Mesmo em casa, em momento de descanso, Valentin Alzeibar, de 12 anos, segue uniformizado, vestindo calção e camiseta de futebol. É como se estivesse pronto, ansioso para poder correr novamente e pisar outra vez em campo. Meio-campo na escola da Associação Atlética Bento Gonçalves (AABG) e ala na escola de futsal da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer de Garibaldi (Smel), o menino se define como um jogador de marcação, de “garra”.

E dentro ou fora do estádio, é com essa “garra” que encara os encalços da vida. Desde os três anos de idade, ele sofre de “artrite reumatóide juvenil”, uma doença que afeta as articulações, e lhe ocasiona dores marcantes em seus joelhos, quadril e tornozelo. Há cerca de um ano e meio, como complicação da doença inflamatória, desenvolveu também uveítes e glaucoma nos olhos. Desde então, junto à família, Valentin luta para manter a visão. Hoje, 10 de abril, embarca para São Paulo, onde terá uma consulta com um especialista médico.

É para manter os eventuais custos futuros com gastos hospitalares, possíveis novas viagens para tratamento, que Jonny Alzeibar, seu pai, conta com o apoio e a solidariedade de quem possa ajudar. “Só a consulta com o médico custa R$1.100, então nem consigo imaginar quanto será um exame ou internação. Além disso, tem o gasto com estádia, alimentação e, talvez, depois de escutar o retorno do especialista, a gente tenha que voltar para São Paulo também”, explica. Conta que precisam de ajuda também para pagar os colírios, atualmente quatro tipos diferentes, além de uma medicação semanal para a artrite.

A luta de uma família

Há quatro anos, Valentin partiu do departamento de Soriano, cerca de 300 km de Montevidéu, capital do Uruguai, com seus pais, Valéria Natália Cantti Gutierrez e Jonny Alzeibar, e seu irmão Felipe, 7 anos, para começar uma nova vida em Garibaldi. A família, que vive desde então no bairro Ferroviário, deixou o litoral uruguaio, por indicação da irmã de Valéria, que já vivia na cidade e falava das oportunidades de emprego da Serra Gaúcha.

Não demorou para Jonny e Valéria encontrarem empregos, e tampouco, os filhos estranharam a nova residência. Em pouco tempo, Valentin se enturmou com os colegas da escola Cairú e, obviamente, com os colegas de futebol em Bento e Garibaldi. Contudo, a situação mudou completamente quando, há um ano e meio, o menino acordou com dores no joelho e no quadril. Uma visita ao médico confirmou o que a família temia: a volta da artrite, doença da qual o menino havia se tratado no Uruguai, mas que tinha chances de voltar.

Como conta Jonny, seu filho havia sofrido com a doença desde os três anos de idade, e após anos de tratamento, as dores haviam cessado. “Foram anos de tratamento até a doença parar, mas a médica me alertou que ela podia sumir por completo ou voltar ainda mais forte em algum momento. E então, aqui no Brasil, o problema voltou”, resume.

Em meio aos tratamentos para artrite, a doença se desenvolveu e acabou atacando também os olhos, causando glaucoma e uveítes. Conforme explica Jonny, hoje os dois tratamentos são feitos em paralelo, embora a maior preocupação seja com a visão. “Ele já perdeu a visão periférica, só enxerga para frente. Temos que cuidar para isso parar aí, pois se continuar a fechar, ele ficará cego”. Segundo o pai, mais de uma vez os médicos já disseram que não há como recuperar os graus que já foram perdidos, mas que, em seu íntimo, segue confiante de que eles possam estar enganados. “Tenho fé que algo vai acontecer”, exalta.

Enquanto aguarda a esperada consulta em São Paulo e seus desdobramentos, Valentin divide seus dias entre a escola e seu outro hobbie: gravação de vídeos para o youtube. A vontade, porém, é finalmente retornar ao campo e aumentar a coleção de medalhas e troféus que já preenchem seu quarto. “Desde os seis anos, o sonho dele é chegar à profissional. Houve esse problema no caminho, mas eu disse para ele ter calma que tudo vai melhorar. Agora, o principal é cuidar da saúde, e depois ele poderá voltar a jogar”, comenta o pai.

Todos por Valentin

Para acompanhar integralmente o dia a dia de Valentin, marcado por inúmeras consultas médicas, Jonny teve que se abster do emprego. Ele conta que a solidariedade dos amigos e de toda a comunidade garibaldense tem sido essencial para manter as esperanças.

Ademais de doações, a população tem se movido em diferentes frentes para apoiar: já houve uma janta para arrecadação de fundos, organizada pelo pai de um dos colegas da AABG de Valentin, no Vale dos Vinhedos; uma visita surpresa do Consulado de Garibaldi do Internacional; uma bola e uma camiseta autografada pelos jogadores e comissão técnica da ACBF e um livro do técnico do clube e da seleção brasileira, Marquinhos Xavier; além de mensagens de apoio do jogador de futsal Fábio Poletto, do Jaraguá, e até do meia-campista da Seleção Uruguaia, Lucas Torreira, atualmente jogando pelo Arsenal, da Inglaterra. “Valentin, queria aproveitar esse vídeo para te desejar toda a força do mundo. Sei que você vai ficar bem e seguir em frente. Muita força”, comentou o uruguaio.

O pai destaca também a visita dos colegas de Valentin, da escola e dos clubes de futebol, que estão sempre presentes, e a ajuda de todos aqueles que acabaram se sentindo tocados de algum modo pela história. “Os amigos dele vêm visitar e estão sempre falando com ele pelo telefone. Isso, fora as pessoas que nos reconhecem na rua e vem dar incentivo. Teve até um dia que voltei para casa e tinha um rancho aqui na porta, que nem sei quem deixou. Só posso agradecer todo mundo”, enaltece.

A parte econômica faz parte, mas essas mensagens, esse apoio emocional também é importante. Desde um convite para um chimarrão, até uma mensagem de celular dizendo ‘estamos juntos’, tudo ajuda, e faz com que Valentin veja que tem gente com ele. Meu telefone não para, tem gente de todo o Brasil mandando força. Esse carinho é emocionante!