Shakira, Shaki para os íntimos, é uma doce canina de imensos olhos castanhos que até leem pensamentos. Seu pelo é marrom com mechas douradas – tudo natural – e tem um rabinho circular que se mexe feito ventoinha quando a gente chega. O dentinho sobressalente é uma graça. Ela e Batata – o gato – têm o mesmo DNA dentário. Já Passoca – o outro gato – é mais parecido com os humanos pela barriguinha de cerveja, descoberta por ocasião da tosa. Os três vivem como irmãozinhos. Brincam, brigam de mentirinha e se afagam de verdade, dando alma para a casa. Se os cuidados com saúde, alimentação e higienização do espaço não exigissem tanto tempo, aposto que o AP ia virar PET.

Embora não tenha a mesma habilidade dos felinos, Shakira pula no sofá e nas cadeiras e, como ainda está na fase oral, põe tudo o que acha na boca. Por isso, ela ganhou um ursinho para morder, que milagrosamente continua inteiro.

Na semana passada, a Yorkshire começou a vomitar, deixando a família com a pulga atrás da orelha. Nunca se soube que ela tivesse gastrite e, mesmo fofinha, jamais foi vista enfiando a patinha na goela. Ao menos, não na sua.

O caso exigia investigação. Os aposentos foram vistoriados, sem que nada de anormal surgisse. De repente, um rastro levou o olhar para debaixo da cama. A coisa estava lá. Mastigada, dissecada, esparramada…

Frio na barriga… Coração a mil…

A pequenina foi submetida a uma análise mais minuciosa que revelou pequenas partículas escuras no focinho.

Levada a jato, à clínica veterinária, Shaki passou por uma lavagem estomacal e por demais procedimentos de desintoxicação. Apesar da rapidez do socorro, o mercúrio, o chumbo e o cádmio, metais altamente tóxicos que foram extraídos da pilha, já haviam afetado os órgão internos.

Mas não chore, que ainda não é o fim. Depois de uma semana internada, ela foi para casa, onde continua o tratamento, cercada de muito carinho. Só o tempo vai dizer o tamanho do estrago, inclusive neurológico.

E a pilha? Recolhida, devidamente embalada e agora corretamente descartada em posto de recolhimento, junto a uma pilha de pilhas que jaziam nas gavetas.

Pilhas são perigosas, mas seu aspecto aparentemente inofensivo faz com esqueçamos de lhes dar a devida atenção e cuidado. As intoxicações diretas, embora raras, ocorrem no conforto do lar. Já as indiretas advêm da contaminação do solo, dos lençóis freáticos e cursos d’água e, por extensão, da fauna e da flora.

Pena que o despertar da consciência ecológica geralmente acontece depois de se vivenciar um drama… Não é verdade, Shakira?