba, que quer dizer “então, eu existo para você”. Criemos novamente uma breve concepção de outra realidade, onde estas palavras fossem levadas a sério no dia a dia. Acredito que, de forma unânime, concordaríamos que necessitamos urgentemente de mais Sawabona Shikoba.