Famosa por suas paisagens naturais, identidade cultural, eventos, clima, vinhos, receptividade e gastronomia, a Região da Uva e Vinho se tornou um dos destinos turísticos mais visitados e queridos do Brasil. Para ter uma ideia, somente em Bento Gonçalves, considerada a Capital do Vinho e com um calendário repleto de importantes feiras comerciais, foram mais de 1,7 milhões de visitantes, de acordo com levantamento da Secretaria Municipal do Turismo.  É justamente para compreender os caminhos que foram trilhados para que esses números sejam possíveis, bem como para enaltecer a história de algumas das personagens principais que ajudaram a construir essa rota, que surgiu o projeto Retratos da Uva e Vinho, apresentado em fevereiro, em evento no Sindicato Empresarial de Gastronomia e Hotelaria (Segh) – Região Uva e Vinho, em Caxias do Sul.

A iniciativa encabeçada pela turismóloga Paula Nora e pela produtora cultural Cristina Nora Calcagnatto, com apoio do Segh, objetiva realizar uma ampla pesquisa sobre a história da gastronomia e da hotelaria nos 19 municípios que integram a rota, que será compilada em um livro em formato digital e impresso, além de exposições fotográficas e debates sobre a temática. “Queremos resgatar a história desses setores, pois acreditamos que é uma forma de valorizar todos aqueles que tanto fizeram por nossa comunidade”, resume Paula.

Tatieli Saperry (fotógrafa), Cristina Nora Calcagnotto (produtora cultural), Paulinha Suzuki (designer gráfico), Roberto Hunoff (jornalista e escritor), Paula Nora (coordenadora de pesquisa), Marcia Ferronato (coordenadora do projeto), Marcelo Caon (historiador) e Rafael Sartor (fotógrafo) (Foto: Camila Ruzzarin)

Ainda sem título definido e com previsão de lançamento para o fim do ano, o projeto está, atualmente, em fase de captação e compilação de materiais. Nesse sentido, além das pesquisas realizadas em arquivos históricos, a equipe pede o apoio da comunidade com qualquer tipo de material ou documento ou mesmo indicações de pessoas que foram importantes para o desenvolvimento da gastronomia e da hotelaria na região. O passo seguinte será a fase de entrevistas, que deve iniciar nesta semana. “Serão no mínimo 20 entrevistados, mas esse número varia a cada dia. Terá ao menos um representante por cidade, mas há algumas que será mais, pois tem mais material humano, como Caxias do Sul, até por causa do Hotel Bela Vista”, adianta.

Surgido em função da comemoração de 70 anos do Segh, comemorado em 2018, o projeto se valerá justamente desse recorte temporal, focando nas mudanças do turismo entre os anos de 1948 até hoje.  O maior desafio deverá ser a estruturação e curadoria para delimitar, entre os milhares de documentos e histórias, o que há de mais significativo. “A ideia é fazer uma pesquisa bastante ampla. Temos um grupo multidisciplinar que, além dos coordenadores, conta com historiador e pesquisadores assistentes, jornalista, design gráfico e dois fotógrafos, para fazermos o trabalho da forma responsável que ele merece. Não queremos só uma obra documental, mas também artística, que encha os olhos e faça jus a todo trabalho feito em nossa região”, enfatiza.

Financiado pela Lei Federal de Incentivo a Cultura, além do livro, o projeto contará, ainda, quatro mesas-redondas que devem ocorrer entre fevereiro e março de 2021, além uma exposição fotográfica itinerante com imagens captadas durante o processo de pesquisa, e um “e-book aberto”, que permitirá que a obra possa ser incrementada por qualquer colaborador e em qualquer data. Ao todo, serão impressos 3 mil exemplares e a distribuição será gratuita. 

Uma história que continua

Registro da década de 1940 do Caxias Hotel, de propriedade de Dino Felisberto Cia, primeiro presidente do Segh (Foto: Reprodução)

Em 1948 era criada uma associação de proprietários de hotéis e assinada a Carta Sindical do Sindicato de Hotéis e Similares de Caxias do Sul, tendo como Presidente Dino Felisberto Cia, proprietário do Hotel Caxias, localizado na Rua 20 de Setembro, onde hoje fica o Hospital Saúde. Sete décadas depois, o sindicato que agora é conhecido como Segh, conta com 3 mil empreendimentos associados distribuídos pelos 19 municípios que compõe a Região da Uva e Vinho.

Para a coordenadora do projeto e diretora executiva do sindicato, Marcia Ferronato, mais que um documento capaz de registrar todo esse processo histórico de engrandecimento, a obra pode ser vista também como uma iniciativa que visa valorizar e enaltecer o turismo como um todo, enquanto importante segmento de desenvolvimento regional. “Notamos que, ao longo das décadas, o setor passou a ser mais valorizado, mas talvez faltasse um posicionamento e acreditamos que essa obra pode ajudar nisso. Em todo o mundo, o turismo vem conquistando espaço e aqui não é diferente. Em Bento, o Poder Público, as entidades e empresários já perceberam o impacto desse segmento na economia e como ele gera emprego e renda”, destaca.

“Se chegamos aqui e estamos nesse patamar é porque alguém ajudou a construir tudo isso antes.  Precisamos reconhecer e valorizar todo esse processo, contando os desafios e as belezas de investir nesses segmentos”, Marcia Ferronato

Embora acompanhando as mudanças de costumes, Marcia destaca que o elo que interliga os 70 anos de histórias compiladas no livro, bem como devem seguir conduzindo os capítulos que seguirão sendo escritos mesmo após a publicação da obra, é a raiz cultural deixada pelos imigrantes que iniciaram toda essa história, muito antes da criação do sindicato. “Mesmo chegando a tecnologia, mudanças de comportamento, globalização, temos ciência que o turismo é um dos caminhos de preservação de nossa história. Não é questão de parar no tempo, é se apropriar de nossa identidade para transformá-la em um produto cada vez melhor. Temos um DNA muito definido, enraizado em nossos antepassados, e as pessoas vem até aqui para isso: para ver quem somos”, finaliza.

Colabore

Para colaborar com indicações de personagens ou histórias, bem como com qualquer material histórico, tais como, recortes de jornal, relatos, curiosidades, receitas, fotografias, atas de reuniões, rótulos antigos, entre outros, é só encaminhar um e-mail para [email protected], preferencialmente, até o dia 30 de abril. Dúvidas podem ser esclarecidas pelo telefone (54) 3221-2666.