Dia Internacional da Mulher Rural foi instituído pela Organização das Nações Unidas em 1995, com o objetivo de destacar a importância mundial sobre o papel da mulher que trabalha na área rural

Durante décadas, alguns trabalhos, principalmente os braçais, foram desempenhados exclusivamente pelo sexo masculino. Entretanto, cada vez mais mulheres estão ocupando espaço em todos os segmentos. A área rural é um exemplo onde a representatividade feminina está em constante crescimento. Por isso, a Organização das Nações Unidas (ONU) determinou que no dia 15 de outubro é celebrado o Dia Internacional da Mulher Rural, para conscientizar sobre a importância da mulher que trabalha no campo.

Vanusa Candaten é um destes exemplos. Aos 36 anos, se orgulha por exercer com amor vários importantes papéis. É mãe de duas meninas, esposa e há oito anos agricultora. Contudo, o começo não foi tranquilo. Ainda jovem, com 14 anos, aconselhada pelos pais, que eram colonos e sabiam das dificuldades, foi trabalhar na cidade, onde permaneceu.

Alguns anos depois, quando a primeira filha nasceu, o marido, Anderson Mattiello decidiu largar o emprego em uma fábrica de móveis para trabalhar em parreiras, enquanto ela era costureira. Porém, precisou ajudar o esposo com o trabalho rural. Migrar para o interior e tornar-se uma mulher do campo foi um processo demorado e difícil.

Vanusa Candaten

Inicialmente, Vanusa não tinha gosto pelo que fazia. A tristeza era tanta que desenvolveu depressão. “Quando começamos, eu chorava muito, odiava a roça. Fazia tudo reclamando, porque para mim, tudo era ruim, os mosquitos, o sol. Toda semana tinha psicóloga, fazia terapia”, lembra.

A mudança positiva aconteceu quando o casal decidiu, há seis anos, se mudar para a Linha Ferri, no interior de Bento Gonçalves, onde já tinham uma área de terra, para trabalharem por conta própria. No novo local, surgiu uma nova vida e uma nova mulher. “Aqui, comecei a ver tudo de forma diferente. Este lugar é um paraíso. Amo morar aqui, viver do jeito que vivemos”, destaca.

O que antes era motivo para choro, transformou-se em sorrisos que revelam o amor que sente pela agricultura. “Minha filha diz que a gente trabalha demais, mas é gostoso, gratificante. Por mais que as vezes tenhamos dificuldades, é muito bom, gosto bastante daqui e do que faço”, afirma.

Quando questionada se voltaria a morar e trabalhar na área urbana, Vanusa nem precisa pensar para responder. “Não, nunca. Quando olho para tudo que fizemos aqui, nestes anos, o quanto trabalhamos, tenho certeza que não largaria de jeito algum. Quando vou para a cidade não vejo a hora de voltar para casa. Amo essa calmaria, essa paz”, garante.

Rotina puxada, mas feliz

Vanusa acorda cedo, entre 5h30 e 6h. Gosta de tomar chimarrão pela manhã. Logo depois o “expediente” começa. “Tratamos os animais, os cachorros, galinhas, porcos. Em seguida, vou para a estufa ou fora dela, se tem algum outro serviço”, conta.

Lá pelas 11h ela volta para a residência para preparar o almoço da família e arrumar a filha mais nova, Emanuelle, que vai para a escola durante a tarde. “Essa hora fico bem atucanada, porque é muito corrido. Depois de comer, descanso um pouquinho e volto para a roça”, afirma.

O trabalho encerra geralmente às 18h, quando todos retornam para casa. “Tomamos banho, mais um pouco de mate e como não temos o hábito de jantar, como a maioria do pessoal, vamos dormir cedo, lá pelas 21h. Essa é nossa rotina. Não é ruim, gosto de trabalhar”, garante.

O único tempo livre da profissional é no domingo, dia dedicado exclusivamente para aproveitar a família. “É o dia que não trabalho. Então, gosto de fazer um chimarrão, sentar na grama, comer pipoca ou olhar um filme. É um dia de lazer, mas o único, porque sábado de manhã trabalho normalmente e de tarde faço pão ou levo a filha na catequese”, conta.

Hoje, Vanusa considera fundamental ter ao menos algumas horas de descanso e valoriza esses momentos. “Houve épocas em que a gente precisava trabalhar de domingo a domingo, eu ficava muito triste, porque gosto de ter pelo menos um dia livre”, defende.

Importância da mulher do campo

Para Vanusa é muito importante ter as mãos femininas no trabalho agrícola. “Vejo aqui na região onde moramos que todas as minhas vizinhas são muito trabalhadoras. Quando vim para a colônia, não imaginava que a mulher da roça trabalha tanto. Não tem tempo ruim, se tem que passar veneno, ela vai. Se tem de roçar, ela vai. Por mais que seja um trabalho pesado, tem que ter um olhar feminino”, frisa.

Feliz e realizada com as escolhas que fez, ela já consegue visualizar o futuro no campo. “A mulher da colônia se dedica para fazer biscoito, massa, na casa delas sempre tem fartura de comida, porque elas conseguem fazer isso. Pretendo, daqui uns anos, dedicar minhas tardes para fazer biscoito e grostoli”, sorri, ao fazer a afirmação.

Do Nordeste para a agricultura de Bento

É com orgulho, que Maria Marcela Oliveira Sadovnhik, 38 anos, conta que veio de Aracajú para o Rio Grande do Sul. Aos 14 anos casou com um gaúcho e veio residir em Bento Gonçalves. “Começamos uma vida muito batalhadora, com aquela idade eu não sabia fazer nada, mas me esforcei, lutei para chegarmos onde chegamos e queremos chegar ainda mais longe”, afirma.

Junto com o marido, Aldoir Miguel Sadovnhik, ficaram um ano trabalhando na cidade, naquela época. “Depois, meu esposo disse que ia começar a trabalhar com agricultura, eu chorei, porque não queria”, lembra.

Maria Marcela Oliveira Sadovnhik

O casal começou trabalhando como funcionários de proprietários de parreiras. Hoje, eles têm a propriedade deles, onde produzem tomate. “O esforço é muito grande, mas o que a gente tem hoje é graças ao nosso trabalho. Só peço a Deus que tenhamos força para continuar batalhando”, declara.

Embora ache importante, por enquanto a agricultora não consegue ter um dia de folga. “Meu dia começa às 6h, horário que acordo. Vivo mais na roça do que na minha casa. Trabalho de domingo a domingo, principalmente agora, com esse tempo chuvoso, o serviço acumula, não conseguimos vencer”

Ainda que julgue trabalhoso, a agricultora se diz feliz com o trabalho que desempenha. “O tomate dá muita mão de obra, tem que ter amor para trabalhar com ele, são 18 anos trabalhando com isso, é muito tempo. Às vezes a gente até pensa em desistir, mas quando vejo a plantação bonita, dá um alivio de ver que o trabalho foi compensado”, garante.

Para os próximos anos, ela espera, com fé, que tenha forças e condições de continuar neste ramo. “Espero que Deus continue dando o alimento para a gente produzir, porque tem muitas dificuldades e desafios na roça, mas quero continuar”, finaliza.