Segundo o presidente do Sindicato Rural de Bento, os altos custos de produção somados a inflação prejudicam o setor

Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bento Gonçalves, Cedenir Postal, a alta do Dólar e a desvalorização do Real são os principais motivos para a crise no setor agrícola, devido a perda de valor de mercado e aos alto custos de produção. Ele ainda relata que os últimos três anos têm representado dificuldades econômicas aos produtores, que devem ser os últimos a sair da crise.
Postal relata as complicações enfrentadas pelo setor agrícola. “Não tivemos áreas com significativos aumentos de preços. O custo de produção está muito alto”, revela Postal.

O presidente ainda reclama dos constantes aumentos do valor do óleo diesel e dos insumos. “Os preços não acompanham este crescimento. A própria questão da uva é um reflexo, no ano passado, os agricultores colheram uma uva com uma graduação mais baixa, uma qualidade menor, mas ganharam por quilo muito mais do que esse ano, que foi uma safra excelente”, exemplifica o líder sindical.

Postal ainda complementa que no inicio do ano, na Vindima, o óleo Diesel estava em uma média de R$2,25. “Hoje está R$ 2,70, R$2,80. Só nisso houve um crescimento de R$0,50. O grande problema que o custo, o agricultor não consegue repassar a diante. O produtor compra coisas que já têm um preço e vende para mercados que estipulam um valor da cultura, do produto. Isso foge o padrão, a lógica. É o mercado que regula o preço do setor”, ressalta o presidente.

Questionado sobre os ganhos do segmento em 2017, ele qualifica como “uma safra extraordinária em volume”, compara a do ano anterior, quando se teve a “menor da história”. Postal explica que na ocasião, a baixa produtividade se deve ao clima que não contribuiu. “O setor rural vive disto, investimentos, colheita e de ajuda do tempo”, disse.

Produção, custos e investimentos

Atuante em feiras de Bento há mais de 20 anos, Postal observa que em determinadas épocas do ano, os preços não estão tendo a valoriza esperada pelos produtores. “Não se consegue vender bem. Se vai aos trancos e barrancos. Não tem nada com valor agregado, enquanto o custo para se plantar, colher e colocar no mercado segue subindo. Óleo Diesel e Gasolina sobem assustadoramente, isso impacta fortemente”, analisa.

Ele ainda complementa que ao agricultor trabalhar 8 horas, com um trator pequeno, que gasta entre dois e três litros por hora de diesel, o consumo é de 20 litros. “Hoje, R$ 0,50 mais caro, gera um custo de R$12 dia. Parece pouco no valor micro, mas no macro o produtor está gastando muito”, comenta Postal.

Perguntado sobre investimentos e atualizações motivadas pela crise financeira, o presidente do Sindicato Rural destaca que o agricultor está buscando qualificar seus maquinários. “Tecnologia custa caro. Quando se faz esse tipo de aquisição tem que se ter em mente nas reposições, contratações de pessoas que entendam e saibam trabalhar , porque não é só ter a máquina, tem que ter alguém com conhecimento operando”, pontua.

Crise e desenvolvimento

Entre os motivos que têm atrapalhado o desenvolvimento dos agricultores da região, Postal relata as altas exigências das vinícolas quanto ao investimento. “Esta safra da uva e a do ano passado é um exemplo claro, onde se aplica em qualidade, mas no fim das contas o produtor não recebe por isso. Em 2016, se ganhou mais com uma qualidade menor”, comenta. Ainda sobre o processo de produção, ele relata que o agricultor não está conseguindo reduzir os custos.

Sobre o momento econômico, Postal define como período de cautela. “Ao longo dos anos teve uma melhora, principalmente quanto à facilidade de financiamentos. Muitos agricultores estão endividados, fizeram contas, o que comprometeu a renda das safras para pagar os financiamentos. Há culturas que ocorrem uma vez ao ano e tem que se planejar tudo”, disse. Ele complementa que ao fazer aquisições, o agricultor tem que ter em mente a sua capacidade.

Além do momento econômico, o presidente reclama da falta de sensibilidade pública ao setor. “Os acessos do interior estão terríveis. Temos muito a avançar nesse quesito. Uma queixa são as horas máquinas, não pelo subsidio da utilização, mas pela disponibilidade de ir ao interior”, disse. Postal ainda conclui, “estamos na produção nosso máximo. Tem que ter a valorização do produto. A economia se recuperando, sobe o consumo e o agricultor recupera força econômica”, finaliza.