Infectologista do Hospital Tacchini explica sobre os possíveis impactos da cepa

Há alguns dias, a África do Sul notificou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a respeito de uma nova variante do coronavírus, a Ômicron. Na segunda-feira, 29 de novembro, a OMS declarou que o risco global, por conta da cepa, é muito alto, pois há possibilidade de que as vacinas disponíveis não consigam fornecer a proteção necessária, além da chance de maior transmissibilidade.

A infectologista do Hospital Tacchini, Nicole Golin, explica que é da natureza dos vírus sofrer erros durante seu processo de replicação. “Quando ele acumula mudanças, passa a ser chamado de variante, no caso do Sars-Cov-2. A alta circulação de pessoas e baixas taxas de cobertura vacinal são fatores cruciais que contribuem com o surgimento de novas cepas do vírus”, pontua.

Nicole afirma também que não se descarta que a variante Ômicron causará maior impacto em certos locais. “Com os dados observados até o momento, embora aparentemente mais transmissível, espera-se que cause uma doença leve, mas compreender o nível de gravidade levará de dias a várias semanas. Todas as variantes de Covid-19, incluindo a Delta, que é dominante em todo o mundo, podem causar doença grave ou morte”, menciona.

Sobre a transmissibilidade, ainda não há dados consolidados. “Cientistas temem que ela seja mais infecciosa do que outras variantes, embora mais estudos sejam necessários para comprovar isso. A nível de diagnóstico, os testes de PCR amplamente usados continuam a detectar a infecção, incluindo com Ômicron, como também vimos com outras variantes. Estudos estão em andamento para determinar se há algum impacto em outros tipos de testes, incluindo o de detecção rápida de antígenos”, salienta.

A ômicron pode ser resistente às vacinas?

Com o avanço da vacinação, Bento Gonçalves possui um percentual significativo da população já imunizada. Mesmo assim é necessário tomar cuidado. “A cepa, caracterizada como ‘variante de preocupação’, tem mais de 30 mutações na proteína S (‘spike’ ou espícula), parte usada pelo vírus como veículo de ligação com as células humanas. Algumas dessas mutações existem em outras variantes, mas não todas juntas em uma única, segundo os cientistas. Essa característica gera preocupação porque tem potencial de reduzir a eficácia das vacinas”, destaca.

A infectologista diz, entretanto, que mesmo com a eficácia reduzida, os imunizantes, ainda assim, oferecem alguma proteção. “O foco precisa ser o mesmo adotado em relação à variante Delta: completar o esquema vacinal do maior número possível de pessoas, o que inclui a terceira dose, no momento em que a proteção começa a perder força”, realça.

Cinco casos da nova cepa já foram confirmados no país. No mundo, porém, nenhum óbito foi registrado. “A Ômicron deve gerar nova onda de casos, mas espera-se que com impacto menor em hospitalizações e mortes, graças à maior cobertura vacinal no Brasil, onde cerca de 62% da população tomou duas doses e, grande parte, há pouco tempo, o que confere uma proteção mais alta. Portanto, as vacinas continuam sendo fundamentais para reduzir o risco das formas graves e morte por Covid-19”, alerta.

Para controlar a doença, de acordo com Nicole, é necessário manter os protocolos recomendados pelas entidades de saúde. “Principalmente o afastamento social, o uso de máscaras e a vacinação completa, que impactam diretamente no surgimento de variantes. No momento, um grande número de pesquisadores ao redor do mundo está analisando dados para entender melhor a Ômicron. Os estudos incluem avaliações de transmissibilidade, gravidade da infecção (incluindo sintomas), desempenho de vacinas e testes de diagnóstico e eficácia dos tratamentos”, finaliza.