A comunicação dos humanos é bastante complexa, isso a ciência já provou. Usamos os sentidos da fala, olfato, paladar, visão e audição para passar e receber mensagens, além de arriscarmos o famoso sexto sentido, que nada mais é do que a intuição. Aprendemos, desde bebê, a expressar e reconhecer significados, como de dor, alegria e reprovação. Nesta trajetória, nos ensinam que existem palavras feias e bonitas, e passamos sistematicamente a classificá-las entre apropriadas e inapropriadas. O que não nos ensinam, mas aprendemos nas vivências cotidianas, é que existem as perigosas “palavras atravessadas”. Nós as conhecemos lá na infância, quando nos diziam “responde direito” ou “fala direito”, e não dávamos ouvidos.
A palavra atravessada está naquela brincadeira descomprometida que você faz com um colega de trabalho durante o intervalo de almoço e recebe uma resposta cortante, completamente diferente da reação que você esperava. Sim, ela pode soar inconveniente.
Os apaixonados também podem se comprometer com um atravessamento, como quando alguém diz “eu te amo” sem saber da reciprocidade do sentimento. As consequências podem ser determinantes na relação: ou impulsionam os dois no projeto de serem um, ou assusta e separa. Cuidado com a palavra atravessada, pois ela pode ser um divisor de águas.
A entonação que você usa na palavra falada pode confundir seu ouvinte, principalmente se ele é alguém que não conhece muito sobre a sua personalidade. Costumamos habitar círculos de pessoas com afinidades em comum, mas temperamentos completamente diferentes. A convivência, no entanto, deixa a todos mais confortáveis na difícil tarefa de expressar seu eu. Portanto, é preciso ter cautela quando falar com alguém que você conhece há pouco tempo. Por mais que você seja irônico quando faz uma declaração que insinua desdém, por exemplo, o novo conhecido pode levar a sério e se afastar. Pois é, a palavra atravessada pode confundir e impedir o começo de uma bela amizade.
É importante perceber que as palavras atravessadas também podem ser o silêncio. A ausência de uma palavra pode frustrar quem espera uma opinião ou um posicionamento. Isso ocorre naquelas conversas virtuais em que a pessoa visualiza e não responde, nem mesmo com um simples “hum” ou “ok”, que, embora não sinalizem uma continuidade de diálogo, são uma pista de que há algo a mais para ser debatido.
Talvez a palavra atravessada seja nossa espontaneidade em sua forma mais crua, sem medir consequências de ação e reação. Talvez não haja receita para aprender a administrar as comunicações interpessoais. Por mais que você se mantenha atento e se julgue coerente, hora ou outra vai ser surpreendido por um atravessamento, partindo de você ou de qualquer outra pessoa. Vivemos constantemente escolhendo as palavras certas, mesmo que, por vezes, soem erradas. O processo de filtragem envolve raciocínio, sensibilidade e vigilância, mas não há o que temer, afinal, viver em coletividade é arriscar-se na aventura de compreender e ser compreendido.