Convido você a seguinte reflexão … A alimentação excessiva é tida como a causa fundamental da obesidade, sendo assim, admite-se, de forma equivocada, que a “culpa” é do obeso em ter tal condição de saúde e, portanto, que uma “falta de carácter” e de força de vontade poderia ser explicação aceitável, aparentemente … Observe que esta parece ser a única causa que não se presta a mais pesquisas significativas e, talvez, à identificação de um defeito ainda mais fundamental capaz de explicar por que as pessoas comeriam demais por vontade própria?

Temos o mesmo problema se perguntarmos por que as “dietas” não funcionam? Por que a obesidade é curada tão raramente, se é que alguma vez, por meio do que deveria ser um simples ato de comer menos? Se propusermos como resposta que as pessoas reagem à restrição de alimentos exatamente como fazem os animais gordos -reduzem o gasto de energia e, ao mesmo tempo, sentem mais fome (como explicaram Jeff Flier e Terry Maratos-Flier na Scientific American ) -, abriremos a possibilidade de que o mesmo mecanismo fisiológico que leva indivíduos obesos a poupar sua gordura diante de uma situação de fome talvez tenha sido a causa primordial de sua obesidade, ou seja, o próprio “tratamento dietético” pode estar “engordando” a população … Em tempos de mercantilização da fome, observe a falta de questionamentos em relação à qualidade destas calorias, pois, aparentemente, muitos pensam que 100 calorias de cenoura é o mesmo que 100 calorias de barra de cereal … reflita a importância, mercadológica, de um “obeso transformado em objeto a consumir N produtos para emagrecer” … Saibamos que o “Obeso passa a ser objeto” quando perde seu estado de subjetividade, representado pelas suas necessidades como ser humano, tal como a autoestima, enfim, passando, o obeso, a aceitar informações simplistas de que tratar obesidade se resume a cuidar do peso e calcular calorias … Quando entra em cena a mercantilização da saúde, os questionamentos a serem feitos são: Por que as pessoas comem demais, para engordar? Por que essas pessoas não controlam seus impulsos? Por que elas não comem com moderação e praticam exercícios como fazem as pessoas magras? Por que tem magros que comem mais que os obesos, e continuam magros? Qual a chance de emagrecer um obeso sem informar a respeito da mercantilização da saúde (representada pelo cuidado do corpo de um ser humano sem subjetividade), que pode, sim, estar transformando todo o ser humano em objeto, cujo a função, aparente, pode ser abastecer financeiramente o “mercado da doença”? Assim, quando o assunto for a sua saúde, questione sempre explicações simplistas que buscam posicionar você como mero expectador, pois você deve ser o ator principal nesta busca por mais saúde. Saiba que a função do profissional da saúde deve ser orientar o que você pode fazer para melhorar a sua saúde, enquanto a mercantilização da saúde lhe dirá o que o mercado tem a lhe oferecer para amenizar seus sintomas. Se você pensa em aliar emagrecimento com saúde, sempre que possível, busque mais informações a respeito dos tratamentos sem cortes, sem cicatrizes e sem lhe afastar do trabalho. Para mais informações, busque um profissional de saúde.

Cézar de Moura
Médico