A começar pelo milagre da beleza natural, ecológica. Acordar com pele de pêssego, olhos de jabuticaba e lábios de morango. O cabelo com movimento das ondas do mar em dia de calmaria… Ah! E o hálito! Só Iracema, a virgem dos lábios de mel, teve, antes das novelas, o privilégio de sair da cama, no caso, da rede, com o hálito rescendendo a baunilha. Se bem que, sob o ponto de vista médico, é um mau sinal… Nosso grande José de Alencar, que não era íntimo da medicina, nem chegou a assistir ao seriado “Dr. House” (criado cento e vinte e cinco anos depois de sua morte) não sacou que hálito doce é problema de diabetes.

Mas voltemos às novelas. Que delícia beijo matutino antes do desjejum! Sem compostos sulfurosos escapados do estômago, sem saburra lingual, boca fresquinha tipo Kolynos. As novelas garantem.

Aprendi que filho substitui psicólogo e psiquiatra. Com uma penca deles então, não há trauma que sobreviva, não há lembrança que obscureça a felicidade, porque ser mãe é tudo o que a mulher deseja.

Aprendi que a vida nos morros é friboi, digo, friboa… Opa! Tri boa! Churrasco na laje e muito funk em meio a mulheres popozudas que compartilham homens de muitos músculos e pouco cérebro.

Aprendi que não é preciso trabalhar para se ter dinheiro. Ele jorra que nem “petróleo” nas contas abertas em paraísos fiscais. E não é preciso fazer música de verdade para se ter sucesso. É só dizer duas palavras com algum ritmo e se contorcer que nem lagosta no óleo quente. E a coisa vira hit.

Aprendi que a gente não deve conversar. O bom mesmo é gritaria, barraco, histeria.

Aprendi que a morte absolve o bandido bonito e que ele vira herói, com direito a homenagens
e tudo.

Aprendi que a troca de casais é salutar, pois serve para o crescimento, o amadurecimento pessoal, o encontro do eu interior consigo mesmo e com o outro.

Aprendi que as novelas educam – a gente fantasia a vida e acaba esquecendo coisas sem importância como a situação política e econômica do país.

Parafraseando Fernando Pessoa, aprendi que novela vale a pena se a alma não for pequena. Afinal é questão de escolha. O povo tem o direito de escolher o programa que os canais abertos escolhem, sob medida, para ele. Melhor que as novelas só mesmo os realities shows.

Bom, está na hora de me explicar porque vejo novelas. Poderia citar dezenas de razões, começando por… pela… quer dizer, “eu também não sei, mas supondo que eu soubesse, eu diria, sei lá, entende?!”