Clacir Rasador

De um momento pra outro, o mundo passou a incluir um novo acessório às suas vestimentas, a máscara toma espaço no varal da vida.

De repente a pecha “mascarado” conhecida como conceito de “duas caras”, “fazido” como dizem os jovens, passou a ter hoje também um outro sentido, ou seja, medida de segurança, interpretado até mesmo como um ato de Amor ou se assim não o for com tamanha intensidade, revela-se no mínimo, um cuidado a si próprio e aos outros.

A propósito, não somente nossa saúde segue desafiada, também o Amor o foi, mas este, em resposta rápida tal qual a lança do próprio cupido, demonstra que o verdadeiro AMOR não se deixa aprisionar pela distância, não usa correntes, mas sim aliança – mesmo que virtual – e porque não, uma suave e leve máscara do bem.

Se ontem os poetas cantavam o Amor em prosa e verso somente pelo toque, pela união dos corpos, haverão de incluir em suas rimas, que até mesmo o distanciamento fôra um dia, uma declaração de Amor.

Por quanto o uso da máscara tem sido o melhor “para -choque” contra o coronavírus, o efeito catalisador desse parasita microscópico no comportamento interpessoal, agiu de outra forma, ou seja, arrancou a máscara, desmascarou, não a face, mas o caráter, a espinha dorsal da alma do ser humano.

Atitudes contrárias a própria proteção e a de seus semelhantes, tem revelado que parte da sociedade, se deixa inserir no conceito comunidade somente quando melhor lhe convém. Mas, efetivamente, não sabe conviver com o sentido da preservação dos seus, da sobrevivência coletiva, sendo estes costumes e hábitos trazidos da pré-história, de gerações a gerações até aqui, embora, diga-se, com uma bagagem bem menor se comparada ao tempo de sua história.

Onde se perdera esse nobre sentimento? Talvez pelas escadas ou melhor, ladeiras dos efeitos do progresso e da autossuficiência do egoísmo.

Aliás, o egoísmo em certos casos é doentio, chega ao disparate de não conformar-se com o erro do outro que gerou um mal a si e aos seus, fecha-se a tal aprendizado gratuito e escolhe o caminho do erro com assinatura própria, com design exclusivo, ou seria pedigree? Prefere errar por si o que poderia ter aprendido pelo erro dos outros; o cúmulo do egoísmo, falta de inteligência ou simplesmente autodestruição?

E a máscara, voltemos a ela. A cultura indígena dentre algumas explicações, remete o uso da máscara para afastar os maus espíritos, os quais, portanto, devem estar nestes tempos pra lá de apavorados.

Pode-se dizer que poderosas são as máscaras, em especial o uso das mesmas, seja elas para o bem, seja elas para o mal.

Contudo, entendo que as máscaras que representam a existência do mal são pesadas, forçam nosso semblante para baixo, não nos deixam sequer a possibilidade de nos conhecer pela leitura da janela das almas – os olhos- e tendem a quebrar o varal da vida, romper relações, criar problemas e seu peso, definitivamente, não adere ao rosto humano tão facilmente.

Por outro lado, a leveza das máscaras do bem no combate a pandemia, tem revelado a face da caridade, do melhor do ser humano, desde o gesto mais simples do uso da máscara até o mais sublime dos gestos que nos aproxima da santidade: colocar em risco a própria vida em razão da cura e alento dos que sofrem por tal doença.

A máscara do bem tem escondido doadores anônimos à maior causa humanitária dos últimos cem anos e a exemplo destes, tem despertado a caridade nas almas adormecidas em relação ao próximo; e quero crer, tem lembrado a humanidade de sua origem, a qual aos poucos, seja pela dor, seja pelo amor, vai redescobrindo a sua essência, imagem e semelhança divina, cujo peso da máscara, jamais será capaz de encobrir. Saúde!