Em meio à crise mundial da Covid-19, brasileiros que vivem fora do país expõem a forma como a nação encara a momento

Morando no exterior, brasileiros ouvidos pelo Jornal Semanário afirmam que a forma como o Brasil encara a pandemia surpreende negativamente o resto do mundo. Com mais de 12,3 milhões de infectados e 303 mil óbitos pelo coronavírus, a nação ainda registra piora nas atualizações diárias.

Governo do Texas abre 100% do estado

Tiago Fernando Moreira Gonçalves, 30 anos, mora em Plano, Texas, nos Estados Unidos, há um ano e meio, com a esposa Michele Simas. Natural de São Miguel do Oeste, em Santa Catarina. Se mudou para Caxias do Sul aos nove anos e saiu do Brasil devido a oportunidades de crescimento oferecidas pela empresa onde trabalha como cozinheiro em uma churrascaria brasileira.

Gonçalves conta que os Estados Unidos estão lidando muito bem com a pandemia. Como no Brasil, os governadores americanos também têm o poder de decidir o que é melhor para cada estado. “Porém aqui se faz cumprir as leis. Se for pra ficar em casa, todo mundo fica”, pondera. No início de março, o governo do Texas abriu 100% o estado e revogou o uso mandatário de máscara, apesar de muitas empresas ainda estarem adotando a utilização.

No estado americano, no ápice da pandemia, os testes eram realizados em drive-thru e centros médicos. “Aqui os bairros são chamados de collins e o mapeamento era feito nesses, depois nas cidades, no estado e no país. Quando um determinado collins estava com um número alto de casos eles fechavam somente aquele espaço”, relata. Quanto à vacinação, o Texas vacinou mais de 20 milhões e 970 mil pessoas, em uma população total de 29 milhões.

Questionado se voltaria ao país, responde que a intenção é se aposentar antes. “Em um futuro distante talvez, se a situação do Brasil tiver melhor em questão de segurança, educação e custo de vida. Somente retornarei quando estiver com minha condição estável. Meu Green Card (autorização para viver e trabalhar em caráter permanente) é válido por 10 anos e, com cinco anos de residência, posso aplicar para cidadania americana, que é o meu plano. O Brasil está muito instável”, explica.

Regras são cumpridas à risca por irlandeses

O jornalista Fábio Becker, 29 anos, mora em Limerick, terceira maior cidade da Irlanda. Há três meses saiu de Farroupilha e chegou ao novo país uma semana antes do Natal e do lockdown. Desde então tudo se mantém fechado. “Provavelmente teremos fechamento total, de verdade, algo que nunca aconteceu no Brasil, no mínimo, até junho”, comenta.

Becker pontua que as regras são cumpridas à risca pela população. “As medidas são tratadas de forma nacional, não como no Brasil, onde vejo o governo federal sabotando todas as propostas dos governos estaduais e municipais. Acaba tendo esse conflito e tudo vira uma bagunça. Não podemos ultrapassar cinco quilômetros da nossa casa, não podemos, portanto, visitar nenhuma cidade vizinha. Tem policiais todos os dias nas principais vias, é um controle realmente bem feito”, opina.

Um ponto positivo citado pelo jornalista é o sistema de saúde brasileiro. Diferente da Irlanda e de outros países da Europa, não há saúde pública tanto para visitantes quanto aos irlandeses. “É importante citar que o lockdown se entende, enquanto eles vacinam as pessoas, porque o sistema de saúde aqui é, reconhecidamente, deficitário. É um país que sempre teve um grande problema com a saúde. Algo que não acontece no Brasil, que sempre foi famoso por suas companhas de vacinação, um exemplo internacional dessas questões”, pondera.

Por fim, o profissional da comunicação lamenta: “a cada dia que passa, a gente perde a população de uma cidade pequena do interior do Brasil. Em um dia morreu mais gente do que todo o atentado do dia 11 de setembro de 2001. A cada dia é um ato de violência no Brasil”.

Irlanda vive terceiro lockdown

Natural de Bento Gonçalves, Gabriela Sandrin Tomasi, 20 anos, mora na Irlanda, Dublin, há um ano e três meses. Ela saiu com o objetivo de estudar, buscar melhores condições de vida e um bom salário .

O país irlandês vive o terceiro lockdown e está sendo rigoroso em relação aos protocolos. “Dois meses depois de minha chegada, a pandemia começou a tomar forma e a repercutir internacionalmente, causando muita confusão e medo. A Irlanda, desde o princípio, iniciou um protocolo de contenção do vírus, oferecendo auxílios para que os trabalhadores conseguissem ficar em casa, seguros. Tivemos dois momentos de relaxamento das restrições, mas durou pouco menos de meio ano. Exceto isso, permanecemos, até o exato momento, em lockdown nível cinco. Tudo está fechado, com exceção de escolas de ensino primário, hospitais, restaurantes e cafés — que só podem oferecer serviços de take away — e poucas livrarias da cidade e serviços essenciais”, expõe.

A testagem na Irlanda é feita em massa. Para lugares como ambientes gastronômicos, quando estavam abertos, era pedida a assinatura em um livro específico para o monitoramento de frequentadores do local. “Como tudo está fechado agora, quando um indivíduo apresenta sinais de coronavírus e pede pelo teste, o órgão responsável manda para a pessoa um questionário, contendo nome e telefone de todos com quem se pode ter tido o contato. Essas são testadas gratuitamente”, esclarece Gabriela.

Assim como Tiago Gonçalves, a jovem não pensa em retornar ao Brasil. Sua maior saudade é da mãe Diane e da cachorrinha Lili. “A Europa se apresentou para mim em um momento que tudo o que eu pedia eram oportunidades, e estas chances me foram oferecidas aqui. Hoje estou me graduando em Marketing, para logo finalizar meu curso de Veterinária. Amo meu país natal e sempre o amarei, mas espero conquistar tudo o que desejo na Europa, para poder oferecer à minha família uma vida melhor”, acredita.

Fotos da matéria: Arquivo pessoal