Há tempo para celebrar e há tempo para lamentar. Há tempo para falar e outro para se calar. Há tempo de impunidade, mas também há tempo para justiça. Como em um castelo de cartas mal construído, que ao toque da mais leve brisa vem ao chão, as tramoias políticas que ocorrem nos bastidores da cidade, onde as frequências emitidas, até então eram capturadas apenas pelos ouvidos mais aguçados, vieram à tona. O show de sorrisos amarelos e retóricas lamentáveis fez da Capital do Vinho sua plateia, tendo como espetáculo de abertura a queda de um gigante, o agora ex-presidente do Legislativo. Como todo bom político, que quando encurralado utiliza de manobras “lulísticas” e apela para o velho discurso do “Eu não sabia de nada, estou surpreso com o ocorrido”, o ilustríssimo ex-chefe da Câmara de Vereadores optou por um encerramento de quinta categoria para sua apresentação, a “escapada pela tangente”. Mas pensando bem, o que esperar de alguém que utiliza manobras vis e tira vantagem de seu cargo para benefício próprio, desrespeitando todo o sistema democrático e envergonhando seus eleitores? Apenas decepção.

É difícil compreender se a atual conjuntura política e social da cidade nos remete a um momento bom ou ruim. Um dos mentores foi desmascarado e provavelmente pagará pelo que fez, mas do outro lado da balança estão os que crime nenhum cometeram e que provavelmente também cairão em desgraça com a exoneração de seus cargos. A justiça está sendo feita, mas com penosas consequências. A este ponto a plateia aplaude, mas como em todo grande picadeiro, ninguém dá a mínima para as pessoas que recolhem o cenário ao final da apresentação.

Mas o show não pode parar. Com timing impecável, o segundo espetáculo ficou por conta do Executivo. Um ato previsível, mas com grandiosas surpresas, fez com que a plateia ficasse boquiaberta após momentos de tensão. Após o então vice-prefeito “pular para fora do navio” deixando uma bomba armada como presente de despedida, pode-se dizer que a situação ficou um tanto embaraçoso na casa amarela. Cercado de seus fiéis escudeiros, o prefeito utilizou de toda sua eloquência para explanar o porquê da drástica separação e os motivos que o levaram a colocar o vice no “quartinho da vergonha”, aproveitando para chutar para longe o artefato explosivo, mas mesmo assim, sendo atingido por parte dos estilhaços.

Pois bem, que Bento Gonçalves vive momentos tragicômicos na política atual não é novidade. O que pasma e simultaneamente começa a incomodar é a naturalidade com que tantas situações são tratadas. O presidente da Câmara é acusado de corrupção, “ah, político não presta mesmo”. O prefeito e o vice não dialogam sobre seu governo e isso pode impactar no município, “tudo farinha do mesmo saco”, e por aí vai. Enquanto a política do conformismo, que coloca no poder pessoas carismáticas e não competentes, mantiver suas raízes, será difícil presenciar o dia em que o Circo Bento Gonçalves dobrará suas lonas e partirá em direção a outros rumos.