Antes que aparecesse o chiclete americano, a gurizada já se entretinha, marcando a rósea resina do dadivoso pinheiro. O duríssimo nó, que nunca apodrece, além de ser utilizado nas estufas para aquecer mansões, é também utilizado pelos artistas para esculpir imagens. Os artífices xilográficos de Treze Tílias, em Santa Catarina, descobriram que os enormes nós provenientes de antiquíssimos e agigantados pinheiros se prestavam admiravelmente para esculpir o rosto e cabeça de cristo coroado de espinhos, (o cristo de madeira do santuário Santo Antônio de Bento Gonçalves), servem também para representar as meigas e expressivas imagens de Nossa Senhora Mãe de Deus ou outros santos. Conforme o terreno que esta araucária nascia, desenvolvia-se ora mais, ora menos. Mas onde o terreno era fértil, desenvolvia-se de forma gigantesca, atingindo 25 e até 30 metros de altura, precisando uns três homens para abraça-lo. Em 1887, um imigrante morou durante muitos meses dentro de um pinheiro caído e oco.

Lamentavelmente, nem toda essa preciosa madeira foi corretamente aproveitada. Muita coisa foi esbanjada, desperdiçada. Em geral utilizava-se uma parte do tronco de 5m 50cm, com, no máximo, dois cortes; a parte superior, onde apareciam os nós, era desprezada. Em muitas serrarias apodreceram milhares de tábuas por falta de comércio ou meio de transporte. Em diversas serrarias nos atuais municípios de Erechim e Getúlio Vargas, na década de 1920, por falta de preço compensador e carência de vagões para transportá-las para São Paulo, nas estações de Erebengo, Jacutinga e Capoe-rê, apodreceram umas 24 mil tábuas. Quando os agricultores faziam as roças, não tinham como aproveitar a madeira de lei, e assim milhares de pinheiros terminaram em adubo.

Os agricultores, observando esta árvore providencial, aprenderam que o pinhão não escolhe local para nascer; onde caísse, tratava de crescer e produzir suas pinhas, seus frutos. Eles também, onde estavam, deveriam prosperar. Percebiam que, em dias de vento ou quando soprara o gélido e persistente minuano, os pinheiros mantinham-se firmes e em prumo, nunca procediam como taquaras que se inclinavam como qualquer outros arbustos. Porém, quando sobre elas desabava a tempestade, ou a violência dos ciclones, eles se partiam, mas não se curvavam. Essa atitude dos pinheiros ensinou-lhes a firmeza, a perseverança na dureza da luta que estavam travando e assim os levou a vencerem. Sem essa utilíssima dádiva generosa de Deus, os imigrantes teriam passado inúmeras privações. O que o maná representou para os israelitas, nos 40 anos de deserto, aqui foi o pinheiro para os agricultores. Como justa gratidão, todos os que possuem terras na região serrana, em parte deveriam repovoá-las com pinheiros, pois eles ajudaram os imigrantes do berço, na alimentação até o túmulo…