As perguntas escassearam… É compreensível. O dia só tem vinte e quatro horas, e as férias, diluídas entre piscina, parques, passeios de bicicleta, jogos eletrônicos viciantes…, devem caber nesse “curto” espaço de tempo. Pelo que me contaram, está ficando difícil até para encaixar comida e cama na agenda diária do garoto. Mesmo assim, arrisquei uma provocação, enquanto ele brincava na água:

-Interessante o alimento, né? Entra por um lado e sai pelo outro…

-Ué, vó, a comida que não serve pra nós vai pela privada! Você não sabia?

-Um a zero pra ti. Mas eu sei de uma coisa que tu nem imagina: o cocô pode ser o correio da natureza…

Aguardei a pergunta… Que não veio…

-Depois de encherem a pança de frutas, os bichos andam pelas florestas e, ao defecarem, devolvem as sementes para a terra, que germinam e crescem, se transformando em novas árvores.

Silêncio. Continuei…

-E, olha só! O melhor café do mundo passa pelos intestinos de um bicho chamado civeta… Na barriga dela acontece um processo de fermentação especial.

Nada. Prossegui…

-É tipo a semente de cacau, que, antes de ser torrada pra virar chocolate, precisa fermentar.

Nadica. Apimentei…

 -Então, o bicho expele um rolinho de fezes tipo charuto cubano, daqueles que o tio Cléber finge que fuma. Nele ficam grudados os melhores grãos, que são lavados, torrados, moídos e consumidos por quem aprecia um café bom. Que, aliás, é caríssimo!

Caramba! Apelei…

-Aqui, no Brasil, é no jacu que passam os grãos. É por isso que eu só tomo café barato…

A fleuma do baixinho começou a me intrigar… Estaria ele viajando na minha história ou teria desembarcado em dimensão paralela?

-Sabe como começou o aproveitamento do cocô do jacu no Brasil? Uma fazenda de café, no Espírito Santo, foi invadida por essas aves. O dono, ao invés de chorar com a perda total da safra, passou a recolher os “charutinhos” salpicados de grãos de café.  Foi assim que os jacus viraram colaboradores sem salário. E todos ainda vivem felizes. 

Com a água até a linha do pescoço, o baixinho fixava as borbulhas… Seria aquele um sinal de que estava captando a ideia?

-Benício?!

Então ele levantou a cabeça e disparou:

-Vó, você acredita em disco voador?  Será que tem vida nos outros Planetas?

Sem aguardar resposta, ponderou:

-Eu acho que tem. O Universo é infinito…

Eu?  Sorri… e fui fazer um cafezinho. Barato, é claro!