Em uma noite, daquelas mundialmente conhecidas pela festividade, onde é normal nos declararmos, sermos alegres por motivos banais e por toda uma fartura desnecessária, eu não estava muito a fim de compartilhar daquela felicidade meio fake – que não fazia muita questão de se disfarçar.

Até que minha ansiedade parou de chutar – um momento raro. E então, prestei atenção naquela doce senhora. Cabelos finos, brancos como a neve. Com uma feição tão carinhosa, disparava um sorriso toda vez que era percebida. Deixava os demais a apresentarem e prontamente cumprimentava, falando qualquer frase curta, baixinho, para não deixar a saudação passar em branco.

Logo mais, tive oportunidade de sentar próximo a ela, que de imediato, virou sua cadeira para me acolher na “roda”. Saíram alguns assuntos agradáveis, que me fizeram sentir uma amiga querida.

Depois de alguns momentos balançando a cabeça uma para a outra, concordando com nossas oportunas opiniões, ela pediu licença para sentar em outro lugar, estava ficando tarde e sentia frio, mesmo naquela noite quente. Senti por não ter um casaqueto para alcançar. Enfim, ainda dentro da minha vista, ela continuava balançando a cabeça para os assuntos que corriam trêbados à sua volta, abria sorrisos tímidos e positivos, afagava a pele sensível do braço, consequência do frescor do breu e bocejava de sono, por não estar mais acostumada com o ‘serão’.

Mesmo com frio, sono e tédio, ela estava ali, a esperar que seus responsáveis quisessem partir. Assim que o fizeram, senti sua vibração ao levantar para se despedir, situação que se alongou, mas que já não faria aquela doce senhora desistir de seu sonho, de voltar para o seu lugar seguro.

Então peguei meu celular, e fiquei a fazer uma das melhores coisas que eu poderia naquele momento: escrever.

“A gente aprende, durante a vida, a ser gentil com quem não conhecemos. A sorrir mesmo quando estamos despedaçados por dentro, porque temos filhos ou sobrinhos ou netos a quem mostrar um fio de esperança. A gente aprende a socializar, ficando em silêncio quando necessário, secando a louça na casa dos outros e negando ajuda na sua própria. Porque quando você tem sua casa terrivelmente bagunçada depois de vários encontros, você entende o valor de uma mão amiga. Como uma mão sensível de uma doce idosa.

A gente fica em lugares que não nos convém, porque socializar deve ser isso, afinal de contas ser uma pessoa inconveniente ou egoísta o tempo todo pode até funcionar na internet, mas na vida real – onde nem sempre podemos fugir, tal qual uma noite de amor que não dará em nada -, não”.
E então percebi que sou a doce idosa, e que essas são duas palavras que andam juntas e que juntas, equivalem à expressão “trouxa”.

Sensatez sim, sofrimento não. Até porque, pelo que vejo aqui, na minha “roda de serão”, não vale a pena.