Mesários ganham benefícios como auxílio-alimentação e dias de folga, e desempenham um papel importante no processo democrático

Nas eleições, o trabalho dos mesários é essencial para garantir a integridade e o bom funcionamento do processo democrático. Eles são os responsáveis por assegurar que tudo corra de maneira organizada e transparente, desde a abertura das urnas até a contagem dos votos. Mas o que motiva essas pessoas a se dedicarem a essa tarefa, muitas vezes em um domingo que poderia ser de descanso? O Semanário fala com Bruna Barbieri e Paula Maria Cristofoli, duas mulheres que desempenham papéis fundamentais como mesárias, para entender melhor suas experiências e perspectivas.

Bruna Barbieri, secretária na Universidade de Caxias do Sul (UCS), foi convocada para ser mesária pela primeira vez aos 18 anos, logo após a sua primeira experiência eleitoral aos 16 anos, no referendo sobre o desarmamento. “Quando fui convocada a primeira vez, era tudo novo. Compreender a mesa, os códigos para iniciar a urna, finalizar e imprimir a zerésima (boletim que é impresso antes de iniciar as eleições para comprovação que não há votos na urna). Foi uma experiência diferente e que fez me sentir útil à minha comunidade”, relembra Bruna, que já está há 18 anos atuando como mesária.

Ao longo dos anos, Bruna continuou a se voluntariar como mesária, motivada pela interação com a comunidade. “A minha seção é uma das mais antigas da cidade, e com o passar dos anos criamos uma equipe legal. É um domingo diferente, onde revemos pessoas e observamos como elas mudam ao longo dos anos”, destaca. Além disso, ela menciona as lembranças recebidas dos eleitores, como um carinho extra que torna o trabalho ainda mais gratificante.

Por outro lado, Paula Maria Cristofoli, que este ano atuará como presidente de mesa na seção 049, em Linha Alcântara, Bento Gonçalves, também compartilha sua experiência. Paula já trabalhou por seis turnos como mesária e, este ano, será presidente pelo segundo turno consecutivo. Para ela, ambos os cargos são essenciais para o bom funcionamento do processo eleitoral, mas ela reconhece a maior responsabilidade que recai sobre o presidente de mesa. “O presidente deve zelar pela preservação da urna e da embalagem, pois, ao fim da votação, a urna será novamente acondicionada e entregue à Justiça Eleitoral”, explica.

Diferentes funções que se complementam

Para o processo eleitoral funcionar sem problemas são necessários diversos profissionais. Por isso, no dia da eleição não há somente um mesário, mas também o presidente da seção e o secretário, assim como existem o 1° mesário e o 2° mesário, que substituem o presidente na sua ausência.

Claro que substituir o presidente não é a única função dos mesários. Paula destaca as diferentes responsabilidades dos mesários e presidentes de seção. “Os mesários têm a responsabilidade de conferir a documentação dos eleitores, controlar o registro de votação e também de habilitar a urna eletrônica para o voto, esta participa de um treinamento no Tribunal Regional Eleitoral onde vive, para que tenha o preparo necessário para desempenhar essas funções. Já a presidente possui uma responsabilidade maior e deve manter a ordem na seção, dispondo da força pública quando necessário; pode verificar as credenciais dos fiscais; iniciar e encerrar a votação; resolver as dificuldades e esclarecer as dúvidas que ocorrerem; adotar os procedimentos para a emissão da zerésima; providenciar a entrega dos materiais à junta eleitoral; romper o lacre do compartimento da mídia de gravação de resultados da urna e retirá-la, colocando novo lacre; emitir as vias do boletim de urna e do boletim de justificativa; verificar se a urna e os cadernos de votação correspondem à zona eleitoral e à seção; verificar a data e o horário registradas na urna; zelar pela preservação da lista de candidatos; zelar pela preservação da urna e da embalagem, pois, ao fim da votação, a urna será novamente acondicionada e entregue à Justiça Eleitoral e também deve zelar pela cabina de votação”, salienta.

Já o secretário de seção eleitoral é responsável pelo preenchimento da ata da mesa receptora de votos, relacionando as ocorrências registradas no dia, além de orientar os eleitores na fila e verificar se pertencem àquela seção, conferindo seus documentos; controlar a entrada e a movimentação das pessoas na seção; verificar o correto preenchimento do formulário ‘Requerimento de Justificativa Eleitoral’; verificar se o eleitor, ao sair, recebeu o documento de identificação e o comprovante de votação e distribuir aos eleitores, às 17 horas, as senhas de entrada.

Comprometimento

Apesar das responsabilidades, Paula nunca enfrentou grandes desafios em sua seção, graças à consciência e ao comprometimento dos eleitores locais. Ela ressalta a importância das eleições municipais para a consolidação da democracia, que reflete diretamente na vida das pessoas ao eleger representantes que atendam às suas necessidades. “Além de oficializar a escolha dos novos representantes locais, as eleições municipais são fundamentais para a consolidação da democracia e refletem diretamente na vida das pessoas. Através do voto, a população tem o poder de moldar o futuro de suas comunidades, bairros, elegendo representantes que atendam às suas necessidades e aspirações”, salienta.

Uma das experiências mais marcantes para Paula é a participação dos idosos. “É realmente inspirador ver o compromisso dos idosos com o processo eleitoral, mesmo quando não há necessidade obrigatória para a votação. A presença deles nas urnas é um testemunho da importância que atribuem ao exercício da cidadania e ao futuro do país. Esse engajamento demonstra uma profunda compreensão da responsabilidade cívica e um desejo sincero de construir para o bem coletivo, mesmo após uma vida de experiências e desafios. Para muitos, a votação é uma forma de continuar participando ativamente da sociedade e de expressar suas esperanças e preocupações para as novas gerações”, observa.

Já Bruna observa também as diferenças entre a maneira de votar dos idosos e jovens. “Com o passar dos anos, percebi a mudança do papel para o digital, somente os mais antigos ainda vem com documentos impressos, os mais jovens, não generalizando, já vem com o e-título, título digital pelo celular”, revela.

Experiências marcantes

Bruna conta situações inusitadas que aconteceram durante eleições: “duas situações que foram reversíveis, uma delas, tínhamos o nome de um eleitor igual o de um ex-prefeito, e ficamos com dúvida, pois o mesmo já havia falecido. Quando o eleitor de fato chegou, ele mesmo disse que já estava habituado com a situação, e que sempre levava os documentos que provavam ‘que ele era ele’ para poder assinar ou até mesmo votar”, comenta.

Ela continua: “Outra situação foi de um candidato que já havia passado por investigação, o mesmo ‘encheu’ de santinhos embaixo da urna, porém já conhecemos algumas figuras (pois não era a primeira vez que ele fazia isso), tanto santinhos dele quanto de candidatos do partido dele, sempre verificamos a urna durante o dia, para evitar esse tipo de situação que pode inclusive, induzir o voto”, conta.

Ela conta que uma das coisas que ouve todos os anos, é que muitos já nem procuram mais a sua seção. “Eles procuram por mim na mesa, assim já sabem onde é seu local de votação. Falam, que quando eu sair, vão ter que procurar o título para achar sua seção”, diz rindo.

Missão

Para quem está considerando se voluntariar como mesário pela primeira vez ou que foi convocado, Bruna deixa um recado: “toda experiência é válida. As pessoas acreditam que é um domingo perdido, mas a interação com as pessoas de diferentes idades, de diferentes opiniões, faz pensar no que realmente queremos para nossa cidade e para nosso país. A partir do momento que se é convocado, é preciso fazer desse dia um momento em que se possa mudar o nosso futuro como cidadão”, pontua.

Bruna conta que esses 18 anos impactaram a sua forma de ver o processo democrático. “Tenho na minha seção, candidatos à próxima eleição e cidadãos comuns, e é bem característico a forma de tratamento nessa época. Não sejam esse tipo de pessoa que só aparece nesse momento, seja visível em todo o processo dos 4 anos, eu creio que esse período mostra também quem é passível de reeleição e quem não é. O voto é muito importante, propagar informações falsas é crime. Eu vejo a urna como uma forma segura, e o fato de ‘lidar com ela’, sem acesso à internet, faz com que o processo democrático se mostre inteligente e igualitário, perante o povo votante”, finaliza.

Sobre a importância de ser mesária, Paula destaca que em tempos de crise, quando a desconfiança e o desinteresse podem ser altos, o ato de servir como mesário se torna um símbolo de compromisso com a democracia e a justiça. “Além dos benefícios legais, ser mesário é um serviço crucial que garante a integridade do processo eleitoral. A presença de cidadãos engajados ajuda a assegurar que as eleições sejam conduzidas de maneira justa e transparente, reforçando a confiança no sistema democrático. Participar ativamente das funções eleitorais é uma maneira de influenciar positivamente o estado, o país e até mesmo o mundo, demonstrando que a mudança começa com ações concretas e a participação cidadã. A contribuição de cada indivíduo pode fazer uma grande diferença na construção de um sistema mais justo e eficiente”, ressalta.

Ela finaliza falando que quando participamos do processo eleitoral, seja como eleitores ou como mesários, estamos exercendo nossa cidadania de forma ativa e contribuindo para o fortalecimento das instituições democráticas. “Cada voto conta e cada participação ajuda a garantir que o sistema funcione de maneira justa e transparente. O envolvimento no processo eleitoral não só fortalece a democracia, mas também demonstra um compromisso com a construção de um futuro melhor. É através da colaboração e do engajamento coletivo que conseguimos enfrentar desafios e buscar soluções para os problemas da sociedade. Assim, o exercício da cidadania se torna uma forma poderosa de afirmar a importância de cada indivíduo na transformação e no progresso da nação”, conclui.

Mesários 2024

Para este ano, o total de mesários é de 1.152 nos municípios de Bento Gonçalves, Monte Belo do Sul, Pinto Bandeira e Santa Tereza. As informações são do cartório da 8ª Zona Eleitoral que abrange estes municípios.

Ricardo de Abreu, chefe do cartório da 8ª Zona Eleitoral e Analista Judiciário no Tribunal Regional Eleitoral do RS, evidencia que o número de mesários se manteve. “Apesar de termos algumas poucas seções a mais em relação a eleição passada, este ano algumas delas funcionarão com três mesários e não com quatro, como é o normal”, pontua.

Ele destaca os benefícios de ser mesário, fazendo um convite ao voluntariado para os próximos anos. “Os mesários não são remunerados, mas têm vários benefícios: ‌dias trabalhados podem contar como horas complementares em cursos universitários; vantagem no desempate de concursos públicos (se previsto no edital); auxílio-alimentação de R$ 60 por turno trabalhado e direito a dois dias de folga por cada dia trabalhado, ao concluírem o treinamento”, finaliza.