Há exatos 135 anos, desde quando Bento Gonçalves nem sonhava em ser a pujante cidade que hoje, bordada de parreirais, encanta o estado e o país, o santuário encravado no coração da cidade – e que hoje é a sede da paróquia Santo Antônio, realiza a mesma festa em homenagem ao santo que se tornou o padroeiro da comunidade.

A festa religiosa encontra seu apogeu amanhã, com uma diversificada programação que deverá reunir milhares de fiéis, e mobiliza devotos desde o dia 1º de junho, no que os católicos convencionaram chamar como o Trezenário de Santo Antônio. Todos os dias, centenas de pessoas lotam as dependências do templo para renovar a fé no santo casamenteiro. As treze noites de orações dedicadas a Santo Antônio demonstram a fé e a devoção do povo para com o santo, e também estimulam o debate e convidam a todos para participar da grande festa programada para amanhã.

Algumas pessoas podem questionar os porquês de uma devoção ou tentar explicar racionalmente os mecanismos da fé. Mas quem vive e cultiva pessoalmente e na comunidade a sua crença parece não se preocupar com isso. Afinal, uma devoção que permanece por 135 anos unindo uma comunidade, não precisa mesmo de qualquer explicação racional. A simplicidade é a característica dos fiéis e devotos de Santo Antônio, que recorrem a ele nas dificuldades e dúvidas.

Venerado como o padroeiro dos pobres, daqueles que querem casar e como o santo capaz de encontrar objetos perdidos, Santo Antônio é um dos mais populares da Igreja Católica em todo o mundo – posição dividida com o contemporâneo e confrade São Francisco de Assis.

Aqui, Santo Antônio conquistou inúmeros devotos entre os imigrantes italianos, seus descendentes e tantos outros povos que foram chegando a Bento Gonçalves. Transcendendo as paredes da Igreja Matriz da primeira paróquia do município, a identificação com o padroeiro faz parte da cultura da região. “Todos, independente da religião, sabem que dia 13 de junho tem festa de Santo Antônio, há 135 anos”, declara o padre Izidoro Bigolin.

A vida na comunidade da igreja historicamente permeia outros aspectos da vida do cristão, como o trabalho, a família e até a própria identidade cultural. Por isso, é natural que a relação entre o devoto e o seu santo preferido se torne uma verdadeira amizade, em que o convívio gera a confiança mútua. “Assim se explica o funcionamento das promessas, o santo toma como dele as minhas preocupações e me ajuda a resolver meus problemas. Em troca, eu o ajudo em sua missão fazendo uma boa ação”, explica o sacerdote.

Reconhecido pelos muitos milagres que realizou ao longo de 800 anos passados desde sua morte, Santo Antônio é um exemplo de santo do cotidiano. Como prega a pedagogia franciscana da pobreza, as imagens representativas do santo são singelas e de fácil reconhecimento. Ele carrega o Menino Jesus, a Bíblia e os lírios. Símbolos que ensinam o devoto que o mais importante não é o santo, mas Jesus, de quem é testemunho; a Palavra de Deus que anuncia e a pureza e doação cultivadas na vida diária.