Embora eu tenha algum pudor diante de “nudes” linguísticos que agridem o ouvido, vou me esforçar hoje para driblar meu censor íntimo, que é meio puritano e me vigia o tempo todo, senão acabo me sentindo como um peixe fora d’água. Na semana que passou, por exemplo, as redes sociais tripudiaram sobre o mais novo flagrante de corrupção, substituindo o eufêmico “cofrinho” por uma sílaba tônica miúda, bicuda e vulgar, mas, obviamente, não tão ofensiva quanto o ato do senador cueca.

Enfim, o que eu quero dizer é que, surfando na onda, também escolhi um tema escatológico. Trata-se de nosso segundo cérebro, que reside no abdômen e que mantém com o primeiro um relacionamento respeitoso. Apesar da conexão entre ambos, este órgão não precisa que o chefão lhe diga como fazer o seu trabalho.

O segundo cérebro tem muito potencial ainda pouco explorado, capaz de fornecer informações preciosas sobre a cuca do indivíduo e sobre o sistema de defesa do seu corpo, fatores importantíssimos no combate às infecções como a do atual “coronga”.

O elemento em questão é comprido e compacto – metros e metros de tubos enrolados como um labirinto em espiral, onde circulam agentes de um microbioma que absorvem os nutrientes necessários ao organismo e expulsam o bagaço para além de suas fronteiras, promovendo bem-estar e felicidade.  

O problema é quando dificuldades de logística atrapalham a liberação do produto final. Nem sempre o sujeito conta com uma boa rede de distribuição para que a “mer…cadoria”  chegue ao epicentro e, de lá, para o exterior. Esse lockdown que, por motivos biológicos e hormonais, atinge especialmente as mulheres, inibindo os movimentos peristálticos, é promovido por alimentação desiquilibrada, vida estressada, noites mal dormidas, sentimentos negativos, complicações clínicas…  

Mas tenho uma teoria a acrescentar. O “rito de passagem” é um evento que só pode ser cumprido se a agenda da manhã estiver livre, porque requer tempo e paciência. Primeiro a gente tem que acordar o preguiçoso com alguns mimos, oferecendo uma aguinha, um chimarrãozinho, uma frutinha… Olhar para fora e enviar mensagens positivas para dentro também ajuda. Dar umas voltas para mostrar que o clima não é de sedentarismo, permite que o fulano se digne a um bocejo e a um alongamento. Aí, de repente, o cabra safado, que é mais temperamental que um rottweiler, manda uma mensagem: “Partiu”. O jeito é correr pro trono, onde qualquer rainha perde a majestade.