Sinto falta de quando não éramos tão viciados nas redes sociais. Da época das cartinhas, dos encontros pessoais e de ver o olho da pessoa sem os filtros do Instagram. Me preocupa o jeito que somos. Porém, me apavora mesmo é saber que as crianças de hoje já nascem como nós. Minha infância foi diferente, mesmo eu não sendo tão velha assim. Cresci no campo, sem redes sociais e sem vícios. Ia à escola cedo. O máximo de distração durante o período eram os bilhetes escondidos que passavam de classe em classe. No recreio não sentávamos distantes um dos outros com os celulares em mãos. Aliás, celular e computador chegaram até mim apenas no início da adolescência. Corríamos pelo pátio, armávamos brincadeiras com os amigos e voltávamos suados para o resto da aula. Em casa fazia minhas lições, lia livros, escrevia em diários, ajudava nas lavouras de arroz e torcia para que, ao final do dia, meus pais me deixassem nadar em algum açude. Não poderia ser tão cedo, pois o sol queima. Nem tão tarde, pois a água esfria. Essa limitação de tempo era a única que me assustava. Se algo desse errado, não conseguiria mergulhar com os peixes. Hoje, perdemos tempo não por nossos pais estarem com medo de ficarmos gripados e sim por preferirmos a tela do celular no lugar da paisagem que nos rodeia. A vida passa rápido demais e o que enxergamos é, na maior parte das vezes, apenas a representação da realidade. A câmera substituiu o olhar. O Whatsapp sobressai às conversas. Um emoticon de coração parece ser suficiente para dizer eu te amo. Postar, infelizmente, parece mais interessante do que sentir. A vida parece ser mais bonita nas redes sociais. Só falta entendermos que aquela não é a nossa vida.
Quando não estamos mergulhados na internet, muitas vezes estamos reclamando de coisas que deveriam nos fazer feliz. O amanhã pode não chegar e isso assusta. Costumo reclamar quando o despertador toca de manhã cedinho. Então, levanto, lavo o rosto e me culpo pelo primeiro pensamento da manhã. A verdade é que já faz algum tempo que eu me policio em relação a isso. Olho para o relógio e os minutos parecem segundos. Há muito que fazer e todo o tempo que resta parece pouco. Insuficiente. Conversei sobre isso com uma grande amiga. Ela me aconselhou a colocar uma música muito animada como despertador. Amigos são incríveis. Dividem a vida e as músicas favoritas. Agora, levanto e agradeço por mais um dia. Sei que quanto mais cedo acordar, mais tempo terei para viver. Para ser feliz. Para mudar o mundo.
A mudança pode começar pelo seu bairro, pela sua casa, pelo seu comportamento. Um sorriso na rua a uma senhora pode melhorar o dia dela. Fazer um elogio pode medicar uma crise depressiva de alguém. Parar na faixa de pedestre faz as pessoas acreditarem em um universo mais justo. Dizer bom dia a um estranho não é loucura, é educação. Mudar o mundo é mudar suas atitudes para melhor. Não é tão impossível como pensam. Só é preciso tempo. Mas tudo bem. Dormir é bom, mas viver é melhor.