Certamente, o valor de um professor não está na hora-aula que recebe, muito menos nos títulos de especializações que coleciona. O valor de um professor está nas memórias que ele carrega e nas pegadas que deixa ao longo da caminhada. Afinal, todo mundo lembra de, ao menos, 10 professores que teve em sua vida, seja da profe do Jardim ou da que lhe alfabetizou. Seja do professor do Ensino Médio ou da faculdade. Todo mundo lembra daquela profe amiga que dava conselhos, ria junto, era bondosa ou da brava que cobrava tudo, sem muito riso. Todo mundo lembra de como elas / eles se vestiam, da cor da unha pintada, das frases ou jargões que falavam sempre. Eu lembro, por exemplo, da profe mais brava que tive, no Jardim da infância, que me ensinou a ser forte e resiliente desde lá; da profe da 1° série que, mais tarde, virou minha colega de profissão e amiga; da falecida profe da 2° que tinha sempre batom e unhas vermelhas e que eu a admirava; da profe da 4° que falava de sua vida para nós, desabafando sobre os problemas que enfrentava; do profe de EF que a gente via na boate nos sábados; da profe de Inglês que todas as meninas invejavam pela letra linda e que ostentava giz colorido; da profe de Física que vendia brincos, além de dar aula, para poder se manter; do profe de História, nervoso, bravo, mas no fundo um ser frágil que tinha lá seus motivos; da profe de História do Ensino Médio que sabia tudo de cor e salteado e colocava cada um no seu lugar quando era preciso – sempre era preciso; da profe de Português que adorava as minhas redações; da profe de Ciências e seu Fusca azul.

Todo mundo lembra com carinho de quem contribuiu para sua formação, daqueles que lhe ajudaram como pessoa e não desistiram de você, dos que lhe inspiraram a ponto de decidir seguir uma profissão. Eu gostei tanto de brincar de aluna que virei professora. Amo estar com gente, agora do outro lado da sala de aula. Pena que hoje o nosso exemplo não contagia mais. Ninguém mais quer ser professor porque ganha pouco, porque é desvalorizado, porque é estressante, mas a pergunta é: e quem vai continuar educando? Quem vai fazer esse papel na sociedade? Quem vai ousar deixar essas marcas nas pessoas? Quem vai inspirar, ser vigiado o tempo todo, quem vai estar passeando com a família no Centro e ouvir do outro lado da rua um “Oi, profe”.

Como já dizia Paulo Freire, “educar é mais que um ato de amor, é um ato de coragem”, é uma das profissões mais nobres e singelas, primeiro porque há a responsabilidade de deixar marcas na vida das pessoas, depois porque é a base para formar todas as outras profissões. Há de ser corajoso para ensinar na era da tecnologia, na era em que o Google responde tudo, na era em que respeito é confundido com ‘tudo pode’, na era em que a escola é um dos poucos lugares em que há regra.

É corajoso quem sai de casa cedo, pega sua mochila e vai para a sala de aula enfrentar o mundo, atuar como pai/mãe/amigo, zelar pela segurança dos estudantes, ser exemplo, estudar sempre mais para saber e se atualizar e fazer da aula um aprendizado interessante. E argumentar contra muitos que não são da área e pouco sabem do que estão falando. Ser professor hoje é oneroso, é mais do que isso, desafiador. Dói na alma ver que não se valoriza, nem politica nem culturalmente. Porque pode começar por você, ao levar uma flor no dia do professor. Porque mesmo o Google respondendo tudo, ainda tem algo que a pandemia ressaltou: não há tecnologia que substitua as relações, tampouco o papel do professor. Mais que insubstituível, esse é indispensável.

Um professor até pode ser substituível, mas aqueles que nos tocam a alma, podem se tornar indispensáveis. É amar o que faz, sabendo que dificilmente ficará rico na profissão, é ser influencer de uma geração ligada na internet, é acreditar na educação quando ninguém mais acredita. Por isso, um dia só pra ele! Professor não vem do verbo professar, vem do verbo acreditar e, por isso, continuar lutando.